Depois de admitir na entrevista à SIC que telefonou a Manuel Vicente para interceder pelos negócios do Grupo Lena, sabe-se agora que o ex-PM se encontrou com o vice-Presidente angolano no consulado de Angola em Nova Iorque, no final de Setembro.
Tudo começou com o telefonema ao governante angolano: depois de invocar a crise económica e a asfixia das empresas nacionais, Sócrates explicou a Manuel Vicente que o Grupo Lena ( “pessoas a quem devo atenções”, como referiu ) estava interessado num concurso público em Angola, na área da construção. Em nome do relacionamento dos tempos em que foi primeiro-ministro, pediu-lhe então para receber os patrões do grupo, tentando marcar um encontro em Luanda.
Só que Manuel Vicente estava de viagem marcada daí a dias para Nova Iorque, onde ia representar o Presidente de Angola na Assembleia-Geral da ONU, a 30 de Setembro. De imediato, Sócrates disse-lhe que também ele e os amigos tinham por lá afazeres e terminaram o telefonema combinando que acertaria a reunião através do embaixador angolano nas Nações Unidas.
José Sócrates não hesitou em dizer que também tinha que lá ir, marcando, assim, um encontro em território norte-americano. Teve, pois, que arranjar bilhetes à última hora.
José Sócrates, Carlos Santos Silva e Manuel Vicente acabaram por encontrar-se no consulado de Angola em Nova Iorque, ‘reunião’ que, num primeiro momento, tinha sido negada por Sócrates quando foi interrogado após a detenção, mas que acabou por ser confirmada depois de se revelarem as conversas telefónicas.
Terá sido o representante português da ONU, o embaixador Álvaro Mendonça e Moura, a agendar o encontro no consulado de Angola em Nova Iorque.
Esta reunião tinha sido negada por Sócrates quando foi questionado pelo juiz Carlos Alexandre após a detenção, mas posteriormente assumida como tendo acontecido para tratar de assuntos “triviais”.
Na entrevista dada à SIC, Sócrates afirmou que intercedeu pelo Grupo Lena “por mera simpatia e fiz esse contacto com gosto, sem nenhum interesse que não fosse ajudar uma empresa portuguesa, como, aliás, fiz com outras”. Na entrevista à RTP, o advogado João Araújo, representante do ex-PM, afirmou que a questão de Angola não tinha “importância nenhuma”.
A relação do ex-PM com Angola levanta dúvidas na medida em que pode configurar crime de tráfico de influências, reforçando ainda os indícios de corrupção e favorecimento do Grupo Lena.