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Terça, 17 Junho 2025 13:14

Angola poderá ter eleições com número recorde de partidos

A dois anos das eleições, Angola assiste ao surgimento acelerado de partidos legalizados. Para alguns, é sinal de renovação política. Para outros, puro oportunismo com fins pessoais. Negócio ou democracia?

Os partidos em Angola parecem crescer como cogumelos. As próximas eleições estão marcadas para 2027, daqui a dois anos, e surgem cada vez mais formações políticas no país. Para um analista ouvido pela DW, o fenómeno não é nada mais do que um "negócio político".

Não é uma, nem duas, nem três forças políticas. São muitas. Só desde janeiro foram criados o POPIA – Partido Ordeiro de Projeção Inclusiva de Angola, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido da Solução (PS), o Partido Novo-Nova Voz e a Aliança Nacional de Angola (ANANGOLA). Outro partido recém-criado é o PRA-JA Servir Angola, que foi legalizado em outubro passado.

Motivações variadas

O que explica o surgimento de todas estas novas forças políticas em tão pouco tempo?

"Vontade de mudança", afirmou Hélder Chiuto, que na semana passada apresentou o seu projeto político, o Partido da Solução (PS). O jurista e religioso disse ter regressado à política ativa para defender os mais pobres e promover a unidade nacional.

"Precisamos de um novo avivamento político nacional. Para quê? Para, efetivamente, unir a todos. E o nosso modelo de Governo, embora situado no espetro centro-esquerda, está assente na necessidade imperiosa e imprescindível de unir todos, com um estilo de governação inclusivo, participativo e voltado para a unidade nacional", explicou Chiuto.

Nas últimas eleições, em 2022, Chiuto foi cabeça de lista da coligação CASA-CE pelo círculo eleitoral de Luanda.

A mesma vontade de mudança é o que move João Sassando, o líder do projeto político Partido Novo-Nova Voz. O sociólogo explicou as motivações para a criação da sua força política:

"Acreditamos que, 50 anos depois de o país ter experimentado de tudo, chegou o momento de apresentar uma nova forma de fazer política, centrada no homem e na mulher angolanos. Uma política baseada em ideias e não em pessoas, nem em violência. Já provamos que a violência apenas gera mais violência. Queremos construir e consolidar a nação", afirmou Sassando.

Fenómeno recorrente

Em todas as legislaturas angolanas, é recorrente o aparecimento de novas forças partidárias à medida que as eleições se aproximam. No entanto, o analista político Celestino Lumbangululu alertou que o surgimento de novos partidos não significa, necessariamente, um fortalecimento da democracia.

"Se analisarmos os fatores, vemos que uma das principais preocupações é o negócio político. Na criação de partidos, os líderes muitas vezes são os primeiros a beneficiar. São partidos que surgem por mera oportunidade e não para fortalecer a democracia", analisou Lumbangululu.

Chiuto, coordenador do Partido da Solução, reconheceu que há figuras que encaram a política como um negócio, mas garantiu que não é esse o seu caso.

"Há muitos políticos altamente mercenários que veem a política como uma oportunidade de autoenriquecimento, como um meio de beneficiar a si e à sua família. Consideram um partido político como um património familiar. Mas o Partido da Solução não é um projeto pessoal, é um projeto dos angolanos. Serão os angolanos que o vão sustentar e fazê-lo funcionar", declarou.

Também João Sassando, do Partido Novo-Nova Voz, criticou o julgamento precoce que muitos fazem em relação ao surgimento de novas forças políticas. Para ele, isso tem descredibilizado projetos legítimos:

"Existem, sim, pessoas que usam a política como negócio. Mas a sociedade está hoje mais consciente. Há líderes que acreditam na juventude e querem transformar as suas nações. O que não podemos aceitar é colocar todos no mesmo saco, sem conhecer as ideias e sem promover o debate. Isso é o mais importante", sublinhou.

Eleições com recorde de concorrentes?

Desde a abertura ao multipartidarismo em 1992, as eleições de 2027 poderão ser as primeiras em que mais de 15 partidos políticos concorrem — caso o Tribunal Constitucional aprove os cinco pedidos de legalização atualmente sob apreciação.

Para o analista Celestino Lumbangululu, um verdadeiro fortalecimento da democracia exigirá partidos comprometidos com a cidadania e com soluções concretas para os principais problemas que afetam os angolanos:

"O grande inimigo que enfrentamos é a pobreza. Os partidos devem trabalhar para resolver os problemas do povo, e não para fins pessoais ou para se manterem no poder. Precisamos de soluções que promovam uma vida mais digna para a população", concluiu o analista. DW Africa

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