Hoje, em declarações à Lusa, Manuel Bissopo recordou o ataque de 21 de outubro, quando o exército entrou na base da Renamo, em Sadjundjira, na província de Sofala, centro do país, num ataque, que, disse, apanhou de surpresa o líder do partido, Afonso Dhlakama.
"Não esperávamos. De véspera, tínhamos visto movimentações e a colocação de vários tipos de tropas na redondezas e os nossos movimentos ficaram mais limitados", recordou, hoje, Bissopo, falando à Lusa na sede nacional da Renamo, em Maputo.
"Mas só quando, no dia seguinte, os roquetes começaram a chover no quintal do presidente Afonso Dhlakama é que abandonámos a nossa sede e o presidente Dhlakama deixou lá tudo", disse.
No ataque morreu o dirigente do partido e deputado Armindo Milaco, vítima, segundo Bissopo, de fragmentos de projéteis de grande calibre, "usados no bombardeamento à residência" do líder do partido.
"Ele foi assistido pela guarda do presidente (Afonso Dhlakama) mas, quatro horas depois, sucumbiu" aos ferimentos.
Bissopo diz ter passado três semanas em fuga com Dhlakama e a sua guarda presidencial até que, há uma semana, regressou a Maputo, por ordens do líder do partido, "para anunciar ao povo moçambicano que ele se encontra bem e que, em breve, fará uma comunicação a todo o país.
Renamo "não quer guerra e deseja retomar negociações com governo moçambicano"
O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, disse hoje que o maior partido da oposição em Moçambique "não deseja a guerra" e manifestou-se disponível para retomar o diálogo com o governo, mas com mediadores nacionais e estrangeiros.
O governo de Moçambique já manifestou disponibilidade para acolher mediadores nacionais nas reuniões, que se iniciaram em maio, e que não produziram ainda qualquer resultado, mas opõe-se à presença de estrangeiros.
"Porque as Nações Unidas, a Comunidade de Desenvolvimento de África Austral, a União Europeia, que são promotores de grandes investimentos no nosso país não podem intervir como intervieram no Zimbabué, Malaui, Grandes Lagos e outros países da região?", contrapôs, hoje, Bissopo.
"A Renamo e seu Presidente não quer a guerra e dentro de alguns dias o Presidente voltará a falar ao país e ao mundo através dos vossos serviços de imprensa porque ele não é pessoa que pode ficar muito tempo sem falar convosco", disse.
"Se a Frelimo não quer negociar seriamente que nos diga para toda gente saber", acrescentou, em conferência de imprensa, o secretário-geral da Renamo, que, após três semanas em fuga ao exército, em resultado do assalto de 21 de outubro à base do partido em Sadjundjira, voltou recentemente à capital moçambicana.
"Foi bom a Frelimo ter mandado atacar Sadjundjira porque aquilo constituiu uma grande prova dos argumentos que o meu Presidente dizia que não podia sair de Sadjundjira senão a Frelimo atacaria. Os seus argumentos não eram percebidos, mas o ataque veio a provar", disse Bissopo.
Sobre um muito aguardado encontro de Afonso Dhlakama com o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, o secretário-geral da Renamo condicionou-o à "garantia de segurança por forças estrangeiras", nomeadamente "capacetes azuis", das Nações Unidas, e à desmilitarização da zona da Gorongosa.
Mais tarde, numa entrevista à Lusa, Bissopo acrescentou ainda uma nova exigência para a realização da "reunião de alto nível" entre os dois políticos: a de que produza resultados sobre a lei eleitoral e questões de defesa e segurança.
A Renamo boicotou as eleições municipais da passada quarta-feira, que deram uma espertada vitória à Frelimo, mas também um grande crescimento aos seus dissidentes do MDM .
Mas, para o partido, a única lição do ato eleitoral foi a de que é "imperioso o princípio de paridade" nos órgãos eleitorais.
"Só assim será possível garantir que voto expresso figure no edital de apuramento contrariamente ao que se assistiu nas recentes eleições", concluiu Bissopo.
LUSA