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Segunda, 02 Dezembro 2013 18:06

"Estórias de ninguém": Anselmo, de uma lata e tesoura nasceu um artista

Tem 10 anos e são poucos os luandinos que não sabem o seu nome. Anselmo vive nas ruas e já subiu em palcos como Luanda Sounds Fest. Da sua tesoura e lata de gasosa cortada ao meio consegue "tirar" quase na perfeição “hits” como "Não me Toca" e "Do Cotovelo" e consegue ter um "ordenado" que o sustente a si e aos amigos.

Apesar da tenra idade, Anselmo soma vários vídeos nas redes sociais, que contam com inúmeras visualizações. Passa o dia a “zanzar” de um lado para o outro dando música a quem lhe dê um “50” [Kwanzas]. Na capital são poucos os que não conhecem os seus dotes artísticos.

Apesar da fama, Anselmo é mais uma criança que contribui para as estatísticas de crianças abandonadas ou que vivem nas ruas. Se a conversa não envolve “negócios”, Anselmo não se deixa levar pelas palavras. É relutante em contar a história da sua curta vida mas explicou porque prefere continuar nas ruas a voltar para casa: “Fugi de casa porque a minha mãe não me dava de comer.”

Há um ano meteu-se num autocarro e saiu da cidade do Kuito, Bié, rumo à capital. É órfão de pai e do paradeiro da mãe pouco ou nada sabe. Diz sentir saudades mas se tivesse que escolher uma família preferia ser adoptado pelo homónimo e ídolo Anselmo Ralph.

Nem sempre tem um discurso coerente, mas com um pouco de conversa apercebemo-nos que a “esperteza” é a sua maior qualidade. Faz mais dinheiro que muitos adultos por dia e sustenta outros miúdos, que o acompanham para todo o lado.

Nos vários vídeos que circulam na Internet, podemos ver Anselmo com uma lata de refrigerante e uma tesoura a tocar músicas conhecidas por todos, como “Do Cotovelo”, de Limas do Swegger, ou “Não me Toca”, de Anselmo Ralph. Quem o vê na rua já sabe que se “puxar” da nota vai ter uns bons minutos de espectáculo, com os instrumentos musicais mais improváveis.

O pequeno Anselmo destaca-se entre muitos, porque tem um dom: entreter. Mas, na “nguimbi” há milhares de crianças com um percurso parecido, sem a assistência de um adulto, e que poucos se perguntam qual a sua estória ou destino.

Escrito por Vanessa Sanches e Edwaldo Pegado 

SAPO Angola.

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Last modified on Terça, 03 Dezembro 2013 16:03