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Terça, 03 Mai 2016 12:45

Prisão de ativistas angolanos é sinal de fraqueza do regime - Gene Sharp

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O autor do livro, cuja leitura adaptada levou à condenação de 17 ativistas angolanos por rebelião, considera que o "regime [angolano] está enfraquecido", como indicia a "prisão de adolescentes".

Em entrevista à Lusa, Gene Sharp afirma que "quando um governo prende adolescentes por estarem a ler livros isso mostra que estão nervosos, porque sabem melhor do que ninguém que o seu sistema está enfraquecido".

"Prender um jovem de 19 anos é um sinal de que o regime está muito fraco", acrescenta o escritor, autor da obra "From dictatorship to Democracy: A Conceptual Framework for Liberation", que foi adaptada para português pelo docente universitário Domingos da Cruz (um dos 17 réus).

A obra adaptada, "Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura, filosofia da libertação de Angola", foi lida e comentada pelo grupo de ativistas todos os sábados, durante três meses.

Os ativistas, com idades entre os 19 e os 37 anos, entre os quais o luso-angolano Luaty Beirão, foram condenados a 28 de março a penas de prisão efetiva entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses, por atos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores.

Professor na Universidade de Massachusetts desde 1972, Gene Sharp foi várias vezes nomeado para o Prémio Nobel da Paz e fundou o "The Albert Einstein Institution", uma organização sem fins lucrativos que estuda o uso da ação política não-violenta em todo o mundo.

O autor salienta que o seu trabalho, uma das fontes de inspiração da resistência civil que levou às Primaveras Árabes, "não se centra em determinar até que ponto um governo é ditatorial ou democrático", mas na análise do sistema político.

Porque, além do modo de eleição, um sistema político ditatorial é também definido por um ambiente em que "liberdades cívicas básicas não existem e a oposição enfrenta repressão".

"Não sou especialista em Angola. No entanto, muitos governos, particularmente aqueles que são autoritários e ditatoriais, acreditam que todo o conhecimento sobre ação não-violenta é subversivo porque articula como um governo não pode governar as pessoas se elas pessoas decidirem não ser governadas por ele", explica.

O Tribunal de Luanda deu como provado que os acusados formaram uma associação criminosa que pretendia destituir os órgãos de soberania legitimamente eleitos, através de ações de "Raiva, Revolta e Revolução", colocando no poder elementos da sua "conveniência" e que integravam a lista para um "governo de salvação nacional".

Gene Sharp assegura que o seu livro não dá instruções de como derrubar um governo, até porque "cada luta não violenta ocorre no contexto de um ambiente doméstico único."

"Seria irresponsável e presunçoso tentarmos aplicar uma mesma fórmula para todos. Não é esse o nosso papel. O nosso papel é disseminar informação, dar ferramentas, e tornar esses recursos tão disponíveis quanto possível. Como usar essas ferramentas é determinado pelos indivíduos e grupos", explica.

Sharp diz que "qualquer ditador ou regime opressivo considera" este conhecimento "ameaçador porque cria a perceção de quão fraco e sem poder é realmente."

© Lusa

 

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