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Sexta, 12 Setembro 2025 13:59

João Lourenço acusado de usar medalhas como propaganda

Condecorações em Angola geram polémica. Ativista angolana denuncia falta de transparência nas condecorações dos 50 anos da independência e acusa o Presidente João Lourenço de usar homenagens como propaganda política.

A 5.ª Cerimónia de Condecorações, presidida pelo Presidente da República, João Lourenço, marcou a entrega das medalhas comemorativas dos 50 anos da Independência Nacional a diversas figuras públicas, entre elas Laurinda Prazeres, Mário Fernandes, Simão Wala, Ricardo d'Abreu e Teresa Dias.

Foram homenageados profissionais das áreas da saúde, cultura, comunicação social e desporto. No jornalismo, destaque para Paulino Damião (a título póstumo), Teixeira Cândido, Pedro Neto (RNA), Paulo Julião (TV Zimbo), Neto Júnior (TPA) e Jorge Gomes, conhecido como "Man Gomito" da Rádio Mais. Também foram distinguidos músicos como C4 Pedro, Yola Semedo e Anselmo Ralph, além de atletas como Manucho Gonçalves. Na vertente política e social, foram condecorados os governadores Nuno Dala e Narciso Benedito, entre outros.

Contudo, as distinções geraram críticas. Em entrevista à DW, a ativista angolana Laura Macedo questionou a legitimidade e os critérios das homenagens, acusando o Presidente João Lourenço de usar as condecorações como ferramenta de propaganda política.

"Há muita gente a ser condecorada que não vale sequer o chão que pisa. Temos assassinos, pessoas que nunca contribuíram para o Estado angolano. Não é por se ter trabalhado para um Governo ou partido que se merece uma medalha", afirmou.

Laura Macedo criticou ainda a falta de transparência no processo, revelando que os homenageados são convidados a enviar biografias apenas depois de os seus nomes já constarem nas listas oficiais.

A cerimónia, que pretendia celebrar meio século de independência, acabou por levantar questões sobre o uso político das homenagens e a necessidade de maior rigor e transparência nas distinções atribuídas pelo Estado angolano.

DW África: Na sua opinião, as condecorações mantêm o peso simbólico de outros tempos ou estão a ser banalizadas pelo excesso de distinções?

Laura Macedo (LM):  Acho que há muita gente a ser condecorada que não vale sequer o chão que pisa. Temos um problema grave com este exagero nas condecorações. Sinceramente, se tivesse um familiar direto que tivesse feito algo realmente digno de uma condecoração do Estado angolano, não permitiria que fosse misturado com este grupo. Temos assassinos, pessoas que mataram e continuam a matar. Gente que nunca contribuiu com nada para o Estado angolano. Não é por se ter trabalhado para um governo ou para um partido que se merece uma condecoração. O Estado é muito maior do que isso. Tenho pena que tanta gente se sinta lisonjeada por receber estas medalhas.

DW África: Que critérios deveriam ser prioritários para distinguir figuras públicas com medalhas nacionais, na sua opinião?

LM: Por exemplo, a medalha pelos feitos relacionados com a independência é algo muito sério. Deve ser atribuída a quem realmente merece. Não posso aceitar que alguém que, logo após a independência, correu para Portugal para manter a nacionalidade portuguesa, receba uma medalha do Estado angolano. Esse homem é um traidor. Se lutou contra o colonialismo, como é que agora ostenta um bilhete de identidade e um passaporte do país que nos colonizou? Como é que isso é possível?

DW África: A inclusão de músicos, jornalistas e governadores na mesma cerimónia pode diluir o significado destas homenagens?

LM: Reconheço que houve jornalistas com relevância, principalmente no pós-independência. Agora, misturá-los com maus governantes? Não. O problema é que estão a homenagear os amigos. Um amigo meu contou que lhe perguntaram: "O teu pai não foi homenageado?" E ele respondeu: "Não". Pediram-lhe o nome completo e uma biografia. Estão a pedir biografias depois de publicarem os nomes nas listas. Que critérios são esses? Se nem conhecem os feitos das pessoas?

DW África: Ou seja, sente que em Angola não existe transparência suficiente neste processo?

LM:  Em Angola não há transparência em nada. O Governo angolano não é transparente. Desde a independência, não há nada que se possa dizer: "Isto está certo." Nada é incontestável. Não existe.

DW África: Como é que estas distinções podem ser utilizadas como ferramenta política pelo Governo ou pelo Presidente da República?

LM:  É isso que o Presidente da República está a fazer. É propaganda política, tal como as inaugurações de hospitais que não funcionam. Não temos pessoal para operar os equipamentos que lá colocam. É campanha, e mal feita. De que serve homenagear pessoas que o povo sabe que são assassinos? Misturam os carrascos do 27 de maio com as vítimas. Recebem a mesma medalha, no mesmo dia. Já deu problemas.

DW África: O que poderia ser feito para garantir que as condecorações representem efetivamente mérito e serviço à nação?

LM:  Criar uma comissão séria, com pessoas mais velhas da sociedade civil. Gente que viveu aquele tempo, que conhece as histórias. Faltou escrutínio público. Ninguém se orgulha dos homenageados. Aquele de quem me orgulho está a ser homenageado no mesmo dia que o bandido. A vítima e o assassino sobem ao palco juntos. Que credibilidade tem isso? Estão a escolher amigos, pessoas que nunca fizeram nada. Falam de desenvolvimento? Que desenvolvimento?

DW África: Referiu também o custo das medalhas…

LM:  Isto serve para extorquir dinheiro ao Estado. Disseram que as medalhas eram de ouro maciço. Aquilo é latão brilhante. Agora dizem que é banhado a ouro. Estamos a brincar? Num país com fome, gastam milhões de dólares em medalhas. Esse dinheiro devia ser usado para formar professores.A maioria não tem serventia porque são malformados.

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