"Ele foi detido e acusado de incitação à violência pública" após ter respondido a uma convocação da polícia em Harare, precisou Harrison Nkomo.
Uma greve geral, acontecimento inédito no Zimbabué desde 1989, levou ao encerramento de numerosos lojas, escolas, bancos, tribunais e serviços administrativos na última quarta-feira, enquanto os transportes coletivos estiveram paralisados.
A greve seguiu-se a vários dias de manifestações, incluindo de funcionários públicos que não receberam salário no mês de junho.
Outras manifestações estão previstas para quarta-feira e quinta-feira, num clima de desafio crescente ao regime do Presidente Robert Mugabe, de 92 anos e no poder há 36.
O pastor batista Evan Mawarire, de 39 anos, ganhou nome rapidamente ao divulgar um vídeo na Internet em abril onde atacava a corrupção e a má gestão do governo, numa altura em que o Zimbabué enfrenta uma grave crise económica e a seca.
O vídeo, no qual Mawarire tinha uma bandeira do Zimbabué, deu origem ao 'hashtag (rótulo - palavra-chave antecedida pelo símbolo #)' ThisFlag (esta bandeira), que se tornou um símbolo do movimento de contestação.
As manifestações, cujos vídeos divulgados na Internet mostram a repressão da polícia, revelam a frustração crescente da população, num país em que 90% dos trabalhadores não têm um emprego formal.
Num vídeo divulgado antes da sua detenção, o pastor Mawarire apela à continuação das greves e à não-violência.
"Sem violência, cidadãos (...) Optamos pelas greves porque é tudo o que podemos fazer para que o governo nos ouça", declara.
A semana passada, o Presidente Mugabe voltou a atribuir às potências ocidentais a responsabilidade pelo atraso no pagamento dos funcionários públicos.
"O pagamento dos salários pode ser adiado devido às sanções", disse na sexta-feira numa reunião política.
As sanções, impostas pelos países ocidentais devido a violações dos direitos humanos no Zimbabué, apenas visam o Presidente e a sua equipa.
No domingo, o ministro da Informação, Christopher Mushow, declarou que as autoridades vigiavam "todos os que abusam dos 'media' sociais para provocar agitação no país" e o governo advertiu que quem quer que partilhasse materiais "subversivos" seria detido.
Prisão do pastor Evan Mawarire é "plano para intimidar ativistas"
A prisão no Zimbabué do pastor Evan Mawarire parece ser um plano "bem calculado" para intimidar os ativistas que organizaram a greve geral, afirmou hoje o diretor-adjunto da Amnistia Internacional para a África Austral, Muleya Mwananyanda.
"A prisão do pastor Evan Mawarire parece ser um plano bem calculado para o intimidar a ele e a outros ativistas envolvidos na paralisação nacional organizada para amanhã (quarta-feira) para tentar suprimir os direitos à liberdade de expressão e de reunião pacífica", disse Muleya Mwananyanda.
Muleya Mwananyanda denunciou que cerca de 300 pessoas foram detidas nos protestos pacíficos realizados em várias partes do país desde a semana passada, sublinhando que as pessoas têm o direito de se manifestar ao abrigo da constituição do Zimbabué e dos tratados internacionais ratificados pelo país.
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