A posição está expressa num comunicado do conselho permanente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), enviado hoje à Lusa, em que a Igreja angolana pede ainda "calma", lamentando a "ocorrência e os aproveitamentos daí derivantes".
Em causa estão as denúncias tornadas públicas esta semana pelo diretor da rádio católica angolana, padre Quintino Candanje, sobre a existência de organizações internacionais, nomeadamente a UE, que financiam órgãos de comunicação social em Angola com vista a derrubar o poder atual.
A delegação da UE classificou estas declarações como "infundadas", salientando que "não correspondem aos objetivos, gerais ou específicos" dos programas de financiamento comunitário.
Na sequência, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, disse quinta-feira ter informações que apontam no mesmo sentido das denúncias do diretor da Rádio Ecclesia.
"Nós também temos essas informações, de algum modo. Não as temos tão oficialmente assim, mas temos por algumas vias, de que há alguma intenção de criar alguns distúrbios, incluindo Angola e países vizinhos", disse Chikoti.
Em causa estão programas de financiamento a órgãos privados, com os quais, disse o diretor da Rádio Ecclesia - que beneficiou de um desses programas comunitários -, se pretende "provocar uma alternância do poder através da imprensa".
As críticas do padre Quintino Candanje foram refutadas na quarta-feira pela delegação da UE que, em comunicado, divulgou que aguarda a devolução de mais de 149 mil euros, o remanescente de 234.736 euros de um programa de financiamento à Rádio Ecclesia de Angola, para o seu projeto de manter "melhor informados os cidadãos".
A informação é confirmada igualmente no comunicado da CEAST, que refere só ter sido informada em março passado sobre a necessidade dessa devolução - ainda por concretizar -, mas sublinhando o propósito da Rádio Ecclesia de promover, através de parcerias "dentro e fora do país", uma "informação imparcial, educação cívica e patriótica", garantindo ainda a "justiça e a democracia".
Sobre o financiamento da UE, a CEAST afirma: "Todavia, nunca foram informados nem menos alertados que tais financiamentos tinham como fins os anunciados pelo diretor da radio", lê-se no comunicado.
"Em face do sucedido, a CEAST pede calma e ponderação entre o diretor da Rádio Ecclesia e a delegação da União Europeia. Outrossim, lamenta a ocorrência e os aproveitamentos daí derivantes e espera que a Rádio Ecclesia feche quanto este dossiê", refere ainda o comunicado.
Sobre este caso, o chefe da diplomacia angolana chegou mesmo a fazer um alerta: "Temos que nos preparar para este fim. Acho que é muito importante que a nossa sociedade e a nossa imprensa estejam preparos para que não vá no sentido do que alguns países gostariam de fazer aqui. Nós estamos relativamente bem avisados sobre algumas intenções, mas o mais importante é que os angolanos estejam atentos", afirmou.
A delegação da UE esclareceu que em 2011 lançou um convite à apresentação de propostas, enquadrado no Instrumento Europeu para a Democracia e Direitos Humanos, ao qual a emissora católica concorreu e apresentou o seu projeto com o objetivo específico de "reforçar a capacidade [por meio de capacitação pontual] das equipas diocesanas, para facilitar o processo de recolha, tratamento e envio de magazines para a Rádio Ecclesia em Luanda".
Acrescentou que o projeto em causa finalizou em março de 2014, tendo a rádio apresentado os respetivos relatórios finais, cuja análise da execução financeira indicou que havia o montante de 149.631,27 euros não utilizados e que teriam de ser reembolsados.
Lusa