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Terça, 23 Fevereiro 2016 20:08

"Rafael Marques é um testa-de-ferro" - Sindika Dokolo

Sindika Dokolo foi alvo de uma queixa apresentada pelo jornalista angolano, Rafael Marques, tendo como motivo um terreno no Kwanza Sul. O empresário diz que a agenda de Rafael Marques é definida pela estratégia dos seus patrocinadores. 

Foi alvo de uma participação feita por Rafael Marques, em que este o acusa de esbulho de terras no Kwanza Sul e de ser favorecido com a entrega a uma sua empresa, a Sokilinker, de um terreno de sete mil hectares? Como é que comenta esta queixa?

Tem a ver com a agenda de Rafael Marques. Ou seja, há uma estratégia dos patrocinadores e dos patronos dele, que financiam as suas actividades, cujo objectivo é acentuar a pressão. Usando um perfil de jornalista ele devia respeitar um código de ética, porque ele não pode dizer que combate o totalitarismo e a propaganda em Angola, quando ele é o maior propagandista. Ele nunca tem uma visão objectiva. Tenta sempre pegar nalguma coisa, que não é nada de especial ou grave, e fazer um escândalo dela. E o problema é que à medida que nos vamos aproximando das eleições, a sua agenda está a acelerar e ele está a cometer erros, acumulando falta de competência com falta de ética.

Mas como responde a esta participação em concreto?

Bastava ele verificar com o dono, neste caso com a Sokilinker, uma empresa da qual sou o accionista maioritário, e com a documentação que conseguiu. Aí veria que não são sete mil hectares mas sim sete. A Sokilinker é uma empresa de logística, e porque em Angola estamos a viver uma crise forte, uma das estratégias é desenvolver e dinamizar a produção agrícola local. O Kwanza Sul é uma província estratégica em relação a esse objectivo e o que a Sokilinker decidiu fazer, no âmbito dos projectos de supermercados que a minha mulher está a desenvolver, foi criar uma rede que permitirá a recolha de produtos agrícolas.

Quando se refere a patronos está a pensar em quem?

Não sei, nem me interessa. Mas uma coisa é clara: antigamente havia uma maneira de desestabilizar os países e agora há outra, que é usar este tipo de personagem para tentar criar uma percepção ao nível da opinião pública capaz de desestabilizar países e Estados. Sou a favor da liberdade de expressão mesmo que às vezes seja um pouco doloroso e desagradável, mas acho que é um preço que vale a pena pagar para pessoas como eu ou a minha mulher, porque o tipo de sociedade que nós queremos é uma sociedade com contrapoderes e possibilidade de criticar. O que combato é o facto de criarem estratégias e tentativas para chegar ao poder em Angola, não através das eleições.

A quem interessa essa desestabilização?

Não perco tempo com essas teorias de complô, mas é claro que Rafael Marques não trabalha com meios próprios. É um fenómeno que já vimos em muitos países da Europa Central, da África do Norte, do Médio Oriente. Ele é claramente um testa-de-ferro dessa estratégia..

Neste momento, a situação económica de Angola é mais débil, por força da queda do petróleo, o que também tem repercussões ao nível social. Em seu entender estão a ser tomadas medidas para lidar com esta situação?

Esta crise conjuntural do petróleo teve um lado muito positivo, porque revelou ao governo os problemas estruturais da nossa economia. Ainda são necessárias grandes reformas. É preciso rever a presença do Estado na economia, o modelo de funcionamento das sinergias financeiras do Estado e das grandes empresas públicas, nomeadamente a Sonangol, e os mecanismos para dinamizar o sector privado. Esta crise, vendo a situação a longo prazo, vai ter um efeito positivo porque é uma espécie de "reality check". Acho que o governo percebeu isso e está a tomar as medidas de reformas ou de reavaliação que se tornam necessárias. É claramente uma oportunidade, especialmente para uma economia cujo PIB está com um crescimento acima de dois dígitos, mas que que ainda tem grandes problemas e desafios pela frente. Ou seja, os grandes desafios dos países subdesenvolvidos, em particular dos africanos, são os de transformar o crescimento económico num melhoramento das condições de vida da população, no acesso ao saneamento básico, em mais educação, etc.

Acredita que este governo tem condições para fazer essa mudança?

É uma sorte para Angola ter um governo que tem experiência na gestão de situações de crise. A crise tem sido gerida com muito sangue-frio e muito controlo. Não há pânico e ninguém está a ver a situação com base no curto prazo. As medidas de reforma a longo prazo continuam o seu ritmo e os grandes projectos de obras públicas continuam a ser uma prioridade. O aspecto fundamental neste tipo de crises é não entrar em pânico e conseguir manter a confiança. O leme está sempre sob controlo e tem existido uma estratégia coerente do governo.

Dentro de um ano irão ter lugar eleições em Angola. O governo do MPLA tem condições para se manter no poder?

Estamos a passar um momento de crise, todos estão a senti-la com a desvalorização do kwanza face ao dólar e o custo de vida que está a ficar mais caro, e isso cria tensão ao nível da população em geral. Teremos eleições em 2017 e não tenho a menor dúvida que a grande maioria dos angolanos percebe que o MPLA é o partido mais habilitado a gerir esta crise e a sair dela com um modelo económico e social ainda mais forte.

Estou muito confiante nisso. Vou muito às províncias e constato os efeitos positivos das políticas de encorajamento e dinamização da produção local e da criação de infraestruturas. E isso faz-me pensar que, apesar da conjuntura difícil, 2017 será um ano de confirmação da superioridade do MPLA.

Jornal de Negócios

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