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Quinta, 26 Junho 2025 22:53

Angola deve “arrumar a casa” para obter vantagens da Cimeira Empresarial EUA-África

Especialistas em relações internacionais consideram que “corrupção e insegurança jurídica” prejudicam Angola nas tentativas de captar investimento externo, e que para tirar vantagens da 17ª Cimeira Empresarial EUA-África, o país deve ter “a casa arrumada”.

“Angola pode retirar alguma vantagem da cimeira caso os empresários angolanos estejam preparados (para ela) e tenham alguma moeda de troca a dar. Agora o nosso ambiente de negócios tem desincentivado que investidores estrangeiros invistam em Angola”, disse à Lusa o analista Osvaldo Mboco.

O especialista em relações internacionais considera que o país “só poderá tirar grande proveito [desta cimeira] se tiver a casa arrumada na questão ligada ao asseguramento jurídico para os investimentos”.

Porque “se empresários americanos investirem no país podem passar uma imagem a nível do mundo de que Angola é um país bom para se investir”, frisou.

Luanda recebeu esta semana a Cimeira Empresarial EUA-África, o mais importante fórum de negócios entre os EUA e o continente africano, com o Corredor do Lobito, com forte investimento norte-americano, entre os temas em destaque.

Para Crispin Senga, também especialista em relações internacionais, “a economia angolana não tem condições para captar investimentos estrangeiros (…) sobretudo devido à corrupção, que ainda reina no país, à insegurança e falta de vias de comunicação”. O analista alerta que enquanto Angola continuar “a priorizar a imagem do país além-fronteiras e deixar à deriva a imagem interna, dificilmente conseguirá alcançar grandes resultados”.

A consolidação da imagem de Angola no sistema internacional deve ser feita inicialmente internamente, insistiu, afirmando: “Precisamos de nos organizar internamente para que os investidores estrangeiros encontrem um ambiente [de negócios] afável que lhes permita permanecer”.

Osvaldo Mboco realçou que os EUA apresentam sinais bastante visíveis de que mantêm interesses em controlar áreas de influência comercial em África, sobretudo com a seu programa comercial AGOA (African Growth and Opportunity Act) e o AFRICON. Entende que os países africanos têm aproveitado mal as oportunidades do AGOA, salientando que em relação a Angola, os EUA manifestam um interesse crescente não apenas no sector petrolífero, mas também nas infra-estruturas, particularmente com o Corredor do Lobito.

Também este analista destacou que a melhoria do ambiente de negócios em Angola deve impulsionar as relações entre Angola e os EUA em sectores não petrolíferos, acreditando mesmo na instalação de unidades fabris, apesar de ser “tarefa difícil tendo em atenção às exigências de produção”.

Quanto às oportunidades desta cimeira de Luanda, Crispin Senga considera que “não dependem do Presidente da República, enquanto principal dinamizador da política externa de Angola, considera, mas sobretudo dos empresários angolanos em firmar parcerias que visam “alavancar a economia e reduzir o rácio elevado de desempregados”.

Acrescentou que os EUA, diferente da China e da Rússia, têm critérios próprios de relacionamento com os Estados africanos, centrados nos valores como a promoção da democracia, livre mercado, direitos humanos, boa governação e combate à corrupção.

Mais de 1.500 participantes – incluindo Chefes de Estado de pelo menos sete países, primeiros-ministros e ministros africanos, altos responsáveis do Governo norte-americano e líderes empresariais dos dois continentes – encontraram-se na cimeira co-organizada pelo Corporate Council on Africa e o Governo de Angola. Os intervenientes abordaram o desenvolvimento do comércio, investimento e parcerias económicas em sectores como energia, infra-estruturas, saúde, tecnologias digitais, agronegócio, indústrias criativas e minerais críticos.

Corredor do Lobito é bandeira, mas dólares tardam a chegar

O Corredor do Lobito tem sido “bandeira” da cooperação dos EUA em África, sendo um dos pontos centrais da cimeira empresarial, mas o financiamento americano continua por concretizar. A infra-estrutura ferroviária estratégica, que liga o Porto do Lobito, em Angola à República Democrática do Congo, para facilitar o escoamento de minerais e mercadorias, tem estado no centro da diplomacia económica norte-americana e foi pano de fundo da visita do ex-Presidente Joe Biden, em Dezembro de 2024, e de uma visita de embaixadores liderada pelo americano James Story, em Abril. O projecto conta com apoio do G7, União Europeia, Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos EUA (DFC) e Exim Bank – Export-Import Bank dos EUA, sendo reconhecido por Story e pelos diplomatas europeus que o acompanharam como modelo de cooperação internacional. Apesar disso, o financiamento da DFC – cerca de 250 milhões de dólares anunciados em Fevereiro de 2024, mais 553 milhões previstos para a modernização da ferrovia e do porto – ainda não foram desembolsados. Este facto é, contudo, minimizado pelo consórcio LAR, que tem a concessão do Corredor do Lobito, que assegura que os accionistas continuam a sustentar os investimentos em curso.

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