A votação, em mais de 12.000 mesas de voto, foi, no geral, calma, embora tenha havido relatos de violência isolada em algumas partes do país. Em Solwezi, a noroeste da capital, Lusaca, vários eleitores em fúria atacaram e destruíram um veículo após se ter espalhado um boato de que estavam boletins de voto já preenchidos no seu interior.
O comissário provincial da polícia, Joel Njase, disse à agência noticiosa Efe que o veículo foi revistado e que não foi encontrado qualquer boletim no seu interior, sendo que o condutor era apenas um eleitor que procurava estacionamento quando o seu carro foi atacado.
Os zambianos puderam votar entre as 06:00 (05:00 em Lisboa) e as 18:00 locais (17:00 em Lisboa) numas eleições presidenciais que contam com 16 candidatos, entre os quais uma mulher.
No entanto, é esperado, segundo as sondagens, que haja uma apertada disputa entre o atual chefe de Estado, Edgar Lungu, da Frente Patriótica (PF), e o seu principal opositor, Hakainde Hichilema, do Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional (UPND).
Lungu votou pela manhã no distrito de Chawama, na capital, tendo apelado aos concidadãos para votarem em massa e em paz, após os confrontos violentos que marcaram as últimas semanas de campanha eleitoral.
O Presidente zambiano, 64 anos, votou na companhia do chefe da missão de observadores da Commonwealth e antigo chefe de Estado tanzaniano Jakaya Kikwete, que apelidou de reconfortante a afluência dos cidadãos da Zâmbia às urnas.
O seu principal opositor, Hichilema, 59 anos, que concorre pela sexta vez, conta com a sua experiência como empresário, dizendo que será capaz de atrair investimento, gerir a economia e erradicar a corrupção.
Aquando do seu voto, em Lusaca, ouviram-se gritos de apoiantes, que pediam mudança. À imprensa, o candidato disse que era visível o estado de espírito dos eleitores. “As pessoas querem mudança, como podem ver”.
O opositor disse ainda que “o importante é que a decisão de quem se torna Presidente, quem irá liderar este país, deve ser determinada pelo povo zambiano, os eleitores, e não pelas pessoas que contam os votos”.
Também a Comissão Eleitoral da Zâmbia (ECZ) expressou o seu agrado com a afluência dos eleitores.
A sua porta-voz, Patricia Luhanga, disse aos jornalistas que a ECZ fez um grande esforço para preparar adequadamente as eleições e assegurar uma boa experiência para os eleitores.
“Estamos satisfeitos por os zambianos terem comparecido em tão grande número para votar nos seus líderes”, disse Luhanga, que acrescentou que a ECZ estabeleceu um prazo de 72 horas para anunciar o resultado da votação para os candidatos presidenciais.
De modo a credibilizar os resultados, a ECZ encorajou os partidos políticos a colocarem observadores em todas as mesas de voto para acompanharem o processo de votação e contagem, que começou após o encerramento das mesas de voto.
Além da escolha do chefe de Estado para os próximos cinco anos, os eleitores votaram também nos deputados e nos autarcas, num escrutínio que foi acompanhado por observadores locais e internacionais, incluindo por missões da União Europeia, da União Africana e da Commonwealth.
Segundo a ECZ, 810 candidatos de vários partidos políticos concorrem aos 156 lugares da Assembleia Nacional, enquanto 420 candidatos disputam os 116 lugares de autarcas.
Os resultados das eleições gerais serão anunciados de forma contínua, à medida que os funcionários dos 156 círculos eleitorais contam e verificam os votos.
Lungu chegou ao poder em 2015, através de uma eleição determinada pela morte do anterior Presidente, Michael Sata, e foi novamente reeleito em 2016 para uma legislatura de cinco anos, numa vitória com uma margem muito estreita (50,4%) em relação a Hichilema (47,6%).
Como temido por muitos, o acesso à internet e a muitas redes sociais e plataformas de trocas de mensagens, como Twitter, Facebook, Instagram ou WhatsApp, foi restringido, segundo a agência Associated Press.
A restrição é considerada uma tentativa do Governo para impedir que as pessoas comuniquem sobre a votação até ao anúncio oficial dos resultados, uma prática que tem vindo a tornar-se comum em países africanos.
A Zâmbia é uma das democracias africanas mais estáveis, mas segundo vários analistas esta reputação pode vir a ser destruída, caso o escrutínio não seja “livre e justo”.
A organização Human Rights Watch acusou em junho o Governo de Lungu de conduzir o segundo maior produtor de cobre do continente africano ao “limiar de uma crise de direitos humanos”.
Mais de metade dos 17 milhões de zambianos vive atualmente abaixo do limiar de pobreza, mas os preços da alimentação são hoje um terço mais caros do que há um ano.