Foi com carácter de urgência que a direção da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) convocou a imprensa para cobrir na noite desta quarta-feira (10.11) a declaração política do seu presidente Isaías Samakuva.
O político que voltou a dirigir o partido por força do acórdão 700/2021 do Tribunal Constitucional pediu mais uma vez serenidade aos militantes, de modo a ultrapassar o momento difícil que o partido enfrenta.
Samakuva falou indiretamente sobre uma lista de supostos traidores da UNITA com rostos de altos dirigentes do partido partilhados nas redes sociais por alguns militantes e não só.
O presidente do partido do Galo Negro apelou ao fim destas práticas: "Nas mensagens que circulam nas redes sociais, parece estar na moda o discurso da agressividade, os insultos e os disparates que só alimentam a intolerância e nada dignificam o nosso partido. É preciso parar estas práticas. Apelo a todos que parem imediatamente com estas práticas".
"Armadilha política"
O dirigente diz que os desafios atuais do partido não serão resolvidos com atos de intolerância. "Não podemos vencer este desafio com arruaças, insultos e ânimos exaltados. Muito menos com visão curta, com mensagens agressivas nas redes sociais, culpando-nos uns aos outros. O acórdão 700/2021 é uma armadilha política, uma mina, que os outros querem que rebente debaixo dos nossos pés. Temos de ter muito discernimento", alertou.
Segundo o líder partidário, no maior partido da oposição há democracia, que no seu entender significa tolerância baseada no respeito da opinião diferente.
Isaías Samakuva disse aos militantes que na UNITA se respeitam os líderes e se seguem causas e não pessoas. "Seguimos objetivos, princípios e valores, consagrados. Na UNITA, não há savimbistas, nem samakuvistas, nem adalbertistas. Há cidadãos, que se respeitam uns aos outros, que têm opiniões diferentes, mas estão unidos na prossecução da mesma causa, na defesa dos mesmos princípios e valores. Não aceitem a divisão. A UNITA é um projeto de crença, de perseverança e de esperança. A UNITA é um partido digno e orgulhoso da sua história e não se deve permitir entrar em baixezas de insultos nas redes sociais", afirmou Samakuva.
Unidade e coesão no seio do partido
O presidente do Galo Negro continua a defender a unidade e a coesão entre os "maninhos” para se pôr fim aos rumores de conflito interno no partido fundado por Jonas Savimbi.
"Não são as pessoas de fora que mandam na UNITA, quem manda na UNITA são os membros da UNITA, os órgãos da UNITA. Quem quiser aderir à UNITA tem de aderir primeiro aos seus princípios e valores. Entrar na UNITA significa aderir aos seus princípios e valores, já estabelecidos. Ninguém deve pretender vir na UNITA para mudar a UNITA ou estabelecer outros valores, outros princípios. Não é assim. Subscreve um contrato de adesão, não de transformação", defendeu.
46 anos de independência angolana
Passados 46 anos de independência, cuja data é celebrada esta quinta-feira, 11 de novembro, o líder do maior partido da oposição afirmou que não houve reconciliação efetiva nem democratização no país. Isaías Samakuva disse que o projeto de construção da Nação continuou adiado.
"Conseguimos manter intactas as fronteiras territoriais definidas pelos europeus no século XIX, mas não conseguimos manter intactas as fronteiras da coesão familiar, nem definimos ainda as fronteiras da nossa identidade nacional e muito menos da unidade nacional. Conseguimos, ainda assim, proclamar um Estado constitucional, mas falhamos em demonstrar o nosso patriotismo", lamentou o político angolano reafirmando que "vendemos o país e hipotecamos o futuro, falhamos, tanto em 1975, como em 1991 e em 2002, porque não fomos capazes de colocar a pátria mãe acima dos grupos partidários".
Também num comunicado enviado à DW, o Colégio Presidencial da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) sublinha que, ao fim de 46 anos de Independência, e 19 dos quais em paz, a fome severa em larga escala continua ser o principal inimigo diário para as famílias angolanas, "afigurando-se como uma das principais causas de morte no País”.
O Colégio Presidencial da CASA-CE entende que o Executivo tem de encontrar solução em defesa das vidas que se perdem em razão da fome, "pois a fome não espera, não se adia, nem é saciada ao sabor das agendas políticas". DW Africa