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Quarta, 16 Março 2022 14:29

Economista admite trajetória ascendente e taxas flutuantes com apreciação da moeda angolana

Um economista angolano disse hoje que a atual apreciação do kwanza resulta da maior oferta de divisas no mercado, fruto do aumento do preço do petróleo, e de política monetária restritiva, admitindo trajetória ascendente e taxas flutuantes.

Wilson Chimoco considerou que o novo percurso do kwanza, moeda angolana que valorizou 20% desde o princípio do ano face ao dólar, decorre, sobretudo, da oferta de divisas no mercado, acima da capacidade de absorção do mercado.

“Com o aumento do preço do petróleo nos níveis em que está, os leilões de divisas na plataforma Bloomberg têm tido constante procura, fundamentalmente associada aos bancos, que não têm acompanhado este aumento da oferta”, afirmou hoje o economista, em declarações à Lusa.

Com a manutenção da política monetária restritiva, frisou, “os bancos comerciais angolanos têm hoje dificuldades de terem acesso ao kwanza, há poucos kwanzas no mercado, e isso dificulta a procura dos bancos por divisas”.

Para Wilson Chimoco, ambos os fatores, nomeadamente o aumento da oferta de divisas no mercado e a restrição da procura de divisas por parte dos bancos, justificam o atual cenário de aumento da cotação do kwanza face ao dólar norte-americano.

O kwanza foi a moeda que mais valorizou desde o princípio do ano face ao dólar, ganhando 20%, impulsionada pela subida dos preços do petróleo, aumento da estabilidade macroeconómica, política monetária e a subida do ‘rating’.

De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, a moeda angolana recuperou 20% face ao dólar desde o início do ano, numa lista em que o rublo russo está na última posição, perdendo 37% face ao atual dólar.

O preço do petróleo, maior produto de exportação em Angola, apesar do abrandamento dos últimos dias na subida dos preços, quase duplicou de valor no ano passado, chegando a 139 dólares já este mês, o que representa uma valorização de 28% desde o início do ano.

Wilson Chimoco apontou também o ajustamento do mercado, “em que se assistiu nos últimos quatro anos depois da liberalização da taxa de câmbio em 2018, ajustado muito acima do esperado”, como mecanismo que impulsionou também o novo percurso do kwanza.

Por outro lado, há “fatores mais de curto prazo”, como “o aumento do preço do barril de petróleo e associado a uma maior oferta das divisas no mercado”, levando a “essa questão do próprio mercado que é o ajustamento e/ou correção da depreciação”, insistiu.

A importação de produtos a preços mais reduzidos e a evolução dos indicadores fiscais são apontados pelo economista como reflexos da apreciação da moeda nacional para a economia angolana.

No entender do especialista, o atual curso do kwanza abarca diversos impactos e o “mais relevante”, observou, “é a possibilidade de o país começar a importar produtos a preços muito mais reduzidos”.

“Estamos a dizer que o país continua ainda a importar muitos produtos de consumo corrente, produtos de capital, máquinas e equipamentos e matéria-prima para o processo de produção interna de bens”, notou.

“Com uma menor apreciação da taxa de câmbio dá sempre a possibilidade de importar-se a custos mais reduzidos e a produção interna ser feita a custos mais reduzidos que depois se traduz num menor aumento dos preços na economia, está é uma possibilidade”, assinalou o analista.

Mas também, salientou, “há uma possibilidade de hoje se começar a registar uma redução da captação de receitas fiscais petrolíferas por parte do Estado, ou seja, pelo facto de a arrecadação de receitas fiscais ser feita em kwanzas, há um ganho cambial associado a uma maior depreciação cambial”.

Um terceiro impacto “é o da evolução que se faz dos indicadores fiscais, fundamentalmente com o rácio do endividamento público” porque “boa parte da dívida pública angolana é externa e aquela que é interna 45% é indexada à variação cambial”.

Com esta apreciação das taxas de câmbio, “o que está a acontecer é que o stock da dívida pública angolana está a reduzir-se e o rácio de endividamento interno também tenderá a reduzir-se porque, por outro lado, o PIB (Produto Interno Bruto) nominal está a aumentar”, referiu Wilson Chimoco.

O economista angolano considerou ainda que a atual trajetória do kwanza deve manter-se crescente perspetivando uma taxa de equilíbrio entre os 470 kwanzas (0,9 euros) e os 520 kwanzas (1 euro) por cada dólar.

“Futuramente, o que há de acontecer é uma flutuação mais neste intervalo e não os grandes ajustamentos que se assistiram tanto com a depreciação desde 2018 até 2020, assim como com esta apreciação a que se assiste nos últimos tempos”, rematou.

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