Os dados avançados por aquela instituição apontam para um investimento dos angolanos no estrangeiro, designadamente em Portugal, nos últimos cinco anos, na ordem dos 17 bilhões de dólares. Brasil e África do Sul, em menor escala, são outras das apostas dos investimentos angolanos no estrangeiro. A banca, energia, telecomunicações e mais generalizadamente o imobiliário são os sectores em que o Estado, através da Sonangol e influentes figuras do regime, mais fizeram os seus investimentos.
Em contrapartida, os estrangeiros, desde 2010 até ao ano passado, excluindo o petróleo e os diamantes, não investiram em Angola mais do que 1269 milhões de dólares. “Entre o que é anunciado e a realidade, esses números sugerem que o investimento estrangeiro em Angola não passa de mera intenção”, disse ao Expresso o economista Carlos Rosado.
Decompostos os números mais recentes, fora deste sector e da área dos diamantes, em 2014, contra o anúncio da assinatura de contratos avaliados em mais de mil milhões de dólares, o investimento estrangeiro na prática não passou de 155 milhões de dólares.
O excesso de burocracia, o défice de infraestruturas básicas e as crescentes dificuldades impostas pelo mercado para repatriar dividendos, segundo o consultor Galvão Branco, estão a criar em Angola um ambiente pouco apelativo para atração de capitais externos e internos.
Por outro lado, para alguns analistas, é duvidoso qualificar como investimento a maioria do dinheiro saído de Angola. O antropólogo António Tomás considera que “muito desse dinheiro não é investimento, é simplesmente desvio. É corrupção. Decorre da própria extroversão da nossa economia, virada apenas para o estrangeiro”.
Em Angola, há quem considere este fenómeno como falta de patriotismo. Mas essa crítica encontra poucos adeptos na elite política angolana, tanto a ancorada no poder, como aquela que lhe faz oposição. A primeira acumula e exporta dinheiro, como se Angola fosse acabar em 2017 — ano das próximas eleições. A segunda segue a mesma trajetória.
A verdade é que, segundo um antigo governante angolano ligado à banca desde o tempo colonial, praticamente desde a independência já saíram, de forma fraudulenta de Angola, centenas de milhares de milhões de dólares. O regresso de, pelo menos 10% desse montante, acrescentou, representaria hoje uma boa almofada para a crítica economia do país.
Paul Collier, economista da Universidade de Oxford, explica que há um fluxo ilícito de capitais feito através de importações de contentores “vazios”, evasão fiscal, corrupção e especulação cambial.
Durante os últimos 12 anos, Angola acumulou receitas fiscais petrolíferas na ordem dos 302 mil milhões de dólares. Tendo saído de Angola entre 2013 e 2014 mais de 10 mil milhões de dólares, sem quaisquer retorno de dividendos, a pergunta que o cidadão comum coloca agora é esta: como e onde foi parar este dinheiro?
“Andamos a mostrar na montra aquilo que, afinal, não temos no armazém”, diz o professor universitário Jaime Faria. A preocupação aumenta perante a incerteza que resultará quando terminar o longo reinado de José Eduardo dos Santos, que deverá voltar a ser o “candidato único” do MPLA às próximas eleições de 2017. Para onde irá o país a seguir? É a questão que se impõe.
Por outro lado, sendo Angola vítima de esquemas de branqueamento de capitais, parte substancial do dinheiro canalizado para o exterior é feito através de operações licenciadas no BNA. Outra parte, segundo fonte dos serviços de migração e fronteira, é transportado para o estrangeiro em malas, através de aviões estacionados no aeroporto 4 de Fevereiro contra uma comissão de 5% a 7% para os respetivos “pombos-correios”.
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