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Sexta, 01 Outubro 2021 14:01

O que esperar do regresso de Eduardo dos Santos a Angola e o "segredo dos deuses" que vai salvar Isabel dos Santos

Especialistas explicam o que pode pôr fim às disputas políticas, como fica o impasse nos casos de corrupção e o que está a acontecer dentro da casa de luxo do ex-presidente angolano. Revelamos tudo.

José Eduardo dos Santos já regressou há mais de duas semanas a Luanda, depois do autoexílio em Barcelona, mas, até agora, da sua mansão no bairro do Miramar, só há silêncio. Ninguém sabe exatamente quais são os planos do ex-presidente de Angola. Estará a tentar recuperar o seu papel na História ou tentar restaurar o papel dos filhos na sociedade e na economia? Enquanto o ex-presidente de 79 anos de idade não quebra o silêncio, a tensão cresce.

A passar os dias isolado de todos na casa de luxo que mandou construir para quando deixasse o palácio presidencial, Zé Du, como também é conhecido, recebe a visita de poucos amigos e só terá saído daqueles muros para ir ao noivado do filho José Avelino Gourgel dos Santos.

"A rotina dele tem sido estar na piscina da propriedade e jogar, que é o seu exercício. Às vezes fica com um dos filhos. Não sai para comer com os amigos", disse uma fonte próxima à ‘The Mag’, pedindo para não ser identificada. Nas redes sociais, circula um vídeo antigo que dizem ser o ex-presidente a jogar basquetebol, como refere a nossa fonte.

Além da saída que fez para ir à festa de noivado, o ex-presidente não voltou a ser visto. "Inicialmente, quando estava tudo mal [nas relações entre José Eduardo dos Santos e o atual presidente, João Lourenço], ele não tinha tropas na casa. Agora já vês quatro ou cinco oficiais", disse ainda a mesma fonte. O resto é o segredo normal à volta do ex-presidente.

"O José Eduardo usou a vida toda uma tática, a do silêncio, ele evita falar seja do que for. É muito difícil percebermos. Normalmente, em política tentamos perceber até nos sinais, em alguns gestos ou em algumas atitudes o que é que está por trás, mas com o José Eduardo dos Santos é quase impossível isso acontecer", explicou o jornalista e diretor da Rádio Essencial, Emídio Fernando, em declarações à ‘The Mag’.

A opinião é partilhada por outro jornalista, Nok Nogueira, diretor do jornal ‘Isto é Notícia’. José Eduardo dos Santos "é uma pessoa que para o contexto sociopolítico angolano não regressou, está igual, o regresso dele não fez mossa na imprensa pública". O tratamento que tem sido dado ao assunto é de "total indiferença". "Ele está cá, mas está num autêntico bunker em silêncio", acrescentou.

Do lado de fora, também não passa despercebido o que tem sido feito com a imagem dele. "Oficialmente, o partido não felicitou o seu regresso nem conseguiu ir recebê-lo no aeroporto. O José Eduardo dos Santos passou à história", disse Nok.

Um sinal de um "MPLA muito agitado internamento", como afirmou Emídio. O partido tem o congresso agendado para daqui a dois meses e as próximas eleições estão marcadas para o próximo ano.

"Faz-se uma série de conjeturas aqui em Angola. Uma delas admite que José Eduardo dos Santos tenha regressado e que vá fazer uma interferência no congresso do MPLA em dezembro, e que essa interferência passará por exemplo por ele apoiar alguém candidato a secretário-geral [...] Isso é uma conjetura, não há dados sobre isso. Na História do MPLA, isso nunca aconteceu. Outra coisa é aquilo que não se pode esconder, a agitação interna que tem o MPLA".

Para Nok Nogueira, um cenário em que o ex-presidente volta a assumir um papel político é difícil. "O José Eduardo dos Santos está muito debilitado. Pessoalmente, não acredito que ele vá aparecer no congresso do MPLA. A imagem dele na imprensa pública teria de passar por uma certa reabilitação comparativamente àquela que ele tinha quando era presidente. Não se começou a fazer essa reabilitação da sua imagem. Por outro lado, o próprio estado de saúde dele. Não acredito que ele apareça com aquela imagem tão debilitada que apresenta atualmente. A não ser que haja uma grande surpresa", analisou o jornalista.

O PAPEL DOS FILHOS NA SOCIEDADE E NA ECONOMIA

Nos últimos dois anos e meio, de autoexílio, muito pouco se soube do ex-presidente de Angola. Tinha ido para Barcelona por questões médicas, vivia numa mansão de seis milhões de euros em Pedralbes e passou a visitar a filha Isabel dos Santos regularmente no Dubai, após a morte do genro, Sindika Dokolo. Uma dessas visitas, em março deste ano, coincidiu com uma viagem de João Lourenço à mesma cidade, mas ninguém confirma que terão mesmo conversado.

Um dos pontos que não passa ao lado do homem que esteve 38 anos no poder neste seu regresso a Luanda são exatamente estas disputas da Justiça com os seus filhos mais velhos, José Filomeno dos Santos - condenado a cinco anos de prisão no caso da transferência ilegal dos 500 milhões de dólares e a aguardar o recurso - e Isabel – investigada no escândalo Luanda Leaks, envolvendo o desvio de milhões de dólares do erário público angolano.

"Não acredito que o José Eduardo dos Santos tire algum dividendo [em caso de conversas com o MPLA], a não ser que esteja a pensar nos filhos, na possibilidade de os filhos não serem perseguidos como têm sido. Essa é a única possibilidade", argumentou Emídio.

"Ele tem imunidade, mas alguns dirigentes, a começar pelo filho José Filomeno dos Santos e pela filha Isabel dos Santos, que estiveram muito próximos dele durante estes últimos 20 anos, foram eles que tomaram conta do país de facto", completou. E é urgente abrir as portas ao investimento no país, após cinco anos de crise económica e da fome que estrangula o país.

"Estou convencido que eles vão recuar" na forma de combate à corrupção. "É impraticável a forma como isso tem sido feito. Não se pode chegar numa empresa e entregar aquilo" a outros.

"Durante estes anos todos as pessoas enriqueceram de uma determinada forma, facilitaram, e agora de repente retiram isto tudo, mas não estão a retirar individualmente, estão a retirar a quantidade de empresas e quantidade de trabalho e empregos que deram. Esse é o grande problema que Angola atravessa. Isabel dos Santos empregava milhares de pessoas. São estas pessoas que estão a ficar no desemprego. Mesmo sem haver julgamento, sem haver sequer decisões da PGR, João Lourenço está a pegar nos imóveis e nas propriedades daquelas pessoas que alegadamente receberam dinheiro ilícito e entrega a alguém", acusou Emídio. "E esses trabalhadores destas empresas é que são os mais prejudicados."

O clima de incerteza tem aprofundado a falta de financiamento estrangeiro. "Quem é o empresário estrangeiro que vem investir em Angola a pensar que daqui a seis meses, por qualquer decisão do presidente ou de quem que seja, a empresa afinal é do Estado?"

Nok Nogueira acredita que "esta questão dos filhos do ex-presidente da república não vai ser resolvida em hasta pública. Isto vai ficar nos segredos dos deuses porque também não é cultura do MPLA revelar as suas jogadas. Só vamos saber a quantas andamos lá por volta de fevereiro, quando a pré-campanha intensificar", defendeu Nok Nogueira.

A ‘The Mag’ tentou contactar o porta-voz do MPLA, Albino Carlos, o porta-voz da Procuradoria-Geral da República de Angola, Álvaro João, a empresária Isabel dos Santos e a ex-deputada Tchizé dos Santos mas não obteve resposta até ao fim desta edição.

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