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Sábado, 02 Julho 2016 07:53

"Líder" dos "15+2" questiona submissão angolana "à vontade de um homem"

"Líder" dos "15+2" vai continuar a partilhar pensamentos até provarem que "escrever um livro e divulgar ideias é crime"

O ativista angolano Domingos da Cruz, considerado pelo Tribunal de Luanda como líder de uma associação de malfeitores e em liberdade provisória desde quarta-feira, questiona o facto do povo angolano estar a "submeter-se à vontade de um homem".

Autor da obra "Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar uma Nova Ditadura", que desencadeou a operação policial que a 20 de Junho de 2015 levou à generalidade das detenções no âmbito do processo "15+2", o professor universitário falou à Lusa após a libertação, na quarta-feira 30, por ordem do Tribunal Supremo, tendo admitido que falta aos angolanos a percepção da "grandeza da unidade".

Em entrevista, o activista, Domingos da Cruz, condenado a 28 de Março por actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, pronunciou-se sobre o processo e o seu desfecho, e abordou os dias em esteve preso e como continua a ver o país e as autoridades de Angola.

Classificou como "difíceis" os primeiros dias após a detenção, sem acesso a visitas e colocados em condições, que considerou "degradantes".

"Locais onde havia baratas, ratos. De uma forma sintética, um espaço infra-humano, que não é adequado para acolher pessoas", recordou Domingos da Cruz.

Para o activista e investigador, este processo demonstra que os angolanos se encontram ainda numa "sociedade autoritária", e onde o nível de cultura política é "claramente autoritário", demonstrando que ainda há um longo caminho a percorrer para que se venha a ter uma Angola diferente.

"A minha ideia era permanentemente, de que aquilo era sinal, ou que nos encontramos num país extremamente atrasado, do ponto de vista político, por um lado, mas, por outro lado, também mostrava-me preocupado pelo facto de não haver uma sociedade capaz de levantar-se de forma conjunta", disse o activista, autor da obra "Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar uma Nova Ditadura", que o grupo de activistas contestatários do regime de José Eduardo dos Santos debatia numa formação que deveria decorrer durante algumas semanas.

Domingos da Cruz conclui que "do ponto de vista rigoroso", Angola não tem um sistema judicial e, precisa caminhar muito para que os angolanos possam ter um país diferente.

"Mas há uma questão fundamentalíssima. Logo após a nossa condenação, a minha pergunta foi: Somos mais de 26 milhões de habitantes, como é que tanta gente consegue submeter-se à vontade de um homem, talvez seja pelo facto de não sermos capazes de perceber, digamos, a grandeza da unidade, juntos somos mais fortes", manifestou.

"Por exemplo, prenderam 15, inicialmente, depois tornámo-nos 18, como deve calcular, se as pessoas tivessem percebido que não é possível prender um milhão ou 100.000 pessoas, que eventualmente se possam revoltar, seguramente que as pessoas agiriam. Já nas celas, a questão que eu sempre levantei, como é que um povo consegue se submeter à vontade de um tirano, impressiona-me a capacidade de um povo se submeter", criticou o activista.

Nos dias que se seguem, Domingos da Cruz, considerado o líder do grupo e condenado à pena mais alta - oito anos e seis meses - vai continuar a pensar e a produzir ideias, o que mais gosta e sabe fazer, até que lhe consigam provar que "escrever um livro e divulgar ideias e partilhá-las é crime".

"Para mim é perfeitamente razoável discutir ideias e é sinal de progresso civilizacional. Quem está disponível para discutir ideias é uma pessoa evoluída e portanto não posso parar, seria regredir do ponto de vista civilizacional", frisou.

Agradeceu o apoio de familiares e amigos nesse período, e lembra que também foramxxxxxxxxxxxxxx muitos os que não se solidarizaram, facto que não critica, porque está consciente que as pessoas não são obrigadas a seguir as opções por si feitas.

"Uns não fizeram, não por serem maus, talvez por medo e temos que tentar compreender o medo dessas pessoas e aproveitar a ocasião para dizer que nós somos mais de 26 milhões de pessoas, o opressor é só um, com um grupo à sua volta", reiterou.

© Lusa 

 

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