Num comunicado hoje divulgado, o Mudei considera que os protestos e tumultos, que coincidiram com a paralisação de três dias dos taxistas, foram catalisados pela “indignação acumulada contra a fome, o abandono e a ausência de perspetivas”.
Segundo o Mudei, o aumento de 33% no preço do gasóleo, implementado “de forma abrupta e sem qualquer consulta ou programa de mitigação social”, teve um “efeito imediato e devastador no aumento do custo de vida”.
O movimento lamenta que o protesto “legítimo” tenha degenerado "em convulsões e saques” e que a resposta estatal tenha sido dada “com o único argumento que conhece, o da repressão, confrontos”.
Para o Mudei, a resposta das autoridades foi “desproporcional”, resultando num “balanço oficial trágico” com “30 mortos, incluindo jovens e uma criança”, “277 feridos, alguns em estado grave” e “1.500 pessoas detidas, muitas ainda sem acesso a defesa legal”.
“Entre os mortos encontra-se uma mulher que foi baleada pelas costas, num ato de brutalidade policial que simboliza o desprezo absoluto pela vida humana”, denuncia.
“O discurso oficial reduziu a complexidade da crise a meros ‘atos de vandalismo’, ignorando as causas estruturais da revolta”, lê-se no comunicado do Mudei, que critica ainda a mobilização do exército, que “representa uma perigosa militarização da resposta a um problema social”.
O movimento afirma que “os eventos recentes demonstram um profundo divórcio entre o Estado e o povo. Um Estado que governa por imposição, que reprime a contestação e que se recusa a dialogar”.
O Mudei pronunciou-se também sobre “o silêncio do ocupante do cargo de Presidente da República (…) profundamente revelador e inaceitável”.
João Lourenço falou hoje à nação, após três dias de distúrbios em Angola e críticas ao seu silêncio, apontando o vandalismo como “atos de sabotagem” e aludindo à orquestração de ações criminosas.
Para o Mudei, a ausência de palavra de consolo ou responsabilização “revela a indiferença, a total falta de empatia e o distanciamento que existe entre si e aqueles que a sua posição obriga a representar”.
“O que testemunhámos não foi desordem; foi o eco de injustiças acumuladas”, sustenta por seu lado o movimento cívico, apontando uma equação “clara: Aumento do combustível + repressão + fome = explosão social”.
O Mudei defende a “imediata responsabilização criminal dos agentes e das linhas de comando envolvidos nas mortes e nos ferimentos ocorridos”, bem como a abertura de um “diálogo público, sério e inclusivo” sobre os impactos sociais do aumento dos combustíveis.
Entre as reivindicações incluem-se também “o fim da criminalização da pobreza”, o “respeito incondicional pelo direito ao protesto popular” e a implementação de “políticas redistributivas visando a justiça social, reais, construídas com transparência, inclusão e compromisso com o bem comum”.