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Terça, 12 Agosto 2025 11:57

Tumultos em Luanda mexem com a sucessão de João Lourenço

A instabilidade que se vive em Luanda, resultado da greve dos taxistas, já fez uma vítima política. O ministro do Interior, Manuel Homem, tido como o preferido de João Lourenço para lhe suceder no Palácio da Cidade Alta, ficou definitivamente para trás nesta corrida devido aos tumultos que se verificaram na capital angolana no final de julho.

O caos social correu mundo e fragilizou o ministro que tutela as polícias, as quais foram incapazes de conter a revolta popular que teve na sua génese o aumento do preço dos combustíveis. A imagem de desordem de Angola que passou para o exterior colocou em causa a liderança do país, protagonizada por João Lourenço, e deixou Manuel Homem numa situação periclitante.

À data, o ministro do Interior afirmou que o Governo está atento “às vozes legítimas que pedem melhorias”, mas que também estaria preparado “para agir com firmeza contra quem, por motivações políticas ou oportunistas, tenta mergulhar, sem sucesso, o país no caos”. Todavia, a violência marcou esses dias de protestos, os quais culminaram com 30 mortos, mais de 200 feridos e 1.500 detenções. Passadas quase duas semanas, Luanda continua em estado de alerta, circunstância que contribui para adensar as dúvidas sobre a estabilidade de Angola, sobretudo por parte de investidores estrangeiros.

A insegurança que se vive em Angola penaliza Manuel Homem, mas também afeta o Presidente da República. João Lourenço perde espaço de manobra para impor as suas escolhas e fica mais vulnerável no seio do seu partido, o Movimento Popular a Libertação de Angola (MPLA). Em contrapartida, as narrativas dos opositores, em particular do general Higino Carneiro que já assumiu publicamente a sua candidatura à liderança do MPLA, ganham peso e aliados. Fernando Piedade dos Santos (Nandó) igualmente tido como presidenciável, é outra das personalidades que ganha balanço por ser uma referência em matérias de segurança e autoridade do Estado.

Os protestos do final do mês de julho desencadearam, para todos os efeitos, uma crise política que dificultou ainda mais a atividade de João Lourenço. A reunião extraordinária de ontem do Conselho da República, órgão consultivo do chefe de Estado que integra personalidades como a vice-presidente, a presidente da Assembleia Nacional, o Procurador-Geral da República, líderes dos partidos com assento parlamentar e representantes da sociedade civil, convocada precisamente para analisar a situação de segurança em Angola, chega tarde. Até porque, no entender do Presidente da República, os protestos foram fabricados.

Em vez de aceitar que os tumultos terão nascido de uma insatisfação social crescente, João Lourenço considerou que os mesmos foram causados por “cidadãos irresponsáveis manipulados por organizações antipatriotas nacionais e estrangeiras através das redes sociais”. Com Manuel Homem fora da corrida e ele próprio mais debilitado, abre-se agora um cenário em que João Lourenço poderá estar disponível para encontrar um candidato mais consensual à sua sucessão.  Jornal de Negócios

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