“Decidimos, depois de retirar o Presidente, que atualmente está connosco (...), dissolver a Constituição em vigor e dissolver as instituições; decidimos também dissolver o Governo e fechar as fronteiras terrestres e aéreas”, disse um dos membros do grupo envolvido num alegado golpe de Estado e que se apresentou de uniforme e armado numa declaração divulgada nas redes sociais, mas não transmitida pela televisão nacional.
Os golpistas, que confirmaram à AFP a origem do vídeo, divulgaram imagens do Presidente, nas quais lhe perguntam se foi maltratado, tendo Alpha Condé, vestido com calças de ganga e camisa e sentado num sofá, recusado responder.
Guinea-Conakry special forces say they have detained President pic.twitter.com/pcZxsDFCTa
— Jean Paul Lukamba (@JeanLukamba) September 5, 2021
Por seu lado, o Ministério da Defesa afirmou, em comunicado, que “os insurgentes (tinham) semeado o medo” em Conacri antes de tomarem o palácio presidencial, mas que “a guarda presidencial, apoiada pelas forças de defesa e segurança leais e republicanas, conteve a ameaça e repeliu o grupo de atacantes”.
Hoje de manhã foram ouvidos tiros de armas automáticas no centro de Conacri, capital da Guiné-Conacri, e muitos soldados eram visíveis nas ruas, segundo relataram várias testemunhas à agência AFP.
Nenhuma explicação foi inicialmente disponibilizada sobre as razões para esta tensão na península de Kaloum, no centro de Conacri, onde estão localizadas a presidência, as instituições e os escritórios comerciais.
No entanto, moradores em Kaloum, contactados por telefone, relataram um tiroteio prolongado e disseram ter visto muitos soldados a ordenar às pessoas que voltassem para as suas casas e que não saíssem à rua.
Um diplomata ocidental adiantou à agência de notícias francesa AFP considerar “sem qualquer dúvida” que estava em curso uma tentativa de golpe, liderada por forças especiais guineenses.
A oposição tem feito circular, nas redes sociais, vídeos em que afirma que os tiros foram disparados por moradores e que os fortes tiroteios ressoam nas ruas.
Guterres condena golpe na Guiné-Conacri e pede libertação de Presidente
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou hoje "qualquer tomada de poder" na Guiné-Conacri "pela força das armas", depois de forças especiais do país terem afirmado que capturaram o Presidente e dissolveram as instituições.
Guterres apelou ainda, numa publicação no Twitter, "à libertação imediata do Presidente Alpha Condé" e disse que está a seguir a situação na Guiné-Concari "de muito perto".
As forças especiais da Guiné-Conacri afirmaram hoje ter capturado o Presidente Alpha Condé e “dissolvido” as instituições, num vídeo enviado à agência de notícias AFP, enquanto o Ministério da Defesa garantiu ter repelido a tentativa de golpe.
União Africana condena golpe de Estado
A União Africana (UA) condenou hoje o golpe de Estado na Guiné-Conacri, no qual o presidente Alpha Condé foi detido por militares a quem a organização continental exigiu a sua "libertação imediata".
Num comunicado conjunto, o atual presidente da UA, o Chefe de Estado da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, reprovaram "qualquer tomada de poder pela força".
Ambos os líderes exigiram também a "libertação imediata" de Conde, e instaram o Conselho de Paz e Segurança e da Organização Pan-africana a reunir-se "urgentemente para examinar a nova situação na Guiné e tomar as medidas apropriadas, dadas as circunstâncias".