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Quinta, 02 Outubro 2025 17:21

Sociólogo angolano pede leis para travar “músicas obscenas” após polémica com kudurista

O sociólogo Paulo de Carvalho instou esta quinta-feira as autoridades angolanas a criarem leis para banir e responsabilizar a difusão de músicas e danças "obscenas", após um cantor de kuduro ter sido admoestado pelas letras com conteúdos ofensivos.

"O que está errado é a sua difusão pública, há determinados estilos de dança que deveriam ser mesmo banidos, sobretudo aquelas em que as pessoas fazem movimentos sexuais inclusivamente. Uma coisa é dança sensual, que é permitida e tem os seus limites, outra coisa é dança pornográfica (...) e é aí que acho que as autoridades deveriam tomar a peito esta questão", afirmou hoje Paulo de Carvalho.

Em declarações à Lusa, depois da Organização da Mulher Angolana (OMA) ter exortado o cantor angolano de "kuduro" Barroso Manuel "Tshunami" a alterar composições e estilo de dança, o sociólogo angolano criticou as músicas "com mensagens fúteis".

Paulo de Carvalho, que manifestou desagrado após ouvir uma das músicas de "Tshunami", referiu que a composição encerra uma mensagem "fútil e agressiva", associada à dança, que não agride apenas a mulher, mas a sociedade no geral.

"De facto, em termos de mensagem trata-se de uma mensagem fútil, de uma mensagem agressiva, mas que não agride apenas a mulher. Acho que a ideia segundo a qual é sempre a mulher a agredida está errada, neste caso a agressão é para todos e não apenas para mulheres", salientou.

Para o sociólogo, é preciso que as autoridades tenham uma posição sobre o atual fenómeno: "Uma coisa é música que os cantores ou determinados cantores vão criando para círculos restritos e outra coisa é a divulgação pública de obscenidades no texto e na dança associada à música".

A OMA, braço feminino do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido do poder), recomendou ao popular cantor angolano de "kuduro" (género de música e dança popular nascido na periferia de Luanda e de grande projeção internacional) que alterasse as suas composições musicais e estilo de dança, por alegada banalização da figura da mulher.

"A chamada de atenção que nós fizemos [foi] por causa da exposição pejorativa da mulher que ele fazia nos espetáculos e também as suas letras não eram muito boas e expunham imagens muito pejorativas da mulher, fomos vendo as imagens e não nos podemos calar", disse na quarta-feira a secretária-geral da OMA, Joana Tomas, no final de um encontro com o cantor.

"O que não queremos é que ele se exponha a ridicularizar a imagem da mulher, ele é muito visto também por crianças", argumentou a responsável das mulheres do MPLA.

"Tshunami" é autor das músicas "comeram a minha banana" (com mais de seis milhões de visualizações no youtube), "acaba comigo" e "agora" com 620 mil visualizações, músicas muito tocadas em festas e que se tornaram virais, sobretudo, devido ao seu estilo de dança.

À saída do encontro com a direção da OMA, o músico e também dançarino pediu desculpas à sociedade, observando, contudo, que não foi proibido de cantar: "Dizer que não vão ver um `Tshunami` é diferente, porque não me disseram para parar de cantar".

"Mas, vou moderar nas letras e nas minhas atuações", assegurou em declarações à imprensa.

Quanto ao estilo de dança deste e de outros cantores, Paulo de Carvalho lamentou, por outro lado, que existam crianças em idade escolar a cantar e dançarem o "kuduro" de modo obsceno, insistindo que estas manifestações artísticas não devem ter difusão pública.

Em relação à postura da OMA, o também docente e deputado à Assembleia Nacional (parlamento) pelo MPLA referiu que esta organização pode emitir opinião, mas não tomar decisões sobre o assunto, por ser da alçada dos Ministérios da Cultura e da Educação.

"Tem de haver legislação para prevenir e combater esse tipo de atuação e depois ação do tribunal, mas é preciso que haja legislação a combater esse tipo de procedimentos que atentam contra os valores morais e contra as boas práticas sociais", concluiu o sociólogo.

Nas redes sociais, os internautas angolanos abordam o assunto com opiniões divergentes, questionando igualmente a alegada "inação" da OMA em outras questões sociais que envolvem mulheres e crianças.

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