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Quarta, 19 Agosto 2020 17:31

Militares que tomaram o poder no Mali prometem eleições gerais

Os militares que forçaram o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, a renunciar prometeram nesta quarta-feira (19) implementará uma transição para um governo civil e organizará novas eleições no país africano em "período de tempo razoável".

Na noite de terça-feira (18), Ibrahim Boubacar Keita, conhecido como "IBK", anunciou, após sua prisão no início do dia, que deixou o poder e dissolveu o parlamento. O primeiro-ministro, Boubou Cissé, também foi detido. A tomada à força do poder foi condenada pela comunidade internacional.

Nesta quarta, os soldados amotinados identificaram-se em declaração transmitida pela emissora estatal ORTM como pertencentes ao Comitê Nacional para a Salvação do Povo liderado pelo coronel Maj Ismael Wagué.

O coronel assegurou que todos os acordos internacionais ainda serão respeitados e que as forças internacionais, incluindo a missão da Organização das Nações Unidas (ONU) no país e o G5 Sahel, permanecerão no local "para a restauração da estabilidade".

Cercado por soldados, Wagué afirmou que os amotinados tomaram medidas para impedir que a crise no Mali se aprofunde. "Nosso país está afundando no caos, anarquia e insegurança, e a culpa é principalmente das pessoas que são responsáveis ​​pelo seu destino", declarou.

O líder do motim ainda convidou a sociedade civil e partidos políticos malineses a aderir ao movimento a fim de estabelecer as condições para uma transição política e possibilitando novas eleições.

O motim

O motim começou em uma guarnição na pequena cidade de Kati — a mesma onde teve início o movimento que derrubou o governo malinês em um golpe em 2012, que ocorreu em circunstâncias semelhantes. Na ação, os soldados se armaram e prenderam outros militares de patentes mais altas.

Os militares cercaram a casa do presidente e efetuaram tiros para o alto, de acordo com a Associated Press. Keita foi preso. Imagens mostraram soldados comemorando nas ruas da capital, Bamako.

Mais tarde, vestindo uma máscara por causa da pandemia de novo coronavírus, Keita fez pronunciamento transmitido pela rede de televisão estatal para anunciar que renunciava ao poder. No discurso, o presidente deposto externou a pressão dos militares amotinados: "Tenho outra opção?", indagou.

"Não quero que sangue seja derramado para que eu fique no poder", disse Keita.

Reação internacional

O motim de terça-feira desencadeou um conjunto de reações internacionais. França e outros países temem que a queda de Boubacar Keita desestabilize ainda mais o Mali e a Região do Sahel como um todo.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, pediu a libertação imediata do presidente malinês. O Conselho de Segurança da instituição fará uma reunião de emergência nesta quarta-feira sobre a crise.

 

Instabilidade no Mali

O incidente agrava a crise no país, que enfrenta protestos contra a estagnação econômica, contra corrupção, além de uma violenta insurgência islâmica.

Há dois meses, o Mali tem protestos considerados sem precedentes que pediam a saída de Boubacar Keita. Eleito pela primeira vez em 2013, o presidente se reelegeu em 2018 com apoio da França — país que colonizou o território — e de aliados ocidentais.

A coalizão M5-RFP, formada por líderes religiosos, políticos e da sociedade civil e na origem desse movimento de protesto, mostrou seu apoio aos militares. Seu porta-voz, Nouhoum Togo, disse à Reuters que os eventos recentes "não foram um golpe militar, mas uma revolta popular".

A instabilidade no Mali preocupa pelo ressurgimento de facções extremistas islâmicas, sobretudo no norte do país que já foi considerado modelo regional de democracia.

O golpe militar que derrubou o presidente Amadou Toumani Touré em 2012 acelerou a tomada de controle do norte do Mali pelos jihadistas, que atacaram bases militares mais de uma vez nos últimos anos. A ação dos terroristas aumentou a irritação de soldados com o governo.

Em junho, um ataque a um povoado centro do país deixou 26 mortos. Autoridades malinesas acusaram um grupo liderado por Fulani Amadou Koufa, pregador extremista islâmico que vem recrutando pessoas a uma aliança jihadista aliada do grupo terrorista Al-Qaeda.

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