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Domingo, 25 Junho 2023 13:20

Produtores de vinho portugueses apreensivos com ano desastroso em Angola devido a queda do kwanza

Depois de um ano de crescimento em Angola, os produtores de vinho portugueses encaram 2023 com pessimismo devido à desvalorização do kwanza, antecipando “um desastre” nas vendas face à inflação e diminuição do poder de compra.

Responsáveis de empresas ouvidos pela Lusa assumiram estar preocupados com a acentuada queda da moeda angolana, o que obrigou já a aumentar os preços.

Depois de um 2022 positivo, em que as exportações de vinho para Angola duplicaram em valor, para cerca de 50 milhões de euros, a perspetiva agora é de margens a encolher e até prejuízos.

Edgar Sousa, diretor-geral da Vinus (filial da Sogrape em Angola), disse que a empresa teve um crescimento significativo em 2022, de 20% em valor, mas admite que “vai haver uma quebra muito forte nos próximos meses se a situação não se reverter”.

A rapidez com que tudo está a acontecer torna a adaptação ainda mais complicada e o aumento de preços tende a refletir-se desde já nas prateleiras dos supermercados, garrafeiras e restaurantes, indicou.

“Vai haver claramente uma perda do poder de compra e diminuição do consumo. Neste momento, estamos a ter um crescimento em volume e em valor muito semelhante ao ano passado, mas temos noção que vai haver uma quebra muito grande no segundo semestre”, declarou à Lusa.

O responsável da Sogrape adiantou que estão a tentar fazer os aumentos de preço de forma gradual “para tentar defender os consumidores”, mas reconhece que a rápida desvalorização do kwanza, que já vai em mais de 40% num mês, “vai levar a um aumento muito maior” do que os ajustes de 10% que fizeram no inicio de junho.

“Vamos fazer nos próximos dias um aumento de 20 a 25% e se o câmbio se mantiver assim, a inflação poderá provocar um aumento dos 50% dos produtos até ao final do ano”, descreveu.

O que se traduzirá num menor consumo e numa diminuição da qualidade: “o consumidor vai procurar um vinho que possa pagar”, disse, acrescentando que haverá também uma consolidação e nem todos os ‘players’ conseguirão adaptar-se a esta realidade, podendo inclusivamente o mercado angolano virar-se mais para outras origens.

Também para Rayan Karaan, representante dos vinhos Esporão, “o ano passado foi muito bom”, com um crescimento em torno dos 25%, mas antecipa-se “um desastre” em 2023.

“Já perdemos quase tudo [dos ganhos anteriores] e vamos perder ainda mais”, lamentou, mostrando-se apreensivo face às “perdas financeiras irrecuperáveis”.

“Eu cortei o meu orçamento em 50%, não vai ser nada fácil, as coisas estão muito instáveis”, disse, a propósito das variações cambiais, antecipando: “Vamos perder vendas”, continuou, explicando que os preços já aumentaram em 30% e que o consumidor tenderá por isso a procurar vinho mais barato.

Nuno Moinhos, da Angonabeiro, subsidiária do grupo Nabeiro em Angola que além de cafés, produz também os vinhos da Adega Mayor, adiantou que as vendas aumentaram cerca de 12% no ano passado, mas neste momento a situação é de “grande expectativa”.

“Vamos ver até onde é que a situação cambial vai evoluir, isso provoca obviamente algum stress momentâneo e vamos ter de o gerir”, disse, sublinhando que o objetivo é “não tomar medidas excessivamente conservadoras nem excessivamente radicais”.

Por outro lado, reconhece que, apesar da empresa já ter feito “alguns ajustes no preço”, vai ser necessário “um ajuste mais radical”, na ordem dos 30 a 40%.

“Vamos acompanhar os próximos dias para ver o que vai acontecer, acho que todos os agentes económicos estão com o mesmo problema”, apontou.

Face ao movimento inflacionário dos preços, a quebra do consumo “vai ser espelhada nos exercícios orçamentais que tivermos que fazer para assegurar a continuidade da empresas e que os consumidores continuam a consumir os nossos produtos”, afirmou o gestor.

Marco Pereira, diretor geral da Viniangola, importadora e distribuidora de vinhos portugueses e estrangeiros, disse à Lusa que o comportamento das vendas estava a ser muito bom, destacando o crescimento “incrível” dos brancos e rosés, até sofrerem o “travão” do câmbio.

“Neste momento é travagem a fundo, a partir do momento em que estamos num câmbio a 850 [kwanzas por euro] é quase impossível chegarem a vinhos médios que custam tanto hoje como custava ontem um whisky. É preocupante”, desabafou.

Os ajustamentos no preço são inevitáveis e Marco Pereira diz que num mês já apresentaram "duas tabelas diferentes”, com uma variação de 30%.

“Ou isto muda muito e há alguma estabilidade no câmbio ou então vai ser terrível, vai estagnar completamente o consumo e o que se vai consumir é um vinho de fraca qualidade, para ser muito barato”, reforçou.

Na semana passada, mais de 30 produtores de dez regiões vinícolas portuguesas apresentaram em Luanda quase 300 marcas de vinho na “Grande Prova” organizada pela Viniportugal.

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