As conclusões constam da acusação datada de 26 de novembro, segundo a qual os russos Igor Rotchin Mihailovich (38 anos) e Lev Matveevich Lakshtanov (64 anos), juntamente com os angolanos Amor Carlos Tomé (jornalista, 38 anos) e Oliveira Francisco (dirigente da UNITA, 32 anos), estão acusados dos crimes de espionagem, organização terrorista, financiamento ao terrorismo, instigação pública ao crime, terrorismo, corrupção ativa e introdução ilícita de moeda estrangeira.
Africa Org sucedeu ao Grupo Wagner e atuava em Angola sob fachada cultural
Segundo a acusação, após a morte de Yevgeny Prigozhin, em agosto de 2023, os ativos africanos do Grupo Wagner passaram para a estrutura Africa Org, que mantém presença no continente através da Africa Politology, e em Angola sob a designação Angola Politology, com o projeto “Ciência Política de Angola”, liderado por Igor Mihailovich.
De acordo com a agência Lusa, o MP descreve a organização como uma rede que inclui “tecnólogos políticos, meios de propaganda profissionalizados, frentes de lobbying comercial”, bem como ex-agentes de Prigozhin e oficiais de inteligência, dedicados a “campanhas agressivas de informação e guerra cibernética, incluindo clonagem em grande escala de sites, espionagem cibernética”.
Para dar “um rosto legal” às operações, os arguidos alegaram querer criar a Casa da Cultura Angola-Rússia, mas o verdadeiro objetivo passaria por “atos concretos de desestabilização do país”, visando alterar o poder político.
Contactos com altos dirigentes da UNITA e figuras críticas do MPLA
A acusação detalha que o arguido Oliveira Francisco, responsável pela componente política, procurou aproximar os russos da liderança da UNITA, incluindo através de contactos com Manuel Ekuikui “Nelito Ekuikui”, secretário-geral da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), o general Armindo Paulo Lukamba “Gato” e o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior.
Numa das reuniões foi alegadamente discutida a preparação para as eleições de 2027, incluindo propostas — supostamente já partilhadas com Adalberto Costa Júnior — sobre assistência financeira, segurança, formação de quadros e obtenção de informação.
Ao jornalista Amor Carlos Tomé caberia a identificação de quadros críticos dentro da UNITA e do MPLA, bem como o recrutamento de jornalistas e analistas para produzir conteúdos destinados a gerar “um sentimento generalizado de insegurança e repulsa pela atual governação”, potenciando convulsões sociais.
Tomé também teria facilitado reuniões com figuras do MPLA, como general Higino Carneiro, pré-candidato à liderança, o engenheiro António Venâncio, também aspirante e o general Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, ex-secretário-geral.
MP liga arguidos à greve dos taxistas e planeamento de manifestações
A acusação refere que, a 2 de junho de 2025, os arguidos começaram a planear “uma manifestação de grande vulto inicialmente contra a fome”. Em julho, já teriam conhecimento do que iria ocorrer em Luanda, numa referência à greve dos taxistas entre 28 e 30 de julho, que culminou em tumultos.
Segundo o MP, Amor Carlos Tomé terá enviado a Lakshtanov o texto “taxistas paralisam em Luanda”, mais tarde adotado pelo vice-presidente da Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANA), Rodrigo Catimba — também detido — como base para comunicação com a imprensa.
Aos quatro detidos foram aplicadas medidas de prisão preventiva, enquanto o Ministério Público prossegue a investigação ao alegado esquema de ingerência política e desestabilização em Angola, com ramificações internacionais.

