"Prevemos que o governo continuará a cortar os subsídios aos combustíveis para ajudar a aliviar a pressão sobre as finanças públicas, o que significa que o aumento dos preços dos combustíveis continuará a ser um risco para a inflação no futuro; por isso, do ponto de vista da meta de inflação, a redução das taxas foi imprudente", disse o analista Christian Franken.
Em declarações à Lusa na sequência da descida da taxa de juro de referência em Angola pela primeira vez desde 2023, o analista do departamento africano desta consultora britânica admitiu que a decisão "foi um pouco surpreendente" porque, sendo certo que a inflação tem vindo a desacelerar, a subida dos preços dos combustíveis "vai exercer uma pressão ascendente sobre os preços (em geral), o que irá abrandar o processo de desinflação".
O Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu esta semana reduzir as três principais taxas de juro em 0,5 pontos percentuais, fixando a taxa base nos 19%, a primeira descida desde 2023, acreditando na trajetória de redução da inflação.
O BNA decidiu descer a taxa base de 19,5% para 19%, a taxa de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez de 20,5% para 20% e a taxa de juro da facilidade permanente de absorção de liquidez de 17,5% para 17%, anunciou o governador do banco, Manuel Tiago Dias, no final da reunião do Comité de Política Monetária.
"Estas decisões refletem a trajetória de redução da inflação em Angola, em linha com o objetivo de inflação para o ano em curso, não obstante o cenário de incertezas que ainda se observa no plano internacional e as suas implicações nas contas externas do país", justificou então o responsável.
Manuel Tiago Dias realçou que a taxa de inflação mensal desacelerou para 1,09% em agosto de 2025, depois de inflexão observada em julho, em resultado da diminuição da contribuição dos preços da classe de transportes.
A Oxford Economics, no entanto, diverge das previsões do Banco Nacional de Angola: "Não acreditamos que a inflação diminuirá tão rapidamente quanto o banco central espera; na verdade, prevemos que a inflação ficará, em média, nos 20,8% em 2025 devido a essa desinflação mais lenta, o que é superior à meta de 17,5% que o banco almeja, o que significa que as taxas de juros podem não ser altas o suficiente para conter a inflação futura, a menos que as taxas sejam aumentadas novamente", disse Christian Franken.
Nas declarações à Lusa, o analista que segue Angola nesta consultora acrescenta que o banco central angolano "não tem uma estrutura explícita de metas de inflação, ou seja, combater a inflação não é, estritamente falando, o seu único mandato, portanto é provável que esses cortes nas taxas de juro tenham sido feitos com o objetivo de estimular a economia, que foi muito afetada pelos baixos preços globais do petróleo e pela queda na demanda por diamantes".
Para a Oxford Economics, "as taxas mais baixas implicam que há um risco de inflação mais alta no futuro, a menos que as taxas sejam aumentadas novamente".