A informação foi avançada hoje à Lusa pelo advogado e ativista David Mendes, aludido aos relatos contraditórios de nove polícias e 13 fiéis mortos nos confrontos de 16 de abril, no Huambo, e de outros que apontam para o "massacre de mais de mil pessoas", seguidores da igreja 'A luz do mundo', fundada por Julino Kalupeteka.
De acordo com o dirigente da Mãos Livres, que já se disponibilizou para defender em tribunal o fundador desta seita, que está detido no Huambo, até ao momento foi impossível àquela associação realizar no terreno uma investigação independente, por falta de acesso sem limitações ao local dos confrontos, na Serra Sumé, e às testemunhas dos mesmos.
"O hospital não nos diz se foram feitas autópsias, de que morreram as pessoas. Não temos registos das pessoas que morreram", disse David Mendes.
Por esse motivo, a Mãos Livres escreveu ao secretário-geral da ONU, pedindo uma investigação independente aos acontecimentos do Huambo, através do Conselho de Direitos Humanos, o mesmo acontecendo com a União Europeia e a União Africana.
"Nós estamos numa situação de impedimento de fazer qualquer trabalho", afirmou o advogado.
O líder da seita, à qual também dá nome, Julino Kalupeteka, de 52 anos, está detido no Huambo desde 17 de abril, mas os advogados da Mãos Livres continuam sem ter acesso ao fundador da igreja 'A luz do mundo', que advogava o fim do mundo em 2015 e travava a escolarização e vacinação dos fiéis, entre outras práticas.
Os confrontos aconteceram, na versão policial, durante uma tentativa de cumprimento de um mandado de captura do líder da seita, que funcionava ilegalmente.
David Mendes afirma que face à mediatização do caso, "dificilmente" Kalupeteka terá a defesa necessária ao processo, daí a disponibilidade da Mãos Livres para assegurar a mesma.
Contudo, até hoje, ainda não foi dada autorização para que os advogados daquela associação, e ele próprio, contactarem Kalupeteka.
"Estamos no jogo do gato e do rato. A cadeia diz que depende do procurador [da província do Huambo] e o procurador da cadeia. E com isso, até ao momento, não foi possível chegar ao senhor Kalupeteka e aos seus seguidores detidos", observou David Mendes.
LUSA