Centenas de cidadãos, entre ativistas, membros da sociedade civil, taxistas, vendedores, estudantes e membros de partidos políticos na oposição juntaram-se à marcha promovida pelo denominado movimento social contra o decreto que aprova o reajuste do preço dos combustíveis em Angola.
Empunhando cartazes com dizeres como “combustível sobe, barrica ronca”; “300 kwanzas é muito”, “não aceitamos leis que matam o povo”, “estamos cansados de comer no lixo”, “o país é bom, mas o MPLA (partido no poder) é que não presta”, a marcha teve início no largo do Mercado de São Paulo.
Numa caminhada que começou pontualmente as 13:00 locais (mesma hora em Lisboa), na rua Cónego Manuel das Neves, os manifestantes seguiram, sob olhar atento de efetivos da polícia nacional, até à Alameda Manuel Van-Dúnem e posteriormente até à entrada da Avenida Ho Chi Minh.
Foi nesta última avenida que encontraram um forte cordão policial que os impediu de atravessar até ao Largo 1.º de Maio, ocasião em que se os ânimos dos manifestantes se exaltaram face às medidas impostas no local pela polícia, sendo que dada a insistência desses conseguiram transpor a barreira.
Com a intenção de alcançar o Largo Maianga, a 200 metros da sede da Assembleia Nacional (parlamento), os manifestantes depararam-se ainda com uma segunda barreira já composta por efetivos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR).
Determinados a caminharem até ao centro da capital angolana, muitos manifestantes procuraram alternativas para escaparem das várias barreiras policiais, montadas nas principais ruas de Luanda, e alguns manifestantes conseguiram mesmo chegar até às imediações da sede do Governo Provincial de Luanda.
Para travar a pretensão dos manifestantes, alguns dos quais afirmaram ter como destino o Palácio Presidencial, a polícia dispersou a marcha com o lançamento de gás lacrimogéneo.
A situação gerou pânico entre os manifestantes e transeuntes que procuraram um lugar para se refugiar, entre gritos e críticas à postura da PIR, que em vários pontos lançou bombas de gás lacrimogéneo, tendo-se registado feridos e algumas pessoas desmaiaram.
“Já estamos acostumados com a repressão policial e estamos aqui para dar as nossas vidas”, disse o ativista Simão Cativa Vítor, que participou na marcha para fazer sentir a sua voz e exortar o Governo do MPLA a “baixar imediatamente” o preço dos combustíveis.
“Então, um país que produz petróleo, o seu povo não pode sofrer e estamos aqui para fazer sentir a nossa voz e dizer: abaixo a ditadura, queremos uma Angola livre e justa e que serve os seus cidadãos”, referiu.
À marcha também se juntou Laureano da Silva, estudante de Sociologia, que se manifestou descontente com a nova tarifa dos combustíveis: “A minha presença aqui nessa manifestação é para demonstrar o meu descontentamento em relação a esta medida que considero injusta e infeliz”, referiu.
Pedro Coleto condenou a acção da corporação, apesar desta ter garantido já no final da noite desta sexta-feira, 11, que ia assegurar a marcha.
“Eu não percebo porque é que têm que reprimir a manifestação se o povo está a expressar o seu descontentamento. Isso acaba afectando as famílias angolanas”, disparou o jovem manifestante.
Quem também criticou a postura da polícia foi o líder da 7.ª Comissão para os Assuntos Religiosos, Comunicação Social, Juventude e Desporto da Assembleia Nacional, Paulo Faria. O político, da UNITA, na oposição, entende que não havia motivos para polícia descarregar contra os jovens.
“Recentemente, na Assembleia, nós debatemos e foi aprovada, na especialidade, a proposta de Lei sobre o Regime Disciplinar sobre o agente da Polícia Nacional policial. Aqui está a polícia, mais uma vez, a mostrar que não está para cumprir a lei, não está para respeitar os Direitos Fundamentais, mas para cumprir ordens superiores”, desabafou o deputado da bancada parlamentar da UNITA.
Entretanto, Paulo Faria diz mesmo que a polícia nacional provou hoje estar instrumentalizada e ao serviço do partido no poder, o MPLA.
Rita Mendes disse, por sua vez, que discorda dos aumentos excessivos do transporte público e dos combustíveis, justificando a sua presença na manifestação: “estamos cansados de viver como miseráveis num país bilionário”.
Visivelmente agastado com situação socioeconómica das famílias angolanas, “agravada” agora com o aumento do preço dos combustíveis, o ativista Gilson da Silva Moreira “Tanaice Neutro” disse que saíram à rua em protesto por uma “causa justa” e que afeta todos os angolanos.
A tarifa dos táxis coletivos em Angola passou a ser de 300 kwanzas por viagem (0,28 euros) e a dos autocarros urbanos subiu para 200 kwanzas por viagem (0,19 euros), desde segunda-feira, uma medida que surge na sequência do aumento do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro (0,28 para 0,37 euros) a partir de 04 de julho.