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Quinta, 16 Junho 2016 10:47

Polícia aperta o cerco à venda de dólares nas ruas de Luanda

O preço de um dólar norte-americano nas ruas de Luanda manteve-se nos últimos dias perto dos 600 kwanzas (3,6 euros), três vezes e meia acima da taxa oficial, mas a ação da polícia começa a limitar o negócio.

Numa ronda feita hoje pelas ruas da capital angolana, a agência Lusa confirmou que vários locais habitualmente conhecidos como de negociação de dólares, ilegal mas a única alternativa face à falta de divisas nos bancos, estão agora visivelmente vigiados por agentes da polícia.

No bairro do Prenda, por exemplo, um dos principais locais de compra e venda de dólares em Luanda, não foi possível nesta ronda encontrar qualquer 'kinguila' - como são conhecidas as mulheres que se dedicam a este negócio - a fazer transação, sendo o comentário mais comum na rua as detenções que a polícia está a fazer.

As ações de fiscalização também são cada vez mais visíveis e a Lusa voltou a constatar que quem vende desconfia de qualquer abordagem, por recear tratar-se de polícias à civil, alegando sempre que a venda que estão a fazer é de "saldo" (recarregamento do saldo do telemóvel) e não de dólares.

Apesar dos receios e da forte apreensão, além da tomada de posições da polícia em alguns sítios de habitual venda de dólares, a Lusa acabou por encontrar quem vendesse dólares. Como no bairro do São Paulo, em que comprar uma nota de dólar custava hoje entre 580 a 590 kwanzas, semelhante os preços praticados no Mártires de Kifangondo, ou dos 570 kwanzas na Mutamba.

A taxa oficial de câmbio está inalterada há várias semanas nos 166 kwanzas por cada dólar norte-americano.

A "falta de dólar" continua a ser a justificação que se ouve nas ruas de Luanda para os preços especulativos de quem vende, que em muitos casos, como trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.

O Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou em maio um "maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira" por parte da polícia.

A preocupação com as consequências da situação atual foi enfatizada na terça-feira pelo chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Luanda a conduzir negociações, ainda não concluídas, para um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano.

Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se, recordou, em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

"Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do Banco Nacional de Angola [BNA], para diminuir a pressão que existe", apontou Ricardo Velloso.

Admitiu igualmente que as "restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial", tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, "constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas" e "precisarão de ser levantadas gradualmente".

"A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo", apontou Velloso.

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas - moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares - caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014, cifrando-se em maio nos 24.408 milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros).

© Lusa

 

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