Silva Mateus, que integra a Comissão para a Reconciliação em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos, falava hoje à imprensa no final de mais uma reunião que serviu para fazer o balanço dos trabalhos em 2019.
O sobrevivente do 27 de maio de 1977, data de uma tentativa de golpe de Estado em Angola, disse que das propostas apresentadas à comissão muitas foram acolhidas, como a construção do memorial, a realização do comba e outras questões, mas falta uma que preocupa muito os filiados, nomeadamente os militares presos no 27 de maio.
"Depois de soltos nunca trabalharam, até este momento, e estão com 50, 60 anos, a proposta é que estes elementos, depois de triados e devidamente confirmados, sejam inseridos na caixa social das Forças Armadas Angolanas ou que se lhe encontre um outro método de buscar o subsídio até à sua morte, esta é uma das questões com que nós nos debatemos", explicou.
Outra preocupação apresentada prende-se com o desejo de ver a fundação, com 4.000 filiados, entre órfãos, viúvas e familiares, reconhecida como uma instituição de utilidade pública, tendo direito ao Orçamento Geral do Estado.
"Como outras fundações. São questões que vão ser entregues à comissão especializada para tratar do assunto e a comissão encaminhar a quem de direito taxativamente, no caso concreto dos ex-militares o Estado Maior General das FAA, os ministérios da Defesa, das Finanças, daí por diante, mas estamos em crer que este processo vai ter o seu fim benéfico, porque há compreensão, interação, e acima de tudo cedência nalguns princípios", frisou.
Silva Mateus destacou a informação prestada hoje pelo coordenador da comissão relativamente ao encontro que manteve com "uma delegação dos ex-DISAS".
"Ficamos muito satisfeitos em saber que, os que nós apelidamos de matadores, tiveram que dar a cara, apareceram junto do ministro, o coordenador, a dizer que vão resolver o problema, eles estão dispostos a colaborar, a abrir o processo e dizer muita coisa que continua omissa até este momento", salientou.
Relativamente ao processo de reconhecimento e certificação de óbito das vítimas, Silva Mateus disse que "está um bocado complicado, porque é preciso um trabalho de identificação, depois triagem, ADN, para identificar as pessoas".
"Nós nos apegamos somente em 11 pessoas, que o Estado diz terem sido julgados, condenados e fuzilados. Se essas 11 pessoas, o José Van-Dúnem, cuja irmã é a ministra da Justiça de Portugal, falou sobre assunto, e o Edgar Vales, irmão da Sita Valles - e aqui parece-me que há uma luz verde nesse sentido - (?), se essas pessoas forem enterradas simbolizaria o enterro das 80 mil pessoas que estão espalhadas em valas comum espalhadas por essa Angola", disse.