A informação resulta de dados preliminares do Banco Nacional de Angola (BNA), compilados hoje pela Lusa, sobre as Reservas Internacionais Líquidas (RIL), que no espaço de um mês ganharam, em valor, 265 milhões de dólares (217 milhões de euros).
Em fevereiro, segundo o mais recente relatório do BNA, com revisão de dados, as RIL angolanas cifravam-se em 12.813 milhões de dólares (10.518 milhões de euros), o equivalente às necessidades de cerca de cinco meses de importações.
A última subida nas RIL angolanas tinha acontecido entre setembro e outubro passados, quando cresceram 90 milhões de euros num mês, para 15.266 milhões de dólares (12.539 milhões de euros).
Desde as eleições gerais de 23 de agosto, que levaram à chegada ao poder de João Lourenço, eleito terceiro Presidente de Angola, estas reservas, que se mantêm em mínimos desde 2010, já caíram cerca de 2.500 milhões de dólares (2.050 milhões de euros), uma quebra de 16% em seis meses.
Estas reservas, que o BNA tem vendido aos bancos comerciais para garantir a importação de alimentos, máquinas e matéria-prima para a indústria, estão a menos de metade do valor contabilizado antes da crise da cotação do petróleo. No início de 2014, antes dos efeitos da crise, as reservas angolanas ascendiam a 31.154 milhões de dólares (25.578 milhões de euros).
Angola enfrenta dificuldades financeiras, económicas e cambiais, tendo o BNA aumentado a venda de divisas (euros) à banca comercial angolana, que está sem acesso a dólares face à suspensão das ligações com correspondentes bancários internacionais.
No Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018, o Governo angolano recorda que o volume de reservas deveria ter sido, na previsão anterior, de 19.000 milhões de dólares no final de 2017.
Contudo, com a manutenção da taxa de câmbio ao longo de 2017 - sem qualquer desvalorização do kwanza angolano -, as RIL reduziram-se nos últimos 11 meses de 2017 para 14.480 milhões de dólares (11.890 milhões de euros).
"O número de meses de importação cobertos pelas RIL situa-se agora em 5,49, abaixo dos seis recomendados pelas metas de convergência da SADC [Southern African Development Community]", alerta o Governo, no OGE aprovado em março.
Entre agosto de 2016 e julho de 2017, o banco central - que atualmente é o único fornecedor de divisas à banca comercial - ainda aumentou a injeção de moeda estrangeira no mercado cambial primário, com vendas diretas aos bancos.
No entanto, a partir das eleições gerais de 23 de agosto, essas vendas por parte do BNA caíram fortemente.
As reservas contabilizadas pelo BNA são constituídas com base em disponibilidades e aplicações sobre não residentes, bem como obrigações de curto prazo.
Estas vendas feitas pelo BNA foram, entretanto, substituídas em 09 de janeiro pelo regime de leilão de preço com os bancos comerciais, que, em paralelo com a introdução do novo modelo de taxa de câmbio flutuante, definida pelo mercado, fez o kwanza depreciar-se já 32% face ao euro e mais de 24% para o dólar.
O Presidente angolano, João Lourenço, disse em 16 de outubro, na Assembleia Nacional, no discurso anual sobre o estado da Nação, que é necessário proteger estas reservas, mas sem que isso "prejudique" a recuperação económica.
"Vamos encontrar os melhores mecanismos para que as escassas divisas disponíveis deixem de beneficiar apenas a um grupo reduzido de empresas e passem a beneficiar os grandes importadores de bens de consumo e de matérias-primas e de equipamentos que garantam o fomento da produção nacional", enfatizou.
"Importa impedir que a venda direta de divisas seja uma forma encapotada de exportação de capitais, sem o correspondente benefício para o país", acrescentou.