Vários cidadãos, entre ativistas, estudantes, encarregados de educação, taxistas, “zungueiras” (como são conhecidas as vendedoras ambulantes em Angola), músicos, políticos da oposição e demais atores sociedade civil juntaram-se à marcha promovida pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA).
“Livro, carteira, saúde e educação” eram os cânticos que os manifestantes entoavam no decurso da marcha, que partiu as 13:00 locais do largo do Mercado de São Paulo e tinha como destino no Ministério das Finanças, centro de Luanda, mas que devido às barreiras da polícia os manifestantes não atingiram a meta almejada.
Num dia em que o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional mobilizou milhares de efetivos, por mais de cinco horas, as principais ruas de acesso ao centro da capital angolana estiveram bloqueadas, sem circulação automóvel, dada a presença dos manifestantes na rua.
A marcha partiu da Rua Cónego Manuel das Neves, sob forte dispositivo policial que seguia o percurso dos manifestantes, sendo que minutos depois numa outra faixa desta rua um grupo de “zungueiras” decidiu promover uma manifestação espontânea, onde lamentavam em coro a carestia de vida.
“O medo escraviza, a coragem liberta”, “não é só baixar ordens superiores, baixem o preço das propinas”, “já nos roubaram muito, por favor, pelo menos nos deixem só a educação” e “abaixo as propinas, abaixo com combustível” eram alguns dizeres estampados nos cartazes dos manifestantes.
Depois da Cónego Manuel das Neves, a marcha seguiu pela rua Alameda Manuel Van-Dúnem, sendo que barreiras policiais não permitiram aos manifestantes alcançar a sede do Ministério das Finanças, passando pela Avenida de Portugal.
Com várias críticas aos efetivos da Polícia, que com viaturas e armados bloquearam as principais vias, os manifestantes decidiram concentrar-se no Largo do Zé Pirão, intersecção das ruas Comandante Valódia, Alameda Manuel Van-Dúnem e Ho Chi Minh, onde terminaram os protestos.
“A nossa intenção era chegar no Ministério das Finanças, por ser esta instituição que exarou os dois decretos, subida dos combustíveis e das propinas, agora ao chegar aqui eles fecharam, nós não vamos passar por eles, que estão armados, vamos ficar aqui”, disse Lusa o presidente do MEA, Francisco Teixeira.
De acordo com líder juvenil, a mudança do itinerário da marcha, “imposta pela polícia”, seria dar azo à violação da lei, tendo considerado mesmo a polícia como “um instrumento usado pelos governantes”.
Sobre as razões da marcha, o responsável disse: “É chamar atenção aos governantes sobre o aumento das propinas, que é uma grave violação aos nossos direitos, a situação social e económica do país está desagradável (…) e também chamar a atenção sobre a subida dos combustíveis”.
À marcha, também se juntou Eduardo Jesus, encarregado de educação, que criticou o Governo de ser “insensível” face ao sofrimento de muitos pais sem condições para custear as propinas dos filhos.
A ativista Yared Bumba disse, por sua vez, que a marcha visou protestar contra as medidas do Governo angolano, tendo ao mesmo tempo lamentado a atual condição socioeconómica das famílias e a degradação das escolas sem condições.
Lucas Mendes, estudante de Direito, considerou à Lusa que os protestos eram legítimos porque a subida das propinas e dos combustíveis têm implicações negativas na vida dos estudantes e das famílias.
Juntou-se igualmente à marcha, em solidariedade, Miguel Kimbenze, presidente honorário do MEA, defendendo que a luta deve continuar visando tirar Angola da situação em que se encontra.
“Estamos nesta luta de corpo e alma de forma a tirarmos Angola na condição em que se encontra, um país que desde há muito tempo começou a ser governado por ditadores, temos um governo que é carrasco do seu próprio povo”, disse Kimbenze, considerando o MPLA (no poder desde 1975) como “o cancro” de Angola.
Na ocasião, os manifestantes contestaram ainda a detenção do ativista Osvaldo Caholo, um dos promotores da manifestação detido nas primeiras horas de hoje que, segundo o Serviço de Investigação Criminal está indiciado dos crimes de incitação à violência e rebelião.