Não existe, verdadeiramente, nenhum oficial da CIA que tenha prestado serviços ilegais que eventualmente favorecessem o general Higino Carneiro, putativo pré-candidato à presidência do MPLA.
O facto é que a pré-candidatura do general Higino Carneiro, por si só, constituiu-se em um real fator impeditivo para os planos ardilosos do general João Lourenço de permanecer por tempo indefinido no poder.
A priori, e em teoria, se nós, cidadãos, claudicássemos do nosso direito ao contraditório e permitíssemos que o presidente João Lourenço levasse a cabo o seu projeto de poder sem incômodos, o direito à cidadania progressista e democrática estaria profundamente em risco, pois seríamos inapelavelmente perseguidos, presos, torturados e, senão mesmo, assassinados com requintes diabólicos.
Faz-se, por isso, importante travar com urgência os intentos que o general-presidente autocrata deseja realizar, usando os remédios que o Estado de direito democrático embrionário nos coloca à disposição.
É perceptível a qualquer cidadão minimamente atento que o presidente do MPLA e também da República não respeita a lei e ignora a Constituição sempre que os seus interesses pessoais estão em causa. Para o tirano, só o controle total do poder interessa; para isso, ainda que tenha de dobrar a lei e violar a Constituição, assim se fará. Mesmo que seja algo preponderantemente criminoso, João Lourenço fará acontecer ao arrepio da lei e da Constituição, sem pestanejar, para permanecer no poder.
Nos últimos meses, desde que o general Higino Carneiro anunciou a sua vontade de candidatar-se à presidência do MPLA, os angolanos têm acompanhado a escalada agressiva e descontrolada do regime contra ele.
O perigo dessa escalada escabrosa pode ainda aumentar. Para evitar isso, dependerá do envolvimento direto da militância democrática do MPLA no conflito, a fim de ajudar a drenar definitivamente as confusões criadas pelo presidente João Lourenço.
Não adianta recriar conflitos artificiais nem aprofundar crises vazias, sem conteúdo real, para tentar afastar o general Higino Carneiro dos seus legítimos intentos de concorrer à presidência do MPLA. A militância estará do lado da verdade, defendendo os interesses da coletividade.
É certo que a militância intelectualmente honesta deve, desde já, começar a se movimentar para criar pontes convergentes, aproximando o general Higino Carneiro da militância consciente da necessidade de mudar a rota negativa que o partido segue há pelo menos 50 anos. Só assim será possível neutralizar parte dos intentos hegemônicos e, juntos, colocar o partido na rota certa.
Não adianta realizar passeatas flutuantes e sem impacto político ou ideológico, apenas para massagear o ego do general-presidente, que tem feito de tudo para recrear e promover o falecido culto de personalidade em seu favor. Todos sabemos dos milhões gastos pelo partido-estado para mobilizar pessoas em Cacuaco, demonstrando um suposto controle sobre a população, quando, na verdade, não controla nada nem ninguém.
Para piorar a situação, assistiremos a outra manifestação do MPLA, idêntica à de Cacuaco, a realizar-se no próximo sábado, na estrada de Catete.
Atentos, aguardemos os próximos capítulos da saga Lourencista.
Estamos juntos.
Por Raul Diniz