Rufino Fernando António, de 14 anos de idade, foi morto à queima-roupa, disse o tio Rui Domingos, que acrescentou que a família não recebeu qualquer apoio das autoridades. Isto acontece numa altura de grande tensão na área devido à demolição de milhares de habitações.
Os bairros Walale, no Zango 2 e Zango 3, estão cheio de agentes das Forças Armadas Angolanas (FAA), que orientam a demolição de mais de duas mil casas.
Contactados pela VOA o tenente-General, Simão Carlitos Wala, que comanda aquelas forças, que sem gravar a entrevista lamentou o sucedido e garantiu estarem em curso investigações.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador de direção da SOS Habitat, Rafael Morais, disse que aquela organização de defesa dos direitos da habitação está a acompanhar de perto a situação, que considerou "altamente lamentável".
O ativista referiu que as demolições, assunto que está a ser fortemente questionado na sociedade angolana, tiveram início no dia 31 de julho.
Desde essa data a organização tem realizado várias ações no sentido de perceber o que está na base desses atos, atribuídos pelos moradores à Zona Económica Especial e a sua execução a cargo de militares.
Segundo Rafael Morais, a SOS Habitat está a trabalhar com a comunidade, tendo já feito deslocações à Zona Económica Especial e à administração municipal de Viana.
Rafael Morais disse que dos contactos efetuados apenas foram atendidos pelo gabinete jurídico da administração municipal de Viana, onde foram informados que é do seu conhecimento o processo de demolições, mas as razões apenas o administrador está em condições dar.
Na administração municipal de Viana, a SOS Habitat ficou a saber de outras demolições na zona do Zango II, porque alguns moradores ali se encontravam para reclamação.
"Peguei essas vítimas e fomos a um bairro chamado Walale e vimos que a maior parte das demolições foram dirigidas para obras, que estavam a ser erguidas aí, algumas não foram partidas, porque os donos se encontravam no local e supostamente deram algum dinheiro aos senhores que estavam lá a demolir", avançou o responsável.
De acordo com Rafael Morais, as demolições continuaram até sábado, dia em que o menor Rufino Fernando António, de 14 anos de idade foi baleado por um militar quando reclamava sobre a demolição das casas.
"Apercebi ontem [domingo] quando estava na igreja e dali desloquei-me para esse bairro, onde fui até à casa do óbito confirmar realmente a morte do Rufino Fernando António ", contou.
Os familiares da vítima informaram que o cadáver foi alegadamente levado por militares para parte incerta, depois de dispararem para dispersar os populares ao redor e apenas no sábado o corpo foi localizado numa morgue de Luanda, registado "como uma criança desconhecida que foi morta a tiro".
"Hoje fomos à morgue com os familiares (...) fez-se o registo oficial e mantém-se [o corpo] na morgue do [hospital] Maria Pia, sem condições para o funeral", disse Rafael Morais.
"A SOS Habitat vai avançar para outros passos, para a justiça, para que a justiça seja feita. Vamos ajudar a família a arranjar um advogado no sentido de poder saber o que é se passou ou de encontrar o autor do disparo contra o rapaz", disse.
Rafael Morais disse que no Zango II mais de 2.500 famílias foram afetadas pelas demolições e no Zango III mais de 620 residências.
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