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Quarta, 21 Mai 2014 06:48

Sala de teatro interditada pelo Ministério da Cultura tinha programação até junho

“Motivos de segurança” foram alegados pelo Ministério da Cultura para impedir a apresentação da peça “As Orações de Mansata”, mas a sala do Cine Teatro Nacional tinha programação até junho e o governo estava informado da estreia pelo menos desde o dia 9 de abril.

O Cine Teatro Nacional (Chá de Caxinde), cuja interdição “por motivos de segurança” impediu a apresentação da peça “As Orações de Mansata”, tinha programação para os meses de maio e junho, como pode ser verificado na imagem que publicamos em seguida, sem que esse facto parecesse incomodar o Ministério da Cultura de Angola. Por outro lado, o Ministério fora informado da realização naquele local desde pelo menos o dia 9 de abril, quando foi enviado um e-mail ao Ministério, cuja receção foi confirmada por uma funcionária.

Segundo a Cena Lusófona, produtora do espetáculo, na carta era igualmente solicitada uma audiência com a ministra Rosa Cruz e Silva, assim que a comitiva chegasse a Angola, pedido que não obteve resposta.

Ao Esquerda.net, o produtor da peça, Pedro Rodrigues, explicou que o teatro, apesar de gerido por uma empresa privada, é de propriedade do próprio Ministério da Cultura, estranhando, assim, a interdição por motivos de segurança do edifício apenas três horas antes de a peça ser exibida.

“A ministra Rosa Cruz e Silva alegou que não sabia que o espetáculo estava marcado para aquela sala e que não fora informada da carta enviada pela Cena Lusófona e cuja receção foi confirmada por uma funcionária do próprio Ministério”, disse o produtor.

A programação da Alliance Française, porém, confirma que a sala estava a funcionar normalmente e já tinha programação agendada até o final de junho.

Regime angolano não quer ver-se questionado

A notícia da interdição da sala e da consequente impossibilidade de exibição da peça “As Orações de Mansata” provocou grande indignação nos meios culturais e nas redes sociais angolanas, tendo inclusive dado origem a uma tomada de posição do Bloco Democrático, afirmando que as razões invocadas pela ministra são mero pretexto. “O regime angolano não quer ver-se questionado quer direta, quer indiretamente, quer pela política ou pela arte, sobre os fundamentos do seu regime: um regime corrupto, assente num poder absoluto”.

A indignação terá provocado a mudança de posição do governo angolano, tendo a ministra da Cultura chamado a Cena Lusófona para uma reunião no sábado, onde ofereceu pagar o prolongamento da estadia da companhia, para poderem fazer as apresentações nesta semana. “Mesmo diante das dificuldades motivadas por os voos estarem esgotados, a ministra disponibilizou-se a resolver o problema”, disse Pedro Rodrigues ao Esquerda.net. Infelizmente, outros compromissos já assumidos impediram a Cena Lusófona de aceitar a proposta.

A ministra Rosa Cruz e Silva ofereceu-se então para enviar aos produtores uma carta a reafirmar o convite, até como forma, também, de que estes pudessem justificar aos financiadores da União Europeia a não exibição da peça, como estava programado.

As Orações de Mansata

Definida como “uma adaptação de Macbeth à realidade africana”, a peça – que é o primeiro texto dramático da literatura guineense – “oferece um impiedoso retrato dos mecanismos de corrupção, luta pelo poder e violência extrema que caracterizam vários regimes políticos em todo o mundo e têm marcado, de forma trágica, a realidade da Guiné-Bissau nas últimas décadas”.

Na sinopse da peça explica-se que “Oito conselheiros do Supremo-Chefe, encarregados de assuntos como tchumul-tchamal [confusão], meker-meker [intriga] ou nhengher-nhengher [conspiração] disputam entre si a melhor forma de derrubar o líder e ocupar a cadeira da Suprematura. Para o efeito, partem em busca das 'Orações de Mansata', que supostamente lhes facilitariam a dominação sobre o seu povo, num processo em que a traição, a tortura e o assassinato são reduzidos à banalidade”.

A sinopse adianta ainda que “a realidade de uma certa África contemporânea é ainda retratada nesta peça através das tensões e das contradições entre as culturas ancestrais (a poligamia, a ligação ao sobrenatural, as formas de poder tradicional, o lugar reservado às mulheres) e o crescente impacto da globalização, nomeadamente através da internet, de outros meios de comunicação e de uma mobilidade internacional e intercontinental cada vez mais facilitada”.

esquerda.net

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