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Sexta, 19 Agosto 2016 13:03

Depois do dólar, também o kwanza está a sumir

A moeda nacional está a seguir a peugada do dólar e a escassear no mercado nos últimos dias. Economistas explicam o desaparecimento com a depreciação da moeda, aliada ao fracasso da alegada desdolarização da economia. Mas existem outros contornos.

Depois de escassearem as divisas, a moeda nacional, o kwanza, começa também a dar sinais de ausência no circuito mercantil interno, conforme constatou o NJ. Os motivos desta aparente desaparição da moeda angolana têm estado a perturbar, não só a classe empresarial, mas também o mais comum dos cidadãos, que se vêm a braços com longos períodos de espera no pagamento de salários, assim como nas transacções comerciais.

Segundo alguns economistas da praça contactados pelo NJ, a excessiva concentração da moeda nacional nas mãos da nata empresarial resulta numa das causas da deficiente circulação monetária.

Outros apontam o facto de a moeda nacional depreciada estar agora a dar cobertura ao papel antes desempenhado pelas divisas, que servia de meio de poupança junto das instituições bancárias, no âmbito da desdolarização da economia nacional.

 “Baixou a confiança que os empresários e os cidadãos tinham em relação aos bancos, de tal forma que poucos se dignam a realizar grandes operações de depósito em moeda nacional e muito menos em dólares ou noutra moeda externa”, confidenciou o jovem economista César Ximbili. 

Caetano André é outro economista que considera que a prática de preços exorbitantes na compra de bens e serviços está também a enxugar grande parte da moeda circulante, destinada à aquisição de divisas no mercado informal para a importação de mercadorias. 

Este ponto de vista é partilhado pelo economista Agostinho Domingos, que defende uma maior fiscalização na venda dos bens importados, com maior incidência para os produtos de primeira necessidade, normalmente adquiridos com o recurso aos valores cambiais disponibilizados regularmente pelo Banco Nacional de Angola e, que caso essa disponibilização não se verifique, vão desembocar no circuito comercial a preços especulativos. 

“Os empresários buscam alternativas para compensar a alta do dólar no mercado informal, porque não conseguem, por vias oficiais, obter a moeda forte. E como pretendem dar continuidade aos negócios adquirem o dinheiro externo no mercado onde ele está disponível, no caso o informal”, salientou Agostinho Domingos. 

O economista ressaltou que os pressupostos defendidos para a desdolarização da economia, como o reforço do papel do kwanza nas transacções internas, estão agora a revelar-se um tanto ou quanto precipitados, com contornos nefastos numa economia nacional ainda dependente em larga medida do preço do petróleo. 

“A dualidade monetária nos depósitos bancários, embora não seja bem-vinda por questões de soberania, deveria manter-se”, advogou o especialista.  

A título ilustrativo, na semana finda, representantes de algumas empresas de apoio ao sector petrolífero avançaram já para a necessidade do retorno dos pagamentos em dólares nas transacções monetárias que realizam junto das operadoras do ramo, de forma a permitir a importação de equipamentos indispensáveis e que são unicamente processados na moeda forte. 

O NJ tentou contactar as instituições financeiras do país no sentido de recolher detalhes sobre a escassez de kwanzas, mas sem sucesso. 

ACORDO MONETÁRIO   Moeda nacional na Namíbia    

Notícias veiculadas recentemente indicavam a excessiva concentração de massa monetária angolana no banco central namibiano, decorrente de um acordo monetário entre os dois países, que teve uma vigência efémera, sobretudo junto das localidades fronteiriças. 

Informações postas a circular na altura referiam que as razões de tal situação decorriam do facto de a moeda angolana circular naquele país, servindo para a aquisição de bens e serviços no mercado vizinho, mas que não teve idêntica contrapartida do lado namibiano, porquanto o mercado angolano pouco teria para oferecer em termos de produtos àquele país.  

O montante em causa não foi, no entanto, avançado. 

Oportunamente, na tentativa de captar essa massa monetária, um dos bancos comerciais angolanos terá inaugurado uma agência em território namibiano. Dias depois foi anunciada a reposição do acordo, mas os seus termos foram omitidos. Fontes a que o NJ teve acesso indicam que, não obstante isso, a moeda nacional ainda encontra relativa aceitação no mercado fronteiriço com a República Democrática do Congo, sobretudo na localidade de Luvo, mas trata-se de um fluxo sem peso económico e que tão somente propicia meras trocas comerciais locais. 

NJ

 

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