Quarta, 23 de Julho de 2025
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Terça, 22 Julho 2025 22:36

Íntegra da entrevista do Presidente da República, João Lourenço, concedida à CNN Portugal

Estamos em Luanda, celebramos os 50 anos da independência de um país que a sonhou durante muito mais tempo. Hoje, Sr. Presidente, muito obrigado por me receber aqui, em sua casa, em Angola. Que país é este, 50 anos depois de tantas feridas que nos afastaram, nomeadamente dos portugueses? É um país independente e com todas as valências que vêm por detrás dessa expressão independência.

A independência vale sempre a pena, em 50 anos fizemos bastante, não obstante reconhecermos que nem tudo está feito, não há países que tenham tudo acabado, caso contrário também não haveria vida, tem que haver trabalho, obrigações, responsabilidades para todas as gerações. Portanto, os países são para si fazendo. E 50 anos para a vida de um país não é nada, absolutamente nada.

Nós estamos a procurar comemorar esses 50 anos da melhor forma possível, da forma mais efusiva, reconhecendo os feitos, mas reconhecendo também os nossos pontos fracos, que os temos, com certeza. Há um programa de condecorações de figuras, não só de nacionais, incluindo de estrangeiros, que de alguma forma serviram o país ao longo dos 50 anos, ou pouco antes dele, portanto contribuindo para que Angola fosse independente. E isso está a ter um grande impacto, as famílias estão satisfeitas, a sociedade está satisfeita, porque afinal de contas o reconhecimento é sempre algo que cai bem.

Mas para chegarmos a essa data, há 50 anos houve uma luta, houve uma divisão do próprio povo angolano, tudo isso está assarado hoje, Angola é uma democracia plena, completamente reconciliada. Uma divisão, pode ser mais explícito? Depois da independência, o país dividiu-se, uma guerra civil, irmãos contra irmãos, o afastamento até de Portugal, isto hoje ainda se sente na democracia angolana? Se quisermos ser rigorosos, não podemos considerar que o país esteve dividido, o país sempre foi, como nós dizemos, uno e indivisível, tivemos períodos muito curtos de ocupação de parcelas do nosso território, mas foram por períodos efêmeros. Mas tivemos o povo dividido.

A minha pergunta era nesse sentido. Quem os ocupou essas parcelas de terreno, pequenas parcelas de terreno, por tempos curtos, relativamente curtos, não constituiu o governo, não governou essas parcelas, portanto, daí o facto de nós dizermos que divisão propriamente dita não houve. Houve diferentes movimentos de libertação, que tinham visões diferentes de um país independente, estou-me a referir às três principais forças políticas da altura, hoje não são necessariamente as mesmas, portanto, referir-me a o MPLA, a FNLA e a UNITA, que são, no fundo, as forças políticas signatárias dos acordos de Alvor.

Houve muita interferência externa, sobretudo no quadro da Guerra Fria, nós acabamos por ser vítimas da própria Guerra Fria. A Guerra Fria, essa sim, é que dividiu o mundo em dois blocos diferentes, nós acabamos por ser apanhados por um dos blocos e isso custou-nos cerca de 27 anos de conflito armado, depois da independência. Hoje, 50 anos depois, estamos também com o mundo quase numa Guerra Fria.

Como é que olha para o que está a acontecer, nomeadamente com esta liderança de tonal durante os Estados Unidos e as dúvidas que se levantam, a China de um lado, a Rússia, os Estados Unidos do outro, vamos ter uma nova ordem mundial? Já se está a formar uma nova ordem mundial, todos os dias estamos, o que estamos a ver é precisamente isso, isso está sendo feito da melhor forma ou não, isso é discutido. Qual é a sua opinião? A minha opinião é que uma nova ordem mundial era necessária, impunha-se, mas nunca pela força das armas, portanto, nunca pela força das armas, nunca pela força, pela via da ocupação de territórios de países alheios, de países vizinhos, onde lamentavelmente o que impere é a lei da força, portanto, uma nova ordem mundial impunha-se no sentido de uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, uma reforma das principais instituições das Nações Unidas, do Banco Mundial, do FMI. Mas não é isso o que estamos a ver? Lamentavelmente não é isso o que estamos a ver, portanto, está-se a tentar forçar, está sendo desenhado um novo mapa-mundo em que, portanto, os centros de poder estão, digamos, a se movimentar.

O que é que isso vai dar? Eu temo que não nos esperam dias bons no futuro. Angola tem uma ligação forte com os Estados Unidos, Joe Biden teve uma das últimas ações aqui com um grande investimento estruturante, não só para Angola, mas também para os países vizinhos. Qual é a sua relação nesta altura com Donald Trump e com esta nova administração da Casa Branca? As nossas relações com os Estados Unidos da América continuam boas, até aqui não sentimos nenhuma alteração.

Não têm tarifas, não estão no alvo? Do mês de janeiro para cá, portanto, desde a tomada de posse do presidente Trump, especulou-se de alguma forma que ele iria abandonar o corredor do Lobito, abandonar no sentido de não apoiar, mas não é isso o que estamos a sentir, nós realizamos há relativamente pouco tempo aqui em Luanda uma cimera de negócios entre os Estados Unidos da América e a África e a mensagem que ouvimos aqui em viva voz da parte americana é que o apoio americano vai continuar. Angola é um país curioso, nesta nova administração. Aliás, basta dizer que agora mesmo, a semana passada, o Afresimbanco americano anunciou a aprovação de um valor de quase 300 milhões de dólares para financiar a aquisição de alguns aparelhos da Boeing para a nossa companhia aérea, a TAAG.

Estava a dizer, olhando para este novo mapa que se desenha, que Angola tem uma posição curiosa, tem boas relações com a China, teve, e não sei em que ponto estão, boas relações com a Rússia e tem ótimas relações também com os Estados Unidos que estão num projeto estruturante. Angola pode ser uma ponte também para esta nova organização e pode ajudar a construir este novo mundo? Eu acredito que sim. Angola pode ser, digamos, melhor utilizada, entre aspas, no sentido de falar com todos, porque nós temos essa capacidade, estamos bem com qualquer um deles, não obstante termos a nossa opinião, por exemplo, com relação à agressão russa à Ucrânia.

Mas mantém boas relações com a Rússia? Mantemos, com certeza, com certeza, uma relação que há muitas décadas não se rompe assim de um dia para o outro. O que há de bom em nós é que temos tido a coragem de, olhos nos olhos, dizermos aos nossos amigos que vocês estão bem ou vocês estão errados, e entre amigos deve ser assim. E tem feito isso? Com certeza, com certeza que temos feito isso.

Temos feito isso, quer no contato direto, quer mesmo em declarações públicas, em que todos ouvem, inclusivamente eles próprios. Portanto, Angola pauta por manter boas relações, de preferência com todos os países do mundo. Dizem que não haja razões para deixar de ser assim, a nossa diplomacia continuará a atuar desta forma.

Angola tem também um papel muito importante na pacificação necessária de África, que tem sido difícil e complicada. Tem no seu currículo uma recente vitória. O que é que é preciso fazer de forma decidida para que este continente finalmente encontre uma paz muito mais alargada? Em primeiro lugar, precisamos de ter mais coragem a apontar, a condenar, digamos, todos aqueles que contribuem de forma negativa para a paz e a segurança do nosso continente.

Alguns dos promotores das guerras alegam ter as suas razões. Nós temos que ouvi-los, portanto não podemos deixar de ouvi-los e é assim que, por exemplo, com relação aos países do Sahel, que até se retiraram da União Africana, alguns deles, três ou quatro pelo menos, agora na minha presidência da União Africana, nós estamos a restabelecer os contactos com eles. Estou-me a referir ao Níger, ao Burkina Faso, ao Mali e à Guiné.

Porque entendemos que se cometeram erros ou não, eles não deixam de ser países africanos. Continuam a ser países africanos e a União Africana tem que olhar para todos, sem distinção. Evidentemente, condenando ali onde é preciso condenar e procurando puxar para que eles regressem à normalidade constitucional, exemplo do que já aconteceu, acabou de acontecer com a República do Gabão.

Portanto, o abandono não é a solução, a solução é dizer, olha, para que vocês regressem à normalidade constitucional e sejam tratados de forma igual a todos os demais, precisam de fazer isso, aquilo e aquilo e nós estamos aqui para ajudar e não para complicar. Portanto, é o que nós estamos a fazer. Desde Pular para a Europa vai fazer no próximo fim de semana uma visita a Portugal.

Um dos temas que está na nossa agenda é esta lei dos estrangeiros. Tem obtido informação sobre o que está a acontecer e o efeito que isto pode ter nas relações Portugal-Angola, mas também no interior da Cplp, onde se percebe que há aqui algum incómodo? De facto, existe algum incómodo. O Brasil teve a coragem de manifestar já esse mesmo incómodo, nós até aqui não dissemos nada, mas é evidente que estamos a seguir a evolução da situação com muita atenção.

Os países são soberanos, portanto, têm as suas políticas de imigração, você só recebe na sua casa quem você quer, ninguém lhe pode impor, o João tem que ter as portas abertas para aquele que o mandar para lá, mesmo sem estar de acordo. Isso por um lado, mas, por outro lado, pensamos que não se deve fugir muito daquilo que é a prática internacional em termos de imigração. Se tivermos em conta que hoje são uns, amanhã são outros, ou no passado foram outros.

Portugal mesmo é um país de cidadãos que imigram bastante, e que não é de hoje, portanto, o passado de Portugal está muito ligado à imigração para o mundo de uma forma geral, para a Europa, para a América Latina. Mas deixa-me terminar, portanto, os portugueses emigraram para todo o mundo e o mínimo que a gente exige é que Portugal não trate os imigrantes, que escolheram Portugal como destino para fazerem suas vidas, de forma pior a que foram tratados nos países que os acolheram ao longo dos anos. Portanto, é este, assim muito genericamente, o apelo que nós fazemos a Portugal, porque de uma forma geral, se houver exceções, todos os países têm imigrantes.

O presidente da República ainda não promulgou a lei, vai estar com ele, será um dos temas da conversa, sem revelarmos a agenda que leva daqui de Luanda esta lei. Eu penso que sim, não apenas nós, Angola, temos imigrantes em Portugal, mas até na minha condição hoje de presidente em exercício da União Africana, tenho de alguma forma de falar pelos africanos, de uma forma geral, e há bastantes africanos de diferentes nacionalidades que escolheram Portugal como... Mas são realidades diferentes. O Cplp, com esta ideia de uma livre circulação de pessoas, como se chegou a defender, e o resto do mundo.

Acha que o Cplp corre o risco de ruir neste lado fundamental, neste pilar que é quase fundador da comunidade, podemos circular entre todos? É nossa obrigação, enquanto Estados-membros da Cplp, incluindo Portugal, tudo fazer para evitar que isso possa vir a acontecer. Portanto, vamos trabalhar todos em conjunto, incluindo Portugal, para não fazer descambar esse grande projeto de comunidade que é a Cplp. As ausências nesta última cimeira são um sinal deste incómodo da Cplp com esta lei.

A começar por Portugal, o presidente da República pela primeira vez não o esteve, o senhor presidente também não o esteve, e a cimeira acabou por ser muito apagada. Eu não acredito que a razão seja essa da imigração. Se a cimeira fosse em Portugal, talvez alguns países africanos não estivessem presentes com esse argumento.

Com esse argumento de que Portugal está mexendo na lei dos estrangeiros e a gente não vai, digamos, como um sinal de protesto ou de manifestação de descontentamento. Portanto, não me parece que a razão seja essa e, de resto, os chefes de Estado têm sempre agendas muito preenchidas. Tantos chefes de Estado ao mesmo tempo? Foi uma coincidência? Não foram assim tantos, o que eu saiba foram três, exatamente, Angola, Portugal e Brasil.

Cada um teve as suas razões para não estar presente e muitas vezes não temos a obrigação de ter que justificar. O importante é o país, o país esteve, no caso de Angola, Angola não esteve ausente, Angola esteve presente. Sim, mas não esteve o presidente.

Está bem, mas isso nem sempre acontece, seria bom que estivesse, mas às vezes não dá e quando não dá estamos representados, é normal nas relações internacionais. A relação com a União Europeia tem sido uma das apostas da União Africana, também da Angola, mas a porta da entrada tem sido Portugal. Como é que estão os negócios? Está a começar a filda, encontrei hoje de manhã aqui no hotel uma série de empresários portugueses que vêm mostrar os seus produtos e levar daqui certamente algum investimento.

Estamos francamente abertos a continuar a fazer bons negócios dos dois lados? Bom, a porta de entrada da África para a Europa não é propriamente Portugal, não parece que isso seja verdade, nem mesmo da Angola, se quisermos ser sinceros, nem mesmo da Angola, porque nós temos a liberdade de estabelecer relações de amizade e de cooperação diretamente com qualquer país europeu, sem termos que passar necessariamente por Portugal. Portanto, as relações do nosso continente com o continente europeu são boas, são boas, vamos ter dentro de pouco tempo aqui mais uma cimeira, portanto, no dia 25 de novembro aqui em Luanda, por sinal aqui em Luanda, União Europeia-África, e acredito que vai ser uma boa oportunidade para, digamos, procurar consolidar aquilo que ganhámos ao longo dos anos dessa nossa relação e perspectivar, portanto, o futuro da relação entre os dois continentes. Faço esta pergunta, voltando ao início da nossa conversa, porque os Estados Unidos nesta altura estão a pressionar a Europa e outros blocos com a questão das tarifas, e a Europa tarda em encontrar alternativas de negócio.

Poderá passar por aqui, a África, esse campo que a Europa pode explorar aqui em alternativa aos Estados Unidos? A África apresenta-se como essa alternativa? Bom, a Europa pode e deve manter boas relações de cooperação com os países do continente africano, independentemente da relação que tem ou a perspectiva vir a ter com os Estados Unidos da América. Portanto, isso aqui não é uma questão de troca, as relações com os Estados Unidos hoje por qualquer motivo não estão lá muito boas, então vamos nos virar para a África, eu acho que isso não é, as coisas não funcionam assim. A Europa deve procurar tirar o maior proveito possível das relações que tem com o continente e talvez dizer que a Europa está numa posição privilegiada, portanto, a Europa esteve cerca de cinco séculos no continente africano.

Conhece bem a África? E se ao longo desse tempo não tirou o melhor proveito possível desta relação privilegiada, repito, eu creio que só perdeu. Só perdeu. Só perdeu porque está em vantagem.

Está a tirar esse partido que deveria? Não está, a nosso ver, não está. Poderia ter feito muito mais, em benefício de ambos os lados, em benefício da própria Europa, mas também em benefício da África, obviamente. A África precisa de atingir um outro nível de desenvolvimento, precisa de investir bastante em infraestruturas, em estradas, portos, caminhos de ferro, infraestruturas de produção e distribuição de energia, e para isso poderíamos contar muito mais com a Europa.

Mas isso nem sempre tem acontecido. Deixe-me olhar aqui para o seu país, 50 anos, uma democracia que se prepara de novo para eleições presidenciais, mudança de ciclo, autárquicas, também uma reorganização do país. O que é que vai acontecer nos próximos tempos? Já pensou na sucessão, por exemplo? É evidente que penso todos os dias, penso calado, como se diz.

Não seria verdade dizer que não penso, tenho que pensar, é meu dever pensar, porque não podemos deixar que o país fique nas mãos de um qualquer. Portanto, é minha obrigação ajudar a encontrar um substituto, quem vai substituir? E digo ajudar porque, pronto, não depende apenas da minha vontade, mas com certeza que estou em melhores condições do que qualquer outro cidadão de indicar o rumo a seguir. O que eu pretendo é que quem quer que seja que venha a me substituir, seja igual ou melhor que eu, que faça igual ou melhor que eu.

Se não conseguir isso, ficarei com remorso, ficarei sem terminar, digamos, de alguma forma responsabilizado por isso. Portanto, a minha luta é essa, é tudo fazer, respeitando tudo, respeitando a nível do partido, os estatutos do partido, a nível do Estado, a Constituição da República e as leis, fazer tudo para encontrar alguém que faça por Angola no mínimo igual ou de preferência melhor do que eu tenho vindo a fazer nesses anos de mandato. Tem falado muito pouco sobre isso, mas quando se olhava para o passado, para alguns generais que tiveram um papel importante até na independência, o seu presidente quis olhar para o futuro.

O que é que queria dizer com isso? Se é que quer ser um bocadinho mais claro sobre essa sua ideia de quem deveria ser o próximo presidente de Angola, qual seria o perfil? Se bem entendi, está-se a referir ao facto de eu ter falado muito na necessidade de apostar na juventude, é isso? Exatamente. O que é que quer dizer? O que é a juventude? O que é a juventude? Há 47 anos atrás, tivemos a infelicidade de perder o presidente Augustino Neto, o primeiro presidente de Angola, quem proclamou a independência de Angola, e já naquela altura quem assumiu as regras do poder foi um jovem, que só tinha 37 anos. Então, o João acha que hoje, 47 anos depois, ou mais, quando haver as eleições em 2027, aí serão 50 anos depois.

50 anos depois de o presidente Eduardo Santos ter assumido a presidência da república. Ele acha que vamos regredir, vamos pôr alguém de 90 anos, vamos andar para trás. Se naquela altura já se teve a visão de se pensar num jovem, claro que não, foi um jovem qualquer, um jovem que, no nosso entender, estava preparado para assumir essa responsabilidade.

E hoje temos igualmente, não um, nem dois, nem três, temos alguns jovens que, com certeza, estarão, quando chegar o momento, em condições e preparados, de todos os pontos de vista, a assumir as regras da governação de Angola. Angola, tal como Portugal e muitos outros países, tem tido dois, três partidos fortes, mas isto está a ser um bocadinho desmanchado por dentro, com o aparecimento de movimentos inorgânicos. Também aqui em Angola, vocês têm tido alguns protestos, com os táxis, com os combustíveis, que nascem nas redes sociais com lideranças que não se conhecem muito bem.

Está preocupado com esta nova realidade, sem rosto, que quer também entrar na política? Só estar preocupado não é remédio, precisamos estar preparados para conviver com essa realidade, que é universal, hoje é universal, conviver com ela e saber contornar dentro daquilo que a lei permite, portanto, sem fugir a ela, saber lidar com esta realidade que é universal, com uma tendência de piorar agora com o surgimento da inteligência artificial. Portanto, esta questão das redes sociais, das vantagens que são conhecidas, que têm muitas vantagens, mas os perigos das redes sociais vão se agravar à medida que a inteligência artificial se for afirmando mais. Mas isto mostra também, e não é exclusivo de Angola, que há uma juventude que se informa nas redes sociais, que não consome informação tradicional, não vê a CNN, não vê outro tipo de órgãos de comunicação e que acaba por agir por impulso, vem para a rua, provoca caos, destrói.

Como é que se controla esta geração? Como é que se traz esta geração para o lado da esperança, como eu costumo dizer? O direito à manifestação está previsto na nossa Constituição e na lei, portanto, o problema não é a manifestação. O problema é, digamos, as tentativas de crime que podem surgir por detrás das manifestações. Portanto, se um cidadão queima viaturas que encontra na via pública, queima, vandaliza, amachuca viaturas, põe fogo nos contentores de lixo, isso se chama manifestação, isto é crime.

Então, se é crime, deve ser tratado como crime. É uma questão de separar o trigo do joio. O que é manifestação? É um direito, o Estado até tem a obrigação de proteger esses que estão a se manifestar.

Está lá a polícia, mas não está para reprimir, está para protegê-los. Agora, se no meio dessa massa de pessoas de boa fé que estão a reivindicar algo que pensam ser um direito seu, e é normal que assim pensem e ajam, surgirem infiltrados, como a gente costuma dizer, com outras intenções e que pratiquem o crime, devem ser tratados. Mas isso vai acontecer também em Angola? Com certeza, com certeza.

Está a acontecer, não com a dimensão que a gente viu, por exemplo, naquele momento do movimento dos coletes amarelos em França. A dimensão é numa outra escala, muito mais pequena, mas com certeza está a acontecer. E está atento a isso aqui em Luanda, em particular?

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Last modified on Quarta, 23 Julho 2025 00:13