Print this page
Quarta, 10 Julho 2024 14:07

Advogado angolano considera “alarmante” casos de detenções arbitrárias no país

O advogado angolano Zola Bambi considerou hoje, em Luanda, “alarmantes” as detenções arbitrárias em Angola, que disse terem “proteção" das autoridades e "solidariedade institucional”, defendendo a necessidade de controlar essa violação dos direitos.

Segundo o advogado, registam-se muitas detenções, mas poucas são denunciadas, e, as que são, “as instituições trabalham de forma a criarem uma cortina de fumo” para não serem divulgadas.

Zola Bambi, que falava à Lusa à margem de uma conferência de imprensa promovida pelo Observatório para Coesão Social e Justiça e pela Friends of Angola, referiu que a maior parte das detenções são arbitrárias ou ilegais.

Bambi considerou ser preciso uma mudança da mentalidade que leva a polícia a agir dessa forma, frisando que, nos bairros periféricos da província de Luanda, capital do país, diariamente se registam detenções sem obedecer aos procedimentos legais.

De acordo com o advogado, a presunção de inocência não tem sido levada em conta, porque “uma vez a pessoa detida já é vista como suposto criminoso”.

“Mesmo depois de ter elementos que demonstrem que esta pessoa não tenha cometido [crime], às vezes fabrica-se um processo para justificar os dias que ficou detido”, disse.

Esse facto é recorrente, prosseguiu Zola Bambi, apelando a uma reação das instituições.

“Nós estamos a denunciar, mas se não houver uma reação interna nas instituições do Estado, sobretudo na Polícia Nacional, vai ser muito difícil pararmos com estas práticas”, frisou, denunciando também supostos casos de torturas.

O advogado afirmou que, por haver o sentimento de impunidade, a situação se mantém, lembrando que esta prática se destacou nas “autorizações" para as "atuações arbitrárias" contra ativistas.

Segundo Zola Bambi, a polícia usa os mesmos mecanismos que foi orientada a usar com “ativistas, jornalistas, sindicalistas ou vozes contrárias” com os cidadãos, tornando-se numa “prática”.

“São vários casos, se nos deslocarmos a uma esquadra encontraremos vários casos de prisões arbitrárias (…), a polícia vai para as casas sem mandados e tornou-se uma prática e é por isso que temos mesmo que lutar para estancar”, realçou.

Zola Bambi considerou “crítica” a situação dos direitos humanos no geral, frisando que não se verificam apenas violência, maus-tratos e prisões, mas também violação de direitos fundamentais, como a falta de “auxílio às vítimas da seca, a questão da fome, das crianças nas ruas”, entre outras.

Por sua vez, o diretor executivo das Mãos Livres, Guilherme Neves, considerou que tem aumentado o nível de estreitamento do espaço cívico, lembrando que, já em 2015, o Governo angolano tentou limitar o exercício das Organizações Não-Governamentais e que volta agora novamente a tentar fazê-lo com a proposta de alteração da lei que regula o seu funcionamento.

“Já em 2015, em parceria com a Ordem dos Advogados, intentou-se uma ação junto do Tribunal Constitucional e foi tido como inconstitucional e grande parte dos elementos constantes nessa nova proposta já foram tidos como inconstitucionais, logo, a intenção do executivo é clara, é de controlar as ONG”, adiantou.

Guilherme Neves disse que o Governo não fez uma avaliação de risco sobre a possibilidade de as ONG abrirem portas ao branqueamento de capitais, avançando que ainda este ano pretendem fazer uma avaliação conjunta, de iniciativa das organizações.

Rate this item
(0 votes)

Latest from Angola 24 Horas

Relacionados

Template Design © Joomla Templates | GavickPro. All rights reserved.