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Sábado, 01 Mai 2021 10:56

Sobreviventes da “Caipirinha do Azar” vão ter lesões profundas no organismo

Os sobreviventes do grupo que consumiu, no bairro Caop B, em Viana, uma bebida alcoólica adulterada, à qual se deu o nome de “Caipirinha do Azar”, por ter havido um número expressivo de mortos, até agora 13, poderão ficar com os órgãos internos comprometidos, admitiu, ontem, uma fonte hospitalar. 

A fonte, que ocupa um cargo na direcção do Hospital Municipal de Kapalanga, no município de Viana, no qual morreram cinco pessoas das 27 que deram entrada naquela unidade hospitalar por ingestão da "Caipirinha do Azar”, afirmou, em declarações ao Jornal de Angola, que a bebida adulterada criou "lesões profundas e graves” no organismo dos sobreviventes, um problema que pode levar tempo a curar ou persistir por toda a vida. 

A médica, que revelou estar uma menina de 12 anos entre os cinco mortos registados no Hospital Municipal de Kapalanga, informou que os sobreviventes ficaram com lesões no estômago e noutros órgãos, como os pulmões, o que pode comprometer o seu normal funcionamento. 

A fonte, que fez parte do corpo clínico que prestou assistência médica às 27 pessoas que deram entrada no Hospital Municipal de Kapalanga, adiantou que os sobreviventes vão ter reacções por toda a vida, motivo pelo qual devem ser acompanhados e receber continuamente tratamento médico e medicamentoso.

"Essas pessoas devem receber tratamento médico contínuo, porque muitas não têm defesas suficientes no organismo”, acentuou a médica, que disse terem os sobreviventes recebido, após alta hospitalar, na terça-feira, recomendações para regressarem ao Hospital Municipal de Kapalanga se tiverem alguma alteração no organismo, e uma prescrição médica, que deve ser cumprida para  atenuar as dores causadas pela ingestão da "caipirinha”.  Os sobreviventes vão ser observados em consultas de medicina interna e devem ingerir regularmente água potável e evitar o consumo de alimentos com elevado teor de acidez, de gindungo, gengibre e bebidas alcoólicas, para não haver irritação da mucosa gástrica.

Primeiros casos 

O Banco de Urgência do Hospital Municipal de Kapalanga recebeu as primeiras vítimas da ingestão da "Caipirinha do Azar”no domingo à noite com sintomas de gastrite, na sequência da ingestão, num convívio na noite de sexta-feira, da bebida artesanal, composta por "água do chefe”, bebida destilada, feita de açúcar e fermento, capassarinho, fruto com efeito alucinogénio, e combustível JET A1, para aviões.   

No domingo, foi registada,  no Hospital Municipal de Kapalanga, a primeira morte, cujo número subiu para cinco na segunda-feira, um dia antes de terem recebido alta os 22 dos 27 doentes que deram entrada na unidade hospitalar. 

"Alguns chegaram desacordados e outros em estado crítico, por estarem em situação de coma etílico, por intoxicação resultante da ingestão de uma bebida desconhecida”, informou a médica, que deu ênfase ao facto de o hospital ter conseguido salvar a maioria dos doentes.

O Hospital Municipal de Kapalanga não dispõe de condições laboratoriais para a realização, por exemplo, de um exame de endoscopia, para ajudar a desvendar as lesões que a ingestão da "Caipirinha do Azar” pôde ter causado ao estômago.  

A fonte hospitalar frisou que as cinco mortes registadas no Hospital Municipal de Kapalanga são de indivíduos com idades compreendidas entre 12 e 59 anos, informação que colide com a que já foi publicada, de que a faixa etária das vítimas mortais é dos 14 aos 59 anos.

A médica alertou que o Hospital Municipal de Kapalanga recebe, com frequência,  pacientes em estado crítico, por ingestão de bebidas alcoólicas, incluindo crianças. 

A título de exemplo, mencionou o caso de um rapaz de 14 anos, que está internado há cerca de 10 dias no serviço de pediatria do Hospital Municipal de Kapalanga, depois de ter consumido a chamada "água do chefe”. 

A criança é moradora do bairro Boa Fé, em Viana, e, quando deu entrada no hospital, estava em coma etílico, mas já está em recuperação, adiantou a médica.

Detenções confirmadas

O Serviço de Investigação Criminal (SIC) confirmou a detenção de três pessoas presumivelmente envolvidas na produção e venda da bebida caseira.  O Jornal de Angola soube, ontem, que o Serviço de Investigação Criminal colocou oficiais de ligação nos hospitais em que foram atendidas pessoas que consumiram a bebida adulterada, para se inteirar do registo de mortes eventualmente associadas ao consumo da "Caipirinha do Azar”. 

O SIC vai, nos próximos dias, tornar público um comunicado, no qual vai actualizar o número de mortos pela ingestão da bebida adulterada e explicar os resultados da perícia médico-legal e dos exames laboratoriais, que foram feitos para determinar as substâncias colocadas na bebida.  Além disso, também têm presença física no bairro onde ocorreu a tragédia para fazer um acompanhamento em tempo real dos casos de intoxicação resultante da ingestão da "caipirinha”. JA

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