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Sábado, 25 Janeiro 2014 12:57

Marcolino Moco convida jovens a pensar saída pacífica para “situação insustentável”

A intervenção de Lopo do Nascimento, despedindo-se formalmente de uma, há muito anunciada saída da vida política, que como era de esperar, teve partes escamoteadas na comunicação oficial, seja qual for a face da realidade em que for apreciada, é um marco histórico, no processo político angolano no sentido positivo.

Eu que como amigo pessoal já o censurei pelo seu recuo de uma missão histórica de transformar, dentro do MPLA, as ideias do “novo pan-africanismo” que sustentou no discurso final, senti-me aliviado, no ponto em que as coisas chegaram, e que tenho documentado com propostas concretas “para sairmos disso”, por considerar que o Homem deixou uma mensagem de relevo para a juventude.

Não importam as razões concretas que o terão levado a sair agora, os jovens (por vezes penso que os mais velhos já estão demasiado contaminados por “tribalismos” e “racismos” sempre disfarçados na verborreia do politicamente correcto) dentro do MPLA, na oposição e na sociedade civil, deviam aproveitar este mote para começar a discutir uma saída pacífica duma situação que e já se vais tornando insustentável.

Lopo do Nascimento, Pepetela, eu próprio e tantos outros que das gerações mais velhas, (“comprometidos” com o nosso passado de actores do sistema de partido-único que terminou em 1992, agora reciclado no “eduardismo” do pós 2002) temos esgrimido um discurso sobre os problemas actuais, seremos sempre apodados junto dos mais jovens, pelos mais renitentes dos nossos coetâneos, de não termos o direito à palavra sobre o desejo de mudanças na actualidade. Por vezes penso que é isso cansa Lopo de Nascimento, Pepetela e outros mais velhos que gostariam também de falar sobre o “escandaloso” do presente e são abafados pela força da desgraça dos nossos próprios recursos naturais, que tudo compram, dentro e fora do país.

Lopo do Nascimento, líder da ala do MPLA (de que era o prestigiado Secretário Geral) que foi cobardemente afastada da direccção, no Congresso de Dezembro de 1998, foi sempre a figura tutelar da criação de um novo MPLA, adaptado aos tempos posteriores à queda do Muro de Berlim.

Deve-se dizer agora, com toda a clareza, que foi a partir dessa altura que se construiu o “MPLA” que temos hoje, que após o que chamam “derrota militar da UNITA”, constrói sofregamente um Estado-Etnia política, que entrega todo o poder ao seu líder, para da sua mesa recolher “as migalhas suculentas”. Todo o interesse perdido em contribuir para a construção de Estado-Nação que respeite as diferenças e a diversidade, sem comprar consciências.

Notei com muito apreço as três figuras simbólicas que Lopo homenageou no seu discurso de despedida: Lúcio Lara, Mendes de Carvalho e Nfulupinga Lando Victor. É esta Angola que teremos de construir: a Angola pacífica mas contraditória de todas as raças, de todas as etnias e de todas as regiões, cada um com o seu sotaque, algumas “manias” e diferentes cosmovisões.

Se Lopo, ao longo da sua extraordinária vida política, não conseguiu encher o copo (quem sozinho o conseguiria?), deitou ontem uma gota de volume significativo num copo chamado futuro pacífico de Angola.

Marcolino Moco

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