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Segunda, 14 Setembro 2015 07:14

Subida do preço dos combustíveis dificulta vida dos ‘candongueiros’ de Luanda

São milhares e fazem-se ao volante e à estrada pelas 05:00, terminando o serviço de táxi, transporte público informal angolano, pelas 19:00, mas levam para casa cada vez menos dinheiro, devido ao aumento do preço dos combustíveis.

Nas ruas de Luanda, por entre estas viaturas pintadas de azul e branco, ainda vale aos ‘candongueiros', como alguns destes motoristas são conhecidos pelas correrias e manobras perigosas na estrada, todo o lucro de um dia por semana, que pode rondar os 15.000 kwanzas (100 euros), o acordo mais comum com os patrões.

Esse dinheiro, explica à Lusa o taxista Pedro Agostinho, resulta da cobrança de cada viagem, 100 kwanzas (70 cêntimos de euro) por passageiro, para percursos pré-definidos dentro de Luanda, mas sem paragens fixas. Ou seja, param sempre que há passageiros para entrar ou sair, e de olho nos agentes reguladores de trânsito, por sua vez prontos a multar.

"Atendendo ao combustível e à lavagem, acredito que levo 500 ou 1.000 kwanzas [cerca de 5 euros] em casa por dia", conta o taxista, recordando que desde Setembro de 2014 que os custos com os combustíveis quase duplicaram, enquanto a tarifa cobrada, tabelada, permanece inalterada.

Um destes táxis, imagem característica de Luanda e que assegura a mobilidade de milhões de pessoas, pode facturar entre 20.000 a 25.000 kwanzas (180 euros) por dia. Deste total, o motorista, que conta também com um cobrador para o auxiliar, ainda retira à volta de 7.000 kwanzas (50 euros) para pagar o combustível do dia.

O resto do lucro diário, cinco dias por semana e sempre um valor fixo, é para pagar ao "patrão", o proprietário da viatura. O pouco que agora sobra é para dividir pelo pessoal do táxi e só o lucro do sexto dia da semana é que é para o ‘candongueiro', que ainda dá uma parte ao cobrador.

"Mas há muito desgaste para nós, físico e financeiro. Damos a diária ao patrão, 14.000 kwanzas [100 euros], pagamos o combustível, 7.000 kwanzas, por isso tenho que me esforçar para fazer 21.000 kwanzas [150 euros, por dia]. A subida dos combustíveis só veio prejudicar-me", desabafa Pedro Agostinho, taxista em Luanda há oito anos.

Cada uma destas viaturas pode transportar cerca de 14 passageiros de cada vez e o taxista Latão do Gueto, como todos os outros dias, está na estrada desde as 04:30, para ligar o centro de Luanda ao aeroporto da capital.

"Agora temos esses quadradinhos [milhares de novos modelos de Toyota Hiace em circulação] a gasolina, que também nos gastam muito combustível. Normalmente temos feito a conta do patrão [pagamento diário] e levamos para casa 1.000 kwanzas, somente para contentar as panelas", conta Latão.

Por isso, e em plena altura de crise no país devido à quebra das receitas do petróleo, diz que a solução passa por baixar o preço dos combustíveis para estes profissionais.

"Para ver se ganhamos qualquer coisa", atira, antes de partir para nova "corrida", referindo-se à viagem ligando ao bairro de São Paulo.

Domingos Sousa trabalha igualmente 14 horas por dia, até às 20:00, conduzindo o carro do patrão nas mesmas condições dos restantes colegas de profissão.

Os três aumentos de preço dos combustíveis em menos de um ano afectaram-lhe as contas diárias, levando muito menos dinheiro para casa ao fim do dia: "A gasolina é que está a nos fatigar", garante, admitindo que também já tentou negociar uma redução na verba paga diariamente ao patrão.

Em Angola, cada litro de combustível custa actualmente 115 kwanzas (81 cêntimos de euro) enquanto o gasóleo está nos 90 kwanzas (63 cêntimos de euro). No espaço de sete meses subiram respectivamente 91% e 125%, devido à retirada dos subsídios públicos que permitiam manter os preços baixos.

Além dos custos com a gasolina, e que torna o negócio "meio complicado", o taxista André Luís já receia por "novos aumentos" que lhe tirem o pouco que já leva para casa ao fim do dia.

Ainda assim, e como bom angolano, lá atira: "Dá sempre para fazer qualquer coisa, desde que não fique parado".

Lusa

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