A nomeação da empresária Isabel dos Santos para presidente da Sonangol é uma maneira de manter o poder na família de José Eduardo dos Santos, consideram vários analistas ouvidos pela agência de informação financeira Bloomberg e citados pelo "Jornal de Notícias".
A nomeação "mostra que o Presidente dos Santos não confia em mais ninguém e que está à procura de uma sucessão dinástica", disse o analista Markus Weimer, da Horizon Client Access, acrescentando que a escolha "é uma indicação muito forte de que Isabel dos Santos também vai considerada uma possível líder quando o Presidente se retirar, em 2018".
Na quinta-feira, o Presidente da República anunciou que tinha nomeado a filha Isabel dos Santos para presidente do conselho de administração e administradora não executiva da petrolífera estatal Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol).
Para além da filha Isabel dos Santos, o Presidente da República angolano também nomeou outro filho, José Filomeno dos Santos, como líder do fundo soberano de Angola, que gere ativos no valor de 5 mil milhões de dólares.
A administração liderada desde 2012 por Francisco de Lemos José Maria (presidente do conselho de administração) foi também na sexta-feira exonerada de funções, passando a empresa a ser responsável apenas pela "gestão e monitorização dos contratos petrolíferos".
A designação de Isabel dos Santos surge no âmbito da reestruturação da empresa estatal e do setor petrolífero angolano, processo em que já tinha participado, conforme confirmou a 22 de janeiro, em comunicado, o comité que tratou o processo, alegando a sua experiência de 15 anos como empresária.
Isabel dos Santos, com ativos de 3,2 mil milhões de dóalres, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, é a mulher mais rica de África, e tem também o controlo da Unitel, a maior operadora de telecomunicações do país, para além de participações em várias empresas portuguesas como a Efacec ou o banco Milennium BCP.
"Ela tem estado ao leme dos esforços para reestrutura a Sonangol durante o último ano e, assim, tem um conhecimento íntimo da empresa", comentou David Thomson, um analista da consultora energética Wood Mackenzie.
As mudanças na liderança da Sonangol vão ter implicações significativas também no plano político, considerou a Stratfor, uma consultora norte-americana.
O lado mais político
Uma outra consultora citada pela Bloomberg coloca também a discussão sobre a nomeação de Isabel dos Santos para a Sonangol no campo político.
“A proposta visa quebrar os blocos de poder potenciais que estão a surgir de dentro da Sonangol e colocar a petrolífera nas mãos da família sem sombra de dúvidas”, aponta a Stratfor num relatório já deste mês.
“Ao dividia a empresa, o presidente espera conseguir defender os interesses da família”, acrescenta a consultora, em relação ao plano que Isabel dos Santos quer implementar na petrolífera – dividir a empresa em ‘core’ e não ‘core’.
“A nomeação de Isabel mostra a importância estratégica destas reformas para a presidência e que o Presidente queria alguém de total confiança para liderar o processo”, refere Alex Vines, líder da divisão africana da Chatham House.
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