De acordo com o relatório completo sobre a degradação da Perspetiva de Evolução da economia, de Estável para Negativo, divulgado hoje e que explica em pormenor a decisão anunciada em meados de julho, a Fitch escreve que o custo total de servir a dívida vai ser de 12,3 mil milhões de dólares, [11,1 mil milhões de euros] divididos entre 8,8 mil milhões para amortizações e 3,5 mil milhões em juros.
No próximo ano, o valor desce para 12 mil milhões, dos quais 8,3 servirão para amortizações e 3,8 mil milhões serão para pagar os juros da dívida, e em 2021 o valor diminui novamente, para 10,3 mil milhões de dólares.
"A dívida pública continuou a aumentar para 80,2% do PIB em 2018 e a Fitch espera novo aumento para 83,8% este ano, bem acima da média dos países com nota 'B', nos 59,1%", escrevem os analistas.
"Apesar da estabilização [do rácio da dívida] e de um declínio a partir de 2020 ser a nossa previsão central, os riscos de subida, particularmente devido a mais depreciações da moeda, continuam elevados", aponta a Fitch, notando também que "a existência de 19,9 mil milhões de dólares, ou seja, 21,9% do PIB em 2019, em dívida externa com petróleo como colateral constitui um risco negativo para os outros credores do Governo".
De acordo com as previsões da Fitch, a dívida pública deverá atingir o pico este ano, nos 83,8% do PIB, descendo depois para 75,1% em 2020, para 72,1% em 2021 e mantendo a trajetória até atingir os 52,7% do PIB em 2028.
"O principal risco para a sustentabilidade da dívida seria um aumento no défice orçamental primário para níveis anteriores, o que elevaria o rácio da dívida sobre o PIB para 90% em 2021", alertam.
"A revisão do 'Outlook' para Negativo reflete a degradação das métricas da dívida, a persistente queda das reservas externas e uma recuperação económica mais lenta do que o previsto", escrevem os analistas da Fitch na nota divulgada hoje e que explica em pormenor a decisão anunciada em meados de julho.
Além destes problemas, a Fitch aponta também as "fraquezas estruturais", entre as quais elenca "o mau desempenho nos indicadores de governação e de desenvolvimento, e o nível mais elevado de dependência de matérias-primas entre os países analisados pela Fitch".
Na explicação, a Fitch elenca como principais pontos positivos da economia angolana as almofadas orçamentais, "incluindo os depósitos governamentais, que representam 10% do PIB, e um fundo soberano com ativos que valiam 5% do PIB no final de 2018".
As reservas externas, apesar de terem caído, ainda representam quase seis meses de importações, o que compara bem com os quatro meses registados pela média dos países a que a Fitch atribui uma notação financeira de 'B'.
Por outro lado, entre as principais fraquezas identificadas está a forte dependência das matérias-primas, que valem 97% das exportações e 69% das receitas nos 10 anos terminados em 2017, o que é "bem acima de outros exportadores de petróleo africanos".
O "abrandamento significativo" do crescimento do PIB nos últimos anos, abaixo da média de 3,9% registada pelos países com 'B' e a inflação elevada, além de um custo de servir a dívida pública que só no pagamento de juros vale o dobro da média destes países, são outros dos aspetos apontados pela Fitch para descer a Perspetiva de Evolução da economia.
A alteração no 'Outlook' significa que uma ação de 'rating' é mais provável nos próximos 12 a 18 meses, de acordo com os calendários definidos pelas agências de notação financeira.