Enquanto Presidente da República e Chefe de Estado, João Lourenço deveria exercer o papel de pacificador do país, pois detém o poder de influência política, diplomática e social ao mais alto nível. Ele deveria trabalhar na promoção do diálogo entre diferentes partidos políticos e grupos sociais a fim de incentivar soluções pacificas e evitar conflitos ou indícios dos mesmos. Afinal, o Presidente da República deve ser o impulsionador da reconciliação, o garante da unidade nacional, do funcionamento das instituições democráticas, o respeitador da Constituição e da lei, em suma, deve ser o exemplo do bem.
Mas a verdade é que o sistema montado e dirigido pelo MPLA de João Lourenço está longe de obedecer a estes pressupostos. É violento, intolerante, insensato, insensível e desumano até mesmo em relação aos seus pares do aparelho. Para os defenestrar, dispensa-se o gatilho. Basta ao chefe da matilha soltar a língua de fogo, acompanhada por todo o séquito da propaganda dos órgãos de comunicação do Estado, que funcionam como uma autêntica matilha.
Na verdade, é isso que João Lourenço, enquanto chefe do regime e da matilha, pretende contra o general na reforma, Francisco Higino Lopes Carneiro. Talvez o mesmo objectivo que obteve na sua cruzada contra o Presidente José Eduardo dos Santos.
Como sabemos, foi evidente a forma como a matilha de João Lourenço conseguiu debilitar o ex-Presidente da República e Presidente Emérito do MPLA, ao ponto de atingir uma depressão que lhe apressou o fim. A morte anunciada de José Eduardo dos Santos, com demonstrações de forças e actos de pura vingança protagonizadas pelo “herdeiro do trono”, se traduziu em ataques sem precedentes, que foram sendo registados, um a um. Dois exemplos apenas:
- O MPLA deve assumir a dianteira do combate à corrupção, mesmo que os primeiros a tombar sejam militantes ou altos dirigentes do partido que tenham cometido crimes ou que, pelo seu comportamento social, estejam a sujar o bom nome do Partido (Luanda, setembro de 2018);
- É preciso destruir o ninho dos marimbondos (Lisboa, Portugal, 22 de Novembro de 2018).
Ora bem, a palavra “Tombar”, segundo o dicionário da língua portuguesa, significa derrubar ou matar. O artigo 59º da Constituição proíbe, de forma clara e taxativa, a pena de morte na República de Angola. Do ponto de vista político, qual é na verdade o sentido, o alcance e o fim último que o Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, pretendia atingir no seu eloquente discurso com o emprego da palavra “tombar”?
Os crimes de corrupção cometidos pelos seus pares terão lesado a honra do Estado angolano ou do partido MPLA? Os militantes do seu partido MPLA que cometeram crimes no exercício de funções de Estado devem ser julgados na sede do partido ou pelos tribunais existentes no país?
Que artigo da Constituição confere prerrogativas ao Presidente da República e Chefe do Estado para decretar julgamentos públicos e/ou sentenças de morte?
Num país de Direito Democrático, com clara separação de poderes como se supõe que seja o nosso, como é que o Presidente da República se arroga ao direito de substituir os tribunais em pleno funcionamento, atropelando inclusive o princípio de presunção de inocência consagrado no ponto 2 do artigo 67º da Constituição da República?
A morte de José Eduardo Dos Santos, por tortura psicológica, revelou o carácter do regime que, numa situação de confronto com a verdade, toma sempre a dianteira de livrar-se dos adversários que considera como “figuras sombras”. Ou seja, mesmo internamente é assim que o regime procede com os seus – e o que tudo indica a lista das possíveis vítimas do sistema pode vir a alargar-se. Será o general Higino Carneiro a próxima vítima? Ou será Álvaro de Boavida Neto, cujo nome, apesar de ocultado, foi nas entrelinhas colado ao General Higino Carneiro?
João Lourenço afirmou que: “o Super General Francisco Higino Lopes Carneiro começou cedo e que, provavelmente, ou não chega lá – não chega a Dezembro – ou vai chegar mais morto do que vivo, em desvantagem em relação aos outros que vão começar no tempo certo.”
Fazendo fé as palavras de João Lourenço, e tendo como experiência o destino dado ao ex-Presidente da República José Eduardo Dos Santos, no contexto actual, tenho a certeza absoluta que o general Higino Carneiro e outros citados estão predestinados a serem trucidados.
Outrossim, estou convicto de que a luta ferrenha entre os dois generais também tem pendor racial. Ou seja, a ala lourencista é avessa aos mulatos ou a quem tenha a “pele clara” na direcção do MPLA.
Quando o actual Chefe do MPLA se referia que o seu partido era avesso a “pessoas especiais”, referia-se obviamente ao desprezo que tem pelos militantes mestiços e brancos do MPLA.
Chegados aqui, que não haja dúvidas ou ilusões. Angola, país grande e rico, só poderá proporcionar paz, felicidade e bem-estar ao seu povo com a UNITA e o Presidente Adalberto Costa Júnior no poder, pois apenas a UNITA, tal como trouxe a economia de mercado, a liberdade religiosa, o direito à greve, o respeito pelos direitos fundamentais, está em condições de libertar homens e mulheres, pobres e ricos, sejam eles pretos, mulatos ou brancos, filiados ou não no MPLA.
Por: *Joaquim Nafoia
*Deputado