Só mesmo a UNITA pode esclarecer, com verdade extrema, as motivações que a levaram a votar favoravelmente, juntamente com o MPLA, pela eleição do Dr. Adão de Almeida para o cargo público de Presidente da Assembleia Nacional.
Fala-se, à boca pequena, no ardiloso mercado da politicagem ordinária, que a UNITA votou favoravelmente na eleição de Adão de Almeida com a intenção clara de tentar evitar que o mundo da politicagem social percebesse que a bancada da UNITA não estava — e continua a não estar — solidária com a então Presidente Carolina Cerqueira.
Para piorar ainda mais o etílico espírito escabroso da política doméstica, a UNITA faltou com a verdade ao não esclarecer as verdadeiras motivações desse inesperado e inconsequente apoio à votação do agente de João Lourenço na Assembleia Nacional.
Isso só comprova que essa votação é auspiciosa e demonstra haver um alinhamento esquisito entre os partidos que alimentam o espectro do arco da governação.
Esse tipo de atuação da UNITA afugenta o simples cidadão mortal que gostaria de continuar a apostar na UNITA para 2027.
Essa UNITA, que sairá certamente mais unida e fortalecida do seu congresso ordinário, tem de perceber que o angolano não é nenhum desqualificado pensionista alocado ao partido de Jonas Savimbi.
Se a UNITA deduz que o angolano é um ser não pensante, e que aceita todo tipo de esquizofrenia política delirante, que se desenganem rapidamente, pois o angolano sabe bem o que quer.
Por outro lado, é bom que percebam que hoje o cardápio oferecido para enquadramento político é vasto e, apesar de não haver nessa vastidão nenhuma qualidade de ideias e princípios políticos ou ideológicos, ainda assim serve para alimentar o ego dos cidadãos deixados à deriva, perdidos no angustiante oceano trevoso do desespero.
Ainda assim, suas almas serão aconchegadas temporariamente com dinheiro roubado para alimentar materialmente esses partidos satélites do inigualável partido-Estado.
É inacreditável — e extremamente difícil de acreditar — que a UNITA, nesses 50 anos de país político, não tenha aprendido a distinguir a diferença entre adversários e inimigos no jogo político.
Outro senão é não ter ainda entendido aquilo que o simples mortal já entendeu há muito tempo.
Ora, é facilmente entendível que o MPLA não enviou de rompante o Dr. Adão de Almeida para “controlar” a Assembleia Nacional, pois ela já estava totalmente controlada com a presidência da Dra. Carolina Cerqueira.
Está mais que claro que o Dr. Adão de Almeida não caiu de paraquedas no centro nevrálgico da casa das leis para torná-la mais eficiente e independente administrativa e financeiramente.
Está claro que o atual Presidente da Assembleia Nacional tem uma agenda com contornos nublosos.
Que fique claro: o Presidente João Lourenço não deseja apenas manter sob sequestro o MPLA; ele quer — e vai — manter capturado o Estado e, assim, continuar a todo custo na presidência do país.
Todos os movimentos do Presidente da ditadura falam por si e levam-nos a fazer leituras dos seus passos, acompanhando as mexidas com que tem brindado o país e os angolanos em particular.
Além de servirem como distração, essas mexidas falam igualmente das suas reais intenções.
Como exemplo, basta acompanhar a recente nomeação da diretora-adjunta do SINSE. Sabe-se que ela não tem perfil adequado para ser a imediata de Fernando Garcia Miala.
Ela foi lá colocada pelo vindouro diretor-geral do SINSE — falo aqui do novo diretor já escolhido, que chegará em breve à ribalta.
É importante acompanhar as próximas mexidas para se perceber, com clareza, as jogadas imprecisas da real politique.
Os sinais já estão lá, bem visíveis para todos que querem olhar com olhos de ver.
O país judiciário já foi completamente sequestrado.
A PGR, os tribunais Supremo e Constitucional já estão controlados pelos seus presidentes, que, por sinal, são membros seniores do MPLA.
O Ministério do Interior tem à sua cabeça um elemento da extrema confiança do Presidente e membro do Bureau Político; no Ministério da Defesa está o Liberdade, outro membro do Bureau Político.
Espera-se que Fernando Miala seja eventualmente alocado, em breve, ao Ministério da Defesa.
Aguarda-se ainda uma eventual realocação, ou seja, a rentrée de um general recentemente saído, mas que reaparecerá para substituir outro general que sairá — no caso, sairá o General Francisco Furtado.
Só a UNITA não observou isso, não se protegeu, e votou favoravelmente em Adão de Almeida — aquele que foi enviado para despedaçar a UNITA — e já começou a cumprir o seu papel demolidor.
Ele vai liderar o derrube da UNITA com punho de ferro; foi enviado para comprar deputados e garantir, desse modo, o terceiro mandato do ditador.
As perseguições já começaram.
Quatro deputados foram notificados repentinamente e enquadrados em processos inaceitáveis.
Esse é o preço que se paga quando se é um partido claramente forte, mas que passa sentidas mensagens de fraqueza.
Meus senhores, a UNITA é forte e sábia; porém, falta-lhe visão e ciência para redimensionar a sua grandeza.
É importante cooperar competentemente com a sociedade, sobretudo com aquela formadora de opinião.
Mas esse é outro assunto que certamente será abordado em outra oportunidade imediata.
Estamos juntos.
Por Raúl Diniz

