A Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento – banco de desenvolvimento maioritariamente detido pelo Estado português (tem 64,3%) – tem estado a ser avaliada há cerca de dois meses por uma empresa que tem como vice-presidente um influente político angolano: Lopo do Nascimento, antigo primeiro-ministro de Angola e também ex-secretário-geral do MPLA, partido no poder desde a independência. A informação foi avançada pelo CM online.
O OJE sabe que esta espécie de auditoria à SOFID foi sugerida pelo Camões, instituto público que coordena a cooperação portuguesa, com o intuito de avaliar a contribuição do banco público para o desenvolvimento dos países parceiros no quadro do reporte a remeter à OCDE, tendo sido contratada mediante concurso a consultora CESO para fazer esse estudo. A CESO, onde o angolano Lopo do Nascimento é vice-chairman, teve, nas últimas semanas, vários técnicos a trabalhar com os quadros da SOFID e a analisar os projetos, mas socorreu-se sobretudo de uma consultora sénior externa para liderar o projeto, a mesma que, segundo o CM online, será a futura CEO da empresa, indigitada pelo Governo.
Mariana Abrantes de Sousa esteve várias vezes, nas últimas semanas, na SOFID, em Lisboa, a fazer trabalho de campo, a conduzir entrevistas aos funcionários e diretores e a analisar dossiês, semanas antes de ela própria vir a assumir o controlo máximo da empresa. A confirmar-se a indigitação da gestora na próxima assembleia geral da SOFID, dia 28 deste mês, onde está prevista a eleição dos novos corpos sociais, a situação pode, no mínimo, tornar-se insólita nos próximos meses, já que será a nova CEO a analisar e a ter que votar em sede de comissão executiva o estudo da CESO, exatamente o mesmo onde teve papel preponderante e liderou os trabalhos.
A futura CEO, Mariana Abrantes de Sousa, para além disso, ainda terá que passar pelo crivo da CRESAP (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública), onde não deverá ter problemas de maior, mas sobretudo pela idoneidade do Banco de Portugal, entidade encarregue da supervisão da SOFID, enquanto banco de desenvolvimento que é. Na semana passada, a gestora entregava a documentação necessária na CRESAP enquanto candidata ao cargo de CEO, presidente executiva do banco, ao mesmo tempo que fazia as últimas entrevistas na SOFID, enquanto colaboradora da CESO.
A escolha de Mariana Abrantes de Sousa para dirigir a SOFID terá, aliás, partido da nova Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro, de quem será próxima, que também escolheu outro administrador executivo, Abel Cubal de Almeida, antigo administrador da AICEP Capital no tempo dos governos de José Sócrates. Nessa altura, a agora secretária de Estado, Teresa Ribeiro, era também administradora da AICEP. Para o secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e das Finanças, Ricardo Félix Mourinho, que oficialmente tem a tutela da SOFID, sobrou a escolha do terceiro membro da Comissão Executiva, que deverá ser um quadro do Banco de Portugal, lugar de onde é originário o próprio governante.
A gestora que o Governo encontrou para liderar a nova fase da SOFID passou pelas universidades de Berkeley e Princeton nos anos 70 e é uma especialista em Parcerias Público-Privadas (PPP), com experiências bancárias no Chase Manhattan Bank, BEI, BPA e ABN AMRO (Portugal). Nos últimos tempos, Mariana Abrantes de Sousa estava, para além das consultadorias, na direção da Flocert, entidade certificadora do comércio justo, e no comité de crédito do The Infrastructure Crisis Facility – Debt Pool, um fundo de investimento criado pela IFC (Banco Mundial) com o alemão KfW. Contactada pelo OJE para confirmar o novo cargo e os objetivos que tem para o banco, Mariana Abrantes de Sousa disse não querer falar e remeteu explicações para “a senhora secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros”, Teresa Ribeiro.
Vítor Norinha/OJE