De acordo com uma edição recente do boletim de informação Africa Monitor Intelligence, a operadora de telecomunicações “histórica” cabo-verdiana, CV Telecom, participada pelo Estado e pela Portugal Telecom, está em vias de perder para a Unitel T+ a posição de líder no mercado.
Com uma agressiva campanha de conquista de mercado, a Unitel T+, controlada pela empresária angolana Isabel dos Santos, está a criar dificuldades ao líder de mercado, inclusivamente ao nível da sua rentabilidade, adianta a mesma fonte.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, anunciou recentemente a celebração de um protocolo entre o governo e a Unitel T+, prevendo a oferta de um “smartphone” a cada funcionário público, seu cliente, passando a gerir a base de dados assim criada.
A entrada da Unitel no mercado aconteceu por absorção de uma pequena companhia local, T+, tal como em São Tomé e Príncipe, e foi realçada com viagens a ambos os países da sua accionista de referência, Isabel dos Santos, recebida então pelas mais altas entidades.
Unitel e Portugal Telecom têm estado envolvidas num contencioso público, que tem como centro a participação da operadora portuguesa na angolana (cerca de um quarto do capital), sendo discutida há vários meses a possibilidade de venda.
Paralelamente, a operadora participada em Portugal por Isabel dos Santos, principal concorrente da PT no seu mercado doméstico, fundiu-se recentemente com o terceiro operador, ganhando dimensão para reforçar a concorrência.
Em Cabo Verde, adianta o Africa Monitor Intelligence, o governo pondera mesmo retirar as infra-estruturas de telecomunicações do contrato de concessão da CV Telecom, as quais passarão futuramente a ser geridas por uma empresa independente.
Para a PT, tal corresponderia a uma revisão unilateral do contrato de concessão, implicando a reclamação de uma indemnização pelo Estado ou mesmo a sua retirada da companhia.
Também na banca, a entrada de um novo concorrente angolano, o BIC, igualmente participado por Isabel dos Santos, promete agitar o mercado.
A entrada do BIC no mercado é facilitada por volumosos investimentos e poderá ocorrer por conversão de uma sucursal do antigo Banco Português de Negócios, a funcionar em regime de “offshore” em Cabo Verde, recentemente adquirida, em banco de retalho.
Banco de referência em Angola, o BIC tem vindo a expandir-se em Portugal, processo que ganhou grande impulso com a aquisição do BPN, que detinha operações em Cabo Verde e no Brasil, permitindo alargar a sua rede de agências para 200 no mercado português, com perto de 1100 trabalhadores.
Em causa, adianta a mesma fonte, poderá estar a prazo a posição de liderança da Caixa Económica, mais importante banco comercial e, a par da CV Telecom, outra das poucas empresas públicas ou mistas que distribuem dividendos.
A Sonangol, petrolífera estatal angolana, foi o primeiro grande investidor angolano em Cabo Verde, controlando actualmente a distribuidora de combustíveis Enco, em parceria com a portuguesa Galp Energia, de que também é accionista de referência.
Também em São Tomé e Príncipe a presença da petrolífera angolana é de destaque, com interesses importantes na distribuição de combustíveis, transportes, actividade portuária e até exploração de petróleo.
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