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Quarta, 19 Agosto 2020 14:34

Sociedade angolana considera que nomeação de filha de PR “fragiliza” combate ao nepotismo

O presidente da Associação Angolana Mãos Livres, Salvador Freire, e o politólogo angolano Olívio Nkilumbo consideraram hoje que a nomeação da filha do Presidente da República para um cargo público “fragiliza as ações de combate à corrupção e nepotismo”.

Para o líder da Mãos Livres, organização não-governamental (ONG) de promoção dos direitos humanos, a nomeação de Cristina Dias Lourenço para o cargo de administradora da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva) configura um ato de nepotismo.

“Isto configura-se como nepotismo, portanto não pode de forma nenhuma a filha do Presidente da República ocupar responsabilidade que hoje ocupa, isto para além de nepotismo é tráfico de influência, isso faz com que venha beliscando a boa governação, a transparência”, afirmou Salvador Freire, em declarações à Lusa.

Cristina Giovana Dias Lourenço, filha do Presidente angolano, João Lourenço, foi nomeada, em março, pela ministra das Finanças para o cargo de administradora executiva da Bodiva.

No despacho n.º2260/20, de 05 de maio, o Ministério das Finanças confirmou a dispensa de Cristina Lourenço, onde é técnica superior de 2.ª classe, para dirigir os departamentos de Finanças e Património e de Comunicação e Intercâmbio da Bolsa angolana.

O assunto é criticado por vários círculos sociais de Angola na sequência de recentes notícias do português Jornal de Negócios.

Segundo o advogado Salvador Freire, a nomeação da filha do Presidente angolano para o cargo afeta os princípios da boa governação e transparência que o Governo e a sociedade angolana apregoam diariamente.

“Portanto, isso não é bom para a governação, não é bom para a sociedade e são exemplos que devem ser banidos”, disse.

O combate à corrupção, à bajulação e ao nepotismo constituem os eixos de governação de João Lourenço, no poder há três anos.

De acordo com o responsável da ONG angolana, que não coloca em causa as competências técnicas e profissionais da filha do chefe de Estado, a medida fragiliza o processo em curso no país.

“Se estamos a combater o nepotismo, o tráfico de influência e a corrupção, não pode haver exemplos provenientes de uma estrutura da governação que demonstre efetivamente que filhos de determinados dirigentes do país ocupem cargos sem fazer um concurso”, notou.

“É preciso que os cidadãos concorram aos cargos em igualdade”, vincou.

A opinião de Freire converge com a do politólogo angolano Olívio Nkilumbo, afirmando que a nomeação de pessoas próximas para determinados cargos políticos “é uma prática muito comum” no seio do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), no poder.

“E é um mal que ele [Presidente angolano] combateu num passado, não muito distante, onde fez críticas duras a nível do seu partido de algumas ações feitas pelo antigo Presidente em nomear filhos ou pessoas com grande proximidade da família”, disse hoje à Lusa.

Para este analista político, a nomeação de Cristina Dias Lourenço para a Bodiva, “periga alguns aspetos relacionados com outros atores que mais ou menos competentes poderiam também estar em pé de igualdade para concorrer para esses cargos”.

Apesar de não ter sido nomeada pelo Presidente da República, mas pela ministra das Finanças, “que entendeu que a jovem tem qualidades técnicas e profissionais de exercer esse cargo”, observa, o “problema reside no facto da pessoa ser filha de João Lourenço”.

Segundo o politólogo, a filha de João Lourenço “estará por esta via a controlar” o processo de privatização das empresas e ativos públicos por via da Bodiva.

“Se por esta via se quer controlar o processo de privatização é porque se pretende ter pessoas próximas ao Presidente, logo podemos estar aqui diante de uma nova acumulação primitiva de capitais onde pessoas próximas ao Presidente vão controlar processos complexos e estratégicos para os próximos tempos”, concluiu.

Quando chegou ao poder em 2017, João Lourenço exonerou os filhos do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, nomeadamente Isabel dos Santos, na administração da Sonangol, e José Filomeno dos Santos, do Fundo Soberano de Desenvolvimento de Angola.

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