Sábado, 14 de Junho de 2025
Follow Us

Quarta, 14 Mai 2025 18:34

Economista considera natural revisão em baixa do crescimento da economia angolana

O economista angolano Alves da Rocha considerou hoje “natural e previsível” a revisão em baixa do crescimento da economia angolana pelo FMI por “falta de capacidade de resiliência” do país para manter determinado ritmo de crescimento.

“É uma perspetiva natural [revisão em baixa do crescimento da economia angolana], quer dizer, o Fundo Monetário Internacional [FMI] está a fazer ajustamentos às capacidades e às dinâmicas de crescimento de todas as economias do mundo”, afirmou hoje Alves da Rocha, acreditando ser reflexo das medidas da administração norte-americana.

Em declarações à Lusa, o economista disse que as medidas tomadas pelo Presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, como “restrições e tarifas levanta receios, dúvidas e vai acabar por restringir iniciativas de investimento a nível do mundo”.

“Portanto, é natural [esta perspetiva do FMI para Angola], porque todos sabem que a economia angolana é uma economia muito pouco resiliente, não tem capacidade de resiliência, não tem almofadas que lhe permitam manter determinado ritmo de crescimento”, referiu.

O Fundo Monetário Internacional reviu em baixa as perspetivas de crescimento económico para Angola em 2025 de 3% para 2,4% e alertou para os riscos sobre o desempenho orçamental. As conclusões do FMI foram divulgadas após uma missão de avaliação pós-financiamento liderada por Mika Saito, que decorreu entre 06 e 12 de maio, que irá elaborar um relatório que deverá ser discutido no Conselho Executivo do FMI em julho de 2025.

Alves da Rocha insistiu que as perspetivas do FMI eram “absolutamente esperadas” porque a instituição financeira internacional “conhece muito bem a economia nacional”.

“E agora vamos ver que tipo de recomendações é que esta missão do FMI que esteve em Luanda vai entregar ao Governo angolano”, frisou. O também diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola considerou igualmente que o atual cenário deriva do facto de o país ter uma economia “muito dependente” das receitas petrolíferas.

Ainda que o peso do setor petrolífero no Produto Interno Bruto (PIB) “se tenha reduzido significativamente”, observou, a redução não tem sido acompanhada por um aumento da posição de outros setores”, argumentou. Considerou mesmo que a temática da falta de resiliência não é exclusivo da economia angolana, sublinhando, no entanto, que, a nível de África, outras economias “podem eventualmente resistir” à volatilidade do petróleo, nomeadamente África do Sul e Nigéria, “porque têm um PIB mais elevado”.

“Mas, nós, não temos instrumentos, não temos refúgios para que quando se faça a revisão da dinâmica de crescimento esta revisão nãos seja feita em baixo”, afirmou ainda.

Em relação ao alerta do FMI para os riscos sobre o desempenho orçamental de Angola, Alves da Rocha disse: “Isso a gente já sabe, não é necessário o FMI vir aqui dizer, porque a partir do momento em que toda a 'jigajoga'” do petróleo está em risco as implicações à economia são previsíveis.

O especialista recordou que o preço do petróleo, maior fonte de receitas do Orçamento Geral do Estado (OGE), tem vindo a baixar, pelo que a revisão orçamental é uma possibilidade, ainda que existam “sinais já de uma negociação entre a Rússia e Ucrânia". "Vamos ver se isso terá algum tipo de influência num maior equilíbrio do setor do petróleo.

E, portanto, vamos aguardar para ver o que se passa de modo que se encare a possibilidade de uma revisão do OGE”, concluiu o especialista. O FMI destaca que o crescimento económico de Angola em 2024 foi “robusto”, atingindo 4,4%, impulsionado pelo aumento da produção petrolífera e pela retoma do setor não petrolífero, mas avisa que as perspetivas se deterioraram, gerando riscos, devido à queda dos preços do petróleo e condições restritivas do financiamento externo.

Rate this item
(0 votes)