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Sexta, 03 Dezembro 2021 22:52

Descartar para cubanizar

Na atualidade e contesto dos temas públicos que dominam a paisagem política angolana, tanto se tem falado da vida interna do maior partido da oposição e do seu líder Adalberto Costa Júnior.

No entanto, para o leitor não cair mercê do acaso (como carta de um baralho arrojado pelo vento), para não incorrer no erro de confundir com uma espécie de fragilidade, quebra ou exaustão política, ou conjeturar a cilindragem política de um e outro foco dos comentários do dia-a-dia, haverá benefício em enquadrar a circunstância que referimos no lugar adequado a focagem da orla da verdade fáctica, portanto, verdade material.

Em toda verdade dos factos, a substância deles não andará longe das vistas do comum dos angolanos. A melhor maneira de desmistificar o que se mantém por detrás da cortina - que é aquilo que realmente importa para assimilação da visão que se entrecruza frontalmente com a realidade subjacente ao fenómeno social em questão, sobretudo a vertente política que ostenta -, implica, inexoravelmente, decantar o que a masse media - particularmente a comunicação social assoldada por João Lourenço e MPLA - têm andado a bafejar para atmosfera da (des)informação.

Dúvidas não sobram de que, a aposta diária e o esforço dos masse media do regime está concentrado no objetivo de permear a sociedade angolana com uma ideia estudada e afinada a qual se pode resumir, assim: Se alguma divergência ou algum diferendo existe nesse momento, entre nós (dentro da sociedade angolana), que pode e deve merecer absorver toda nossa atenção, ser seguido aturadamente com atenção máxima e inexaurível, esta quezília que se transformou numa deriva de disputas (ou qualquer outra coisa que lhe queiram chamar), está dentro da UNITA e no centro dela está Adalberto Costa Júnior. Ora, daqui facilmente se retira que João Lourenço e MPLA ficaram aquém de uma construção mais aperfeiçoada do que esta no seu intento de se resguardarem de uma derrota certa em 2022. Partimos do princípio que a humilhação nas urnas os espera sem estrondo, mas, se tiverem sorte de lá chegarem. Repito e sublinho a condicionante “se”, pois terão de ter a felicidade de as populações lhes permitirem, ou lhes autorizarem, ou lhes consentirem que se apresentem às próximas eleições.

Justamente pela existência desta dúvida (que é inerente ao espírito crítico dos angolanos, consequente e absolutamente legítima e realista, pois, outros houve no passado recente entre a nossa vizinhança mais próxima e a mais afastada, não lhes terem as populações concedido o privilégio de ir à votos), temos de falar relativamente a possibilidade de João Lourenço atrelado ao seu MPLA, vice-versa, chegarem ou não às urnas em 2022. Faz sentido esta hipótese? Sim!

É um precedente gravíssimo e imperdoável, é uma afronta que não deve passar impune às mãos do povo angolano: A ousadia e o desprezo que João Lourenço manifestou pelo povo acham-se implícitos na promulgação da fraude batizada de nova lei orgânica das eleições. No momento histórico que estamos vivendo e testemunhando, o gesto de espezinhar o povo pode e deve sofrer a mais severa punição deste – o peso do juízo popular. Está-se em face de um ato frontalmente petulante, um ato que traduz na perfeição o cúmulo a que se chegou no abuso do poder, é de todo inqualificável e quase só encontra paralelo no instituto jurídico da deserdação do herdeiro legitimário. Aqui, o primafacie herdeiro é qualificado como indigno da herança, justamente, pela intenção comprovada de atentar ou consumar um crime contra a vida do titular do património (autor da sucessão). O dolo do indigno visa precipitar no tempo o desselar do testamento.

Pragmaticamente falando:

João Lourenço roubou o testamento feito pelo do povo nas recâmaras da sua soberania, adulterou-o a seu favor, e, agora, apunhalou (encobertamente) o povo pelas costas. Ou seja, quer a abrir a sucessão de si para si traficando todas expectativas e a esperança do povo depositada na deixa testamentária. Habilidoso, ainda assim, correu-lhe tudo mal. No limite, o preço que lhe espera é o fim da ascensão na carreira política e a queda na escala de rating do QI dos maiores corruptos de sempre em Angola.

Juntos levantemos os nossos olhos e façamo-los cotejar parte da torrente dos factos substanciais:

O país debate-se com uma conjuntura económica gravíssima, na qual, se verifica diariamente o alastrar de repercussões a uma velocidade desconcertante. O cenário é desolador nos seus contornos lívidos onde o desespero domina qual monarca cruel. Outra face do mesmo cenário exibe uma “parada” de causas. Basta correr a cortina para o lado e o que se vê é uma espécie de escadaria infindável onde os padrões decorativos são, nem mais nem menos, as razões de fundo de uma crise intimamente ligada às práticas da governação. Não há nada a que se possa deitar a mão da investigação que não vá parar ao entrelaçamento de relações comprometidas com incomensuráveis níveis de corrupção. À cabeça estão todos àqueles que já sabemos e conhecemos, os mesmos que constituem e lideram as estruturas orgânicas das instituições que podem ou não fazer o estado funcionar. O facto é que até hoje a máquina do estado não arrancou!

Não admira o facto de o país se encontrar em marcha regressiva, ou seja, a descair permanentemente, de 1975 à 2002, e, de 2002 até aos nossos. Para os dirigentes, simplesmente, está mais que adquirido o sentimento de que não há que se preocupar com povo porque ele não existe e nunca existiu nos planos da desobediência e da resistência civil.

Enquanto o tempo passa e a história repete-se ciclicamente, a esperança do povo se desvanece de eleição em eleição e a degradação das condições de vida acentua. Desde 1975 quem governou o país foi sempre o MPLA. Foram sempre eles (do MPLA) a mandar no país e a controlar toda riqueza do povo angolano. Ninguém mais! Então, porque razão o paradoxo da estranha necessidade e, do motivo aparentemente estranho, que levou o partido do poder a atacar o líder da maior força política da oposição? Não será esta e outras forças (da oposição séria) que têm motivos de sobra para atacar João Lourenço e o MPLA? Este, com base em processos eleitorais caóticos sob o ponto de vista da fiscalização e do papel dos observadores, sempre preencheram o parlamento com um tom predominantemente avermelhado. Como, porquê podem vir eles agora promulgar uma nova lei orgânica das eleições gerais? Que pulga lhes terá descoberto a entrada do ouvido e desestabilizado o curso normal dos impulsos e das correntes da inteligência?

Haverá razões? A final, quais são os verdadeiros óbices ao progresso do país?

A corrupção e o nepotismo? O falhanço do tão propalado plano de combate a corrução? O repatriamento de capitais? A desconcentração do poder via instituição das autarquias locais baseadas no voto e no sufrágio local? De todo, não parece que seja por algum hipotético sucesso (do governo do MPLA) nestas matérias do seu programa eleitoral sufragado nas eleições de 2017, que o seu líder João Lourenço, o atual Presidente da República, tirou ilações relativamente a estratégia de preparação das eleições de 2022.

Pertence ao passado o tempo de contentar-se com meras referências veladas ou subentendidas ao líder e mentor do agravamento da miséria do povo angolano.  Sendo ele o responsável principal pelo marasmo em que o país se encontra é preciso referir, insistentemente, o nome e a figura do pai do monstro (João Lourenço) no contesto do debate e da análise da situação de suplício socioeconómico com que as populações estão-se debatendo.

Constituindo a lei orgânica das eleições gerais uma das matérias mais sensíveis, e mais críticas da legitimação dos resultados eleitorais, se se atender a emergência e o imperativo da promulgação da nova lei orgânica das eleições gerais - contra tudo e contra todos defendida indefetivelmente pelo MPLA - compreender-se-á, sem a mais pequena brecha para dúvidas, que, é a consciência plena de mais um falhanço perante o povo (em toda linha das expectativas mais uma vez desfraldadas) a razão de fundo de todo hiato legislativo de última hora envolto do ruidoso debate em torno da vida interna da UNITA.

João Lourenço engendrou uma manobra de diversão para assacar à UNITA responsabilidades de eventuais atropelos das regras democráticas enquanto ele, sim, com a sua fraude trasvestida de lei, tirada da cartola, abalroava as regras que diz defender em nome da democracia do país.

Quem quiser pode a partir de agora perguntar:

Em que medida é que o congresso da UNITA, de 2019, contribuiu para o retrocesso brutal das condições de vida dos angolanos? Em que medida a eleição de Adalberto Costa Júnior influiu no estado de miséria em que vivem as populações de Angola? No que se está passando em Angola, que responsabilidades têm Adalberto Costa Júnior e a UNITA? Serão imputáveis a Abel Chivukuvuku e o PRA-JÁ, ou ao Bloco Democrático, as condições sub-humanas que se testemunha hoje no seio das famílias angolanas?

A sátira indigente e de humor atroz do Tribunal Constitucional – intitulada Acórdão 700/2021 -, aplicou-se num extensíssimo acórdão de ingerência na vida interna da UNITA. Nós angolanos, perguntamos:

Ter-se-ia ou não traduzido num serviço irrepreensivelmente democrático, livre da mais ligeira censura por isso, um trabalho verdadeiramente útil para o país, se tivesse vindo o Tribunal de Contas apresentar de fio à pavio as receitas e despesas na pendência do executivo de João Lourenço?

Passaram mais de quatro anos da sucessão de Eduardo dos Santos e, o que se assiste é o recrudescimento das políticas e práticas de longas décadas da governação de Angola. São as instituições do estado a fiscalizarem e a ingerirem-se na vida internas dos principais partidos da oposição, e não o contrário. Paralelamente e em simultâneo, as mesmas instituições do estado erguem muro após muro contra todas legítimas tentativas de fiscalização da acção do executivo e do estado pela oposição. Sem hipótese mínima de dúvida, o país funciona numa lógica totalmente invertida, instrumentalizada e agravada pela distrofia legislativa ao som das campainhas de emergência orientadas e programadas para sobrevivência do regime.

Ora, se as leis são alteradas para contornar e fugir às consequências do que se prometeu às populações, mas, não se cumpriu; se a nova lei usurpa ao povo o poder de escolher e de decidir quem serão os seus governantes; se esta lei atribui à CNE – órgão inteira e totalmente controlado pelo MPLA - este poder/decisão, logo, passou-se de um cenário de primazia eleitoral passiva do povo para uma situação de legitimação recíproca entre partido do poder e a CNE. Ambos se assentaram no lugar que só ao povo pertence e compete ocupar. Visto de outro modo o MPLA legislou para se autolegitimar no poder sendo que, doravante João Lourenço passará a se autoeleger presidente de todos angolanos. Por outro lado se, a maioria parlamentar legisla para incinerar quaisquer embriões e quebrar as hastes da verdade e da transparência; se João Lourenço e MPLA legislam para branquear a corrupção colossal, mascarar a incompetência crónica; se João Lourenço e o seu regime legislam para selar com betão, jurídico, as janelas da esperança que inculcaram no coração de sucessivas gerações das populações, para lhes roubarem de seguida todos direitos e a sua própria dignidade; se, com a sua lei, João Lourenço e o MPLA transformaram o povo angolano num mero votante e expectador, não mais do que um eleitor virtual, portanto, não efetivo, tendo quem promulgou a fraude maquilhada de lei sido indigitado Presidente da República à custa da mega fraude eleitoral de 2017, não haverá outra conclusão a tirar senão esta: Para se perpetuarem no poder, João Lourenço e MPLA estão decididos e determinados a cubanizar Angola.

A alternativa ao consentimento tácito de cubanização de Angola, está na perceção da verdadeira dimensão do que isto representa e encerra. Para agir com determinação, para atuar decididamente, o povo tem de perceber que é nulo o dito novo diploma por manifesta violação de um princípio básico do sufrágio universal por voto popular: O sufrágio por voto popular só se verifica quando o povo vota e os seus legítimos e legais representantes fiscalizam, efetivamente (o voto) no próprio sítio e local do exercício do voto – entram para estas contas, também, imperativos ligados ao carácter secreto e individual do voto, e ainda, a sua territorialidade originária. Os valores em causa não protegem a integridade do próprio voto motivo por que, em democracia, não pode fórmula nenhuma nem lei alguma ceder lugar ao sufrágio por voto da CNE.

Transferência da soberania popular para a CNE, é o facto jurídico intrínseco, e efetivo, da lei trasvestida de João Lourenço e do seu regime: Tiraram o poder das mãos do povo e apoderaram-se dele na figura, interposta, da CNE. Portanto, referir-se a esse sofisma como lei pouco transparente é eufemisticamente redutor. Nada se alterará, ainda que o embuste se baseie numa constituição semântica que lhe dê acolhimento cabal. Como tal, qualquer constituição só será digna do epíteto se for ela mesmo uma instituição do povo, se representar o repositório da qualidade e robustez da cultura democrática de um povo. Donde, qualquer constituição forjada à margem do sentimento geral ou da vontade da maioria do povo, qualquer constituição tendente a lateralizar, mais ou menos, a predisposição política do povo, só valerá até o dia em que o povo toma a iniciativa de a desfazer por entre os seus dedos. Tudo indica ser este o desfecho que espera à Constituição (vigente) da República de Angola.

João Lourenço e o MPLA podem tirar o país da decadência vertiginosa

Obviamente, não! São eles que mantêm a vontade, e insistem desmesuradamente no enriquecimento à custa da corrupção e toda teia de vícios anti progresso e antidesenvolvimento. Como poderão alcançar o oposto?

Através das décadas, o papel da comunicação social do estado nunca passou de um megafone da propaganda sórdida do regime. A PGR nunca passou de um mero instrumento de encobrimento da elite oligarca. Concretiza-o por meio de ataques persecutórios aos potenciais ou eventuais fatores de perturbação dos caudalosos fluxos da corrupção do regime. A maioria parlamentar do MPLA e o TC (integrados no seio da elite) nunca passaram de forças de bloqueio aos projetos de associação política e partidária. A sua função tem sido, substancialmente, a de bloquear direta ou indiretamente, projetos legislativos de iniciativa das forças políticas da oposição ou da sociedade civil. Ambos nunca foram além do papel de promotores e de personificação autêntica da antidemocracia. O chefe do executivo, supostamente, mais alto magistrado da nação (João Lourenço), sem meias rédeas, promoveu e privilegiou a substituição da anterior lei por uma farsa que pretende configurar uma nova orgânica das eleições gerais. Apostou aí todas as fichas, suas e do MPLA, em detrimento do reforço da democratização da vida do país que se verificaria se optasse e, se engajasse, na consolidação do projeto das autarquias locais. Num contesto onde a morte e o luto no seio das famílias tomam invariavelmente o horizonte a curto prazo, têm o condão de suplantar largamente a expressão e a celebração da vida, não admira nada que o grupo de pessoas, em apreço, passe a vida a empenhar as receitas públicas numa luta desesperada contra tudo que se apresenta como alternativa à sua caótica e funesta governação. Lamentavelmente, constata-se aqui mais um paradoxo no desprezo pelas necessidades das populações expostas à fome e à miséria enquanto os fundos públicos são aplicados no incremento da corrupção generalizada que, de manhã, à tarde e à noite, o MPLA diz querer combater. O impossível de passar despercebido na realidade vigente na sociedade angolana, é que na aposta de João Lourenço e do MPLA relativamente ao combate a corrupção, enquanto o erário público está sofrendo um desgaste como nunca, inclusivamente, diluiu a chamada sexta básica, não se assiste o reforço das instituições do estado no sentido de acompanhar competentemente o dito combate. Pelo contrário, o combate a corrupção multiplicou e seguirá exponenciando todos vícios do sistema enquanto forem poder. Os muros contra a sindicância da ação governativa e do funcionamento das instituições e organismos do estado, cresceu em altura e espessura. A fórmula é tão simples como isso: Corromper e incrementar a corrupção para desvio de somas colossais dos fundos públicos como forma de garantir a manutenção no poder. Esta como outras é uma contradição irrefutável no estômago dos angolanos quando chega a hora de sentar-se à mesa. 

A seus olhos, no seu melhor, o partido dos paradoxos e das contradições insofismáveis encarregou-se de acender uma fogueira, sob a forma de fiscalização do TC, e aí colocou a UNITA e o seu líder (Adalberto Costa Júnior). Enquanto todos mantêm a curiosidade, de olhos fitos na lenha do MPLA a arder a volta dos visados, subliminarmente, João Lourenço lança a ponte das intensões de fraude nas eleições que se avizinham promulgando por entre latidos a sua conjuração disfarçada de lei. Neste cenário de hipotética fraude eleitoral, em preparação, à respaldar por uma lei feita contra a vontade do povo e movida pelo intuito de cubanizar Angola, há a registar o gravíssimo erro de cálculo de João Lourenço e dos seus estrategas no todo da máquina maquiavélica:

É que o adversário de João Lourenço e do MPLA em 2022 não é Adalberto Costa Júnior nem é a UNITA. Não é Abel Chivukuvuku nem o PRA-JÁ!

Sem paralelo com passado mais ou menos remoto, as eleições de 2022 hão-de-ser um combate encarniçado entre João Lourenço com seu MPLA de um lado, o povo angolano de Cabinda ao Cunene do lado oposto.

Que nenhum soldado ou polícia pense disparar sequer para o ar um único tiro. O dia das eleições é o dia do povo angolano e da proclamação da sua segunda independência! A UNITA e Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e o PRA-JÁ, o Bloco Democrático e o seu líder, como quaisquer outras forças da oposição séria e genuína, são apenas quem corporiza a voz política do povo angolano. São homens honrados e corajosos, homens decentes e resilientes, são compatriotas do povo sofredor, daí determinados em andar em cima dos ombros do povo portando as vozes das vítimas da escravidão silenciosamente imposta por João Lourenço e MPLA. Estes porta estandarte da libertação de Angola do jugo do MPLA, estão desde já sobre os ombros oferecidos pelo povo. Foram investidos em nome do grande desígnio nacional de expulsar do altar do poder político os malfeitores que, há décadas, ali se instalaram. A pulha de João Lourenço carrega e traz sempre consigo a marca da morte na palma das mãos. Tem os dedos manchados do sangue e do luto dos angolanos martirizados com privação dos bens essenciais todos dias, em casa e nas ruas.

Mais cedo que o imaginado e esperado por João Lourenço e MPLA, o próprio povo vai sair à rua e marchar até ao palácio presidencial. Nós, angolanos, não somos inferiores aos povos corajosos que mostraram valentia na luta contra ditaduras - tão ou ainda mais facinorosas do que a de João Lourenço e seu regime. Posto na casa do símbolo máximo da soberania do povo e do estado angolano, no lugar de que só o povo tem a palavra e poder para mandar que alguém se assente sobre a cadeira, ou se retire da cadeira de honra, no uso pleno da sua soberania e da invencibilidade do poder que ainda detém, o povo vai entregar o cetro presidencial àquele em quem quiser confiar a governação e destinos do país.

Do quadro desta marcha gloriosa ninguém está excluído. Nenhum angolano é marginalizado ou discriminado, porventura por vestir uniforme ou integrar outro sector em outro meio de vida. Todos os homens nasceram de uma mulher, a maioria casa-se com uma mulher, pode ser pai de outras e irmão de tantas outras. Todos têm a responsabilidade da família sobre os seus ombros. Portanto, povo, é o universo absoluto e total dos cidadãos angolanos - seja qual for a sua casta ou etnia, o seu ofício ou a sua situação profissional, não importa a sua condição e posição que enquadra na sociedade.

De passagem se diga, longe de qualquer pretensão desesperada e maliciosa, a morte de Jonas Savimbi fez disrupção nas suscetibilidades e dividiu sensibilidades na força dinâmica do impacto que produziu. A magnitude do facto heroico de dar a sua vida pela liberdade e pela dignidade dos angolanos gerou, uma onda inclusiva para a esmagadora maioria do povo, exclusiva para uma minoria isolada e estoica para os sentimentos de fome e sede de justiça dos angolanos. À reboque das ondas de choque de uma perda geral que não foi senão o desfecho de um processo longo de rejeição, Angola acabou por encontrar-se consigo mesma. O assassinato cobarde de Jonas Savimbi não se deveu senão a sua recusa e determinação de transigir face a abordagem fratricida do regime contra as suas justas reivindicações e aspirações de homem livre, de espírito aberto a tolerância e harmonia democráticas. Passados 20 anos da sua morte heroica ainda hoje os angolanos continuam nas mãos opressoras de um regime profundamente desumano. Ainda hoje em plena terceira década do século XXI, os angolanos debatem-se com um regime que alcançou a proeza de transformar a experiência da colonização num paraíso comparativamente a situação presente das populações angolanas. O ano vigésimo desse evento, tem tudo para dever ser celebrado (pelo povo) com a assinatura da liberdade numa justa homenagem àquele cujo a vida testemunhou preocupação, profunda, pelo bem-estar do povo angolano através da edificação e consolidação do estado constitucional.

Esperar uma vida digna até quando?

“…foi morto pelo colonialismo, saía da sua aldeia, ia para escola…”, rezava assim o refrão do hino do pioneiro angolano. O hino era prosaico e parecia singelo, mas não era. Exprimia a dureza dos sacrifícios da luta por uma nação livre, uma pátria independente, um estado soberano conforme o sonho de centenas de gerações de angolanos. Todos angolanos que viveram a sua primeira infância até pelo menos 1980 entoavam este hino em várias ocasiões de ações de doutrinação das maças populares. Isto dá mote a descoberta de mais um dos paradoxos do partido de João Lourenço.

Passados mais de 40 anos, segundo o citado hino, constata-se que, a final, muitas crianças tinham acesso à escola na época colonial. O pioneiro Ngangula foi morto no trajeto de casa para escola. O pioneiro Zeca não parece que andava arredado das atividades escolares. Eram ambos pioneiros do MPLA, segundo a narrativa do próprio MPLA, frequentavam a escola. Contudo, daqui nenhuma leitura deve ir além da censura a traição vil de João Lourenço e seus companheiros aos angolanos, nem considerar a hipótese de se pretender erigir uma espécie de memorial a dominação colonial com as letras e palavras deste paradoxo. Não morreram por carência alimentar ou privação de água potável, ausência de saneamento básico na escola ou falta de hospitais, falta de médicos e/ou de medicamentos. As condições que os dois pioneiros tinham são hoje um sonho inatingível para as crianças angolanas. É o país com a maior taxa de mortalidade infantil do mundo. Cerca de 70 em cada 100 crianças morre antes de completar cinco anos de idade. Para muitos dos pais do presente, todos àqueles que entoavam o hino na sua meninice, roça à utopia sonhar dar aos seus filhos o que, mal ou bem, os seus pais tiveram o privilégio de os oferecer - mesmo sob a bandeira colonial. Portanto, cubanizar Angola representa uma perspetiva e um projeto de todo abominável. Resume-se a atuação no sentido de retirar definitivamente das mãos dos angolanos a liberdade uma vez conquistada com sangue suor e lágrimas. Alguma liberdade é do muito pouco que resta a um povo que, do nascer do sol ao seu ocaso, sabe que nada tem senão a certeza das privações que terá de enfrentar. A luta contra o colonialismo português caiu em larga medida num vazio de sentido face a tirania do MPLA. Depois de todo gigantesco esforço dos angolanos para descolonizarem Angola, em troca (ao povo) João Lourenço e MPLA estendem a mão esquerda com a fome, e a mão direita estendem soprando a morte lenta via bloqueio total e completo aos bens e serviços. Nem a ração básica e essencial para a vida aparece na mesa dos angolanos. Reduziram a experiência existencial dos angolanos a um mero testemunho passivo do assédio às suas aspirações democráticas; espectadores passivos do bloqueio às liberdades e direitos fundamentais; bloqueio do acesso livre aos alimentos manufaturados; bloqueio do acesso às terras e campos aráveis, do acesso à água potável, do acesso à educação, do acesso à hospitais com condições condignas, bloqueio do acesso à médicos, do acesso à medicamentos, do acesso à tratamentos, do acesso às fontes de energia, do acesso à eletricidade, etc., etc. 

Aqueles que sempre governaram o país têm-se mostrado absolutamente cientes do falhanço que lhes assenta como um diadema perante o povo. O expediente de que se têm socorrido, invariavelmente, de ciclo em ciclo, é legislar à entrada do calendário eleitoral quando o cenário da derrota no pleito é temerariamente mais que adquirido. Já assim tinha sucedido quando se depararam com cenário de derrota esmagadora, categórica, nas eleições presidenciais para as quais consumaram a alteração constitucional de 2010.  Em época de congressos de dois dos maiores partidos contendores nas eleições de 2022, um momento em que se perfilam, talvez, os únicos virtuais vencedores da próxima corrida ao palácio presidencial, não seria o timing tipicamente apropriado nem de esperar que no centro do debate político estivessem as resoluções que a UNITA toma ou deixa de tomar na esfera da sua vida interna.

Lançou-se um debate pendular em que, amiúde, se fala de quase tudo e mais alguma coisa acerca da UNITA e de Adalberto Costa Júnior. O desviar do foco que interessa aos angolanos é assertivamente tanto mais repulsivo quanto, acentua um cunho perturbador e privativo da merecida tranquilidade que apenas pode vir do esclarecimento das ideias ínsitas nos programas políticos a sufragar muito em breve. Aproxima-se a data de abertura das urnas eleitorais e nada se sabe senão das deslocações aqui e acolá do antigo comissário político do regime.

Paira permanentemente sobre o povo um influxo de incongruências, um peso sufocante, uma torrente de factos e eventos que deixam as pessoas ansiosas. O âmago do presente no cotidiano do povo está passando completamente ao lado da agenda de João Lourenço e do seu governo.  Na agenda de João Lourenço e do MPLA, os problemas que afligem os angolanos estão ocupando um lugar absolutamente residual para dimensão da importância do interesse nacional e do país. O governo não quer que se saiba ou conheça nada do que faz dentre as paredes dos gabinetes de trabalho. Tudo que quer e se dedica a fazer é espiar e imiscuir-se na vida interna das forças políticas da oposição. Contudo, o facto de se moverem por detrás das mais opacas cortinas de ferro, João Lourenço e MPLA, não lograrão toldar os sentidos do comum dos cidadãos com manobras gratuitas e caducas.

Está à mão de semear o descortinar dos autores destes clássicos rasca e o seu parasitismo cavernoso. O mais tangível no pano de fundo da saga nenhum mistério encerra, nem carece dos ofícios dos malfadados deuses ou dos mais afoitos videntes da corte do regime no poder. Seja quem for e em que posição se encontrarem os supostos oráculos do regime, nada há a decifrar na nébula do esbatido espectro de cada dia.

Já os antigos diziam: “A mentira é como comer a ginguba no fundo do rio, pois, a casca acaba sempre vindo à superfície”.

Não espanta nada que o mais ténue feixe de luz na mente de cada angolana e de cada angolano transporta consigo uma demolidora estridência contra as fortalezas (de cartão) da mentira e da desonestidade de João Lourenço e MPLA. A memória política dos angolanos goza de robustez reluzente.

O MPLA que é governo desde às 23:00h daquele dia - dia em que a esmagadora maioria da população que constitui hoje a demografia de Angola não viu nascer. Estes já quase nada podem aprender sobre o evento da independência pela transmissão oral ou da tradição familiar. Não há margem para equívocos; é João Lourenço, o MPLA e a sua corrupção crônica quem estão no centro do debate real. No espírito de cada angolana e de cada angolano e nas conversas à hora (suposta) das refeições do dia, é do imperativo de pôr cobro a governação macabra que se fala. Basta olhar para a mesa vazia ou enfrentar a doença na dependência da sorte, faz-se luz na mente relativamente aos protagonistas deste massacre silencioso, ainda assim, lúgubre. Esta realidade pura e dura persegue implacavelmente os angolanos. Como que a própria sombra, acompanha os angolanos diariamente, de Cabinda ao Cunene, numa escala transversal às sensibilidades e substratos sociais. Este é o pendão que congrega e convoca todos angolanos a erguerem o braço firme da mudança, hoje e agora!

Toda controvérsia na base do debate em que a UNITA e Adalberto Costa Júnior foram cravados com pregos do Tribunal Constitucional (este no exercício da sua laboriosa tarefa de chumbar um caixão depondo no esquife a democracia tão aspirada e ansiada pelo povo angolano) não passa de um debate manhoso e, de todo em todo, lateral. Representa mais um falhanço político de João Lourenço e MPLA e está repleto do mais asqueroso linchamento da UNITA e de Adalberto Costa Júnior. Esta tem sido tipicamente uma discussão de pendor vergonhoso e desleal, criada com base em factos contrafeitos para silenciar o último reduto da resistência contra a cubanização de Angola.

Toda aleivosia promovida através da máquina da tirania e do monopólio propagandístico do regime que tudo controla, sem limites nem distinção do privado e do particular com público, vai gorar perante as forças da razão e da soberania popular. O povo é senhor do seu destino, é quem detém o martelo que anunciará a sentença e a decisão final em 2022. O povo não prescindirá, nem abrirá mão da sua oportunidade de expulsar do seu caminho a ditadura e a tirania abjeta!

Crescidos e pequeninos, mais velhos e crianças ou jovens, mulheres e homens, fardados e civis, é por de mais evidente não existir nesse universo quem não saiba o que está em cima da mesa. Naturalmente que é o grito que vem das profundezas do coração de cada angolano. Todos sabem qual a escolha que são chamados, individualmente, a fazer. Sabem que não há tempo a perder, pois, o imperativo é sair do corredor da morte, agora e já.

Em síntese, perante o povo angolano está:

Escolher entre a ditadura e a democracia; entre o domínio possessivo, desleal e egoísta e a decência da tolerância política e do desapego altruísta do poder; continuar com um governo que é um inimigo atroz do povo, que oprime, persegue e assassina os filhos do povo, um governo ilegítimo e execrável, ou, investir um governo que respeita e promove as liberdades individuais e coletivas dos cidadãos; investir um governo que garante comida, pão e água na mesa, ou, continuar com um governo que mata o povo à fome e sede; investir um governo que assegura o acesso à hospitais com capacidade de responder a demanda de cuidados de saúde, que garante o acesso à médicos, que garante o acesso a medicamentos, ou, deixar-se oprimir por um governo abjeto e continuar a morrer por sonegação de direitos sociais tão básicos e elementares enquanto assiste-se a construção de mais cemitérios onde deviam erguer-se hospitais; investir um governo que constrói escolas, que proporciona um ensino condigno, ou, onde houver uma escola continuar a assentar-se sobre latas, sem latrinas e retretes, com fome e sem condições nenhumas; investir um governo que constrói e protege infraestruturas de fornecimento de luz/eletricidade e água potável às casas, fomenta o desenvolvimento de redes de transportes e telecomunicações funcionais e seguras, ou, continuar privado desses bens essenciais para uma vida com qualidade; investir um governo que aposta seriamente na, que fomenta a criação de postos de trabalho e combate o desemprego, que apoia carenciados e desempregados em ordem o reforço da  paz pública e paz social, que garante a ordem pública e assegure condições para proteção policial efetiva dos cidadãos, ou, continuarmos sendo a presa fácil das arbitrariedades da polícia que, esperamos, esteja e se coloque do lado do povo, principalmente, no dia da libertação do jugo de João Lourenço, do MPLA – dia da nova independência de Angola; investir um governo que tolera manifestações públicas em massa, protestos de exigência a um governo eleito democraticamente, reclamando melhoria das condições de vida, ou, continuar amordaçado e empedernido por medo de batalhões de milícias assassinas a soldo do governo ilegítimo de João Lourenço e do MPLA. Perante as escolhas a fazer em 2022, cerrar fogo e cruzar canhões contra a integridade e coesão do maior partido da oposição tem sistematicamente se revelado um esforço ingrato por força das opções que se encontram perante os olhos e os ouvidos dos angolanos de Cabinda ao Cunene. É um imperativo nacional e patriótico; não podia nem pode ser diferente! O tempo é de ação. O dia é agora em que povo e o seu braço político, a sua voz mandatada e autorizada – a oposição - caminharão juntos e de mãos dadas. O futuro é hoje e agora, portanto e ninguém jamais quebrará a corrente da verdade e da justiça; há que avançar com convicção cristalizada e nunca hesitar. Há que avançar até a derrota final e extinção total e inevitável do projeto de cubanizar Angola!

Viva Angola, viva a soberania do povo angolano!

Por Bráulio Sousa Monteiro

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