O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, garantiu esta quinta-feira, 21 de Abril, que as relações político-diplomáticas entre Portugal e Angola "são muito boas e têm muita margem para progredir" e não podem ser confundidas com negócios, nomeadamente o caso BPI.
Questionado se o caso BPI prejudicou as relações entre Lisboa e Luanda, o chefe da diplomacia portuguesa negou.
"Aquilo a que chama os acontecimentos do BPI não tem nada a ver com as relações políticas e diplomáticas entre Portugal e Angola", afirmou, falando aos jornalistas à margem de um encontro com políticos lusodescendentes na sede da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Lisboa.
"As relações de cooperação entre Portugal e Angola são muito boas e têm muita margem para progredir", disse.
Sobre as críticas ao Governo português feitas pela Santoro, 'holding' controlada pela empresária angolana Isabel dos Santos, e questionado sobre possíveis retaliações de Luanda, Santos Silva afirmou ser ministro dos Negócios Estrangeiros: "Não tenho nada a ver com negócios", sublinhou.
"É preciso separar com clareza. Não confundamos questões que têm a ver com negócios e o ambiente institucional dos negócios e questões que têm a ver com as relações político-diplomáticas", disse, acrescentando, depois de questionado sobre o facto de a empresária Isabel dos Santos ser filha do Presidente angolano: "Eu sei distinguir as coisas e não trato de relações externas com base em relações familiares".
O chefe da diplomacia portuguesa salientou que o Governo português está a trabalhar no aprofundamento das relações com Angola e, em particular, a preparar a próxima visita do primeiro-ministro, António Costa, a Luanda, cuja data não quis revelar.
No domingo, o BPI informou que ficou sem efeito o entendimento entre os seus dois principais acionistas (CaixaBank e Santoro Finance), que tinha sido anunciado ao mercado no dia 10 de Abril para reduzir a exposição do banco a Angola, exigida pelo Banco Central Europeu (BCE).
Na segunda-feira, o espanhol CaixaBank anunciou a intenção de lançar uma Oferta Pública de Aquisição de ações (OPA) voluntária sobre o BPI, oferecendo 1,113 euros por cada acção do banco que não controla (55,9%).
Esta operação está condicionada à eliminação da limitação de 20% nos direitos de voto do BPI, a alcançar mais de 50% do capital do banco e à obtenção das autorizações regulatórias.
Na terça-feira, a Santoro negou ter quebrado qualquer acordo com o CaixaBank e acusou o Governo português de "favorecer uma das partes". Posteriormente, o BPI refutou a versão apresentada pela Santoro, afirmando não reconhecer a versão dos factos apresentada.
O primeiro-ministro, António Costa, já recusou que o decreto-lei aprovado no Conselho de Ministros de 14 de Abril e promulgado a 18 de Abril pelo Presidente da República tenha sido feito apenas para a situação do BPI, recordando que "há cerca de oito instituições financeiras em Portugal que têm estatutos com restrição dos direitos de voto".
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