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Sexta, 17 Junho 2022 16:27

Soldado da RDCongo morto na fronteira com Ruanda em vésperas de cimeira da Commonwealth

Um soldado da República Democrática do Congo morreu hoje e dois polícias ruandeses foram feridos numa troca de tiros na fronteira, num contexto de aumento de tensão bilateral e em vésperas de Kigali acolher uma cimeira da Commonwealth.

Um comunicado das Forças de Defesa do Ruanda diz que um soldado da República Democrática do Congo (RDCongo) atravessou a fronteira hoje de manhã num posto fronteiriço em Rubavu, e começou a disparar, ferindo dois polícias ruandeses e civis, antes de ser abatido por um agente da polícia nacional do Ruanda, que agiu em legítima defesa.

Segundo o mesmo comunicado, as autoridades congolesas foram informadas e há oficiais fronteiriços de ambos os países no local, bem como especialistas militares de outros Estados da região.

“A situação na fronteira está agora calma”, pode ler-se na nota, citada pelas agências internacionais.

Um porta-voz do Governo de Kinshasa confirmou à agência Associated Press a existência de “um incidente”, mas não adiantou pormenores.

O corpo do soldado da RDCongo foi transportado de volta para o país e para a cidade de Goma, onde uma multidão acompanhou o carro que o transportava enquanto gritava “herói”.

Estes incidentes ocorreram a dias de Kigali, a cerca de duas horas da fronteira, acolher o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e outros líderes mundiais para a cimeira da Commonwealth, que tem 53 Estados-membros.

A crise entre Kigali e Kinshasa já levou o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, a instar ao destacamento imediato no leste da RDCongo de uma força militar regional recém-criada para manter a paz.

As tensões entre o Ruanda, que tem uma das mais eficazes forças armadas de África, e a RDCongo, um dos maiores e mais problemáticos países do continente, são antigas, mas acentuaram-se nos últimos meses, com Kinshasa a acusar Kigali de apoiar os rebeldes do Movimento 23 de março (M23), desde novembro acusado de realizar ataques contra posições do Exército congolês no Kivu do Norte.

O Ruanda, por seu lado, alega que a RDCongo deu refúgio aos hutus que realizaram o genocídio de 1994 no Ruanda, onde morreram pelo menos 800.000 tutsis e hutus moderados.

Já esta semana o exército da RDCongo acusou o Ruanda de invasão, após o M23 ter tomado na segunda-feira o controlo da localidade de Bunagana, perto da fronteira com o Uganda.

O porta-voz do governador militar da província do Kivu do Norte, general Sylvain Ekenge, proclamou mesmo, perante milhares de manifestantes em Goma, capital regional da RDCongo, que se o Ruanda "quer guerra, terá guerra".

“Ruanda não gosta de nós. Nós não temos medo dele e iremos combatê-lo", declarou o general, citado pela agência Associated Press, acrescentando: "[Ninguém] irá ocupar um único centímetro do nosso território".

Na noite de terça-feira, algumas centenas de pessoas manifestaram-se em Kinshasa, capital da RDCongo, para exigir o rompimento das relações diplomáticas com o Ruanda e pedir ao Presidente, Félix Tshisekedi, que quebrasse o silêncio.

Poucas horas mais tarde, o Governo congolês emitiu um comunicado condenando "a participação das autoridades ruandesas no apoio, financiamento e armamento desta rebelião" e prometendo defender "cada centímetro" do seu território.

Angola tem procurado mediar a tensão entre Ruanda e RDCongo, no âmbito de um mandato atribuído a Luanda pela União Africana na recente cimeira realizada em Malabo.

Em 31 de maio, o Presidente angolano, João Lourenço, abordou com o Presidente Tshisekhedi "questões relativas à crescente tensão" entre a RDCongo e o Ruanda, tendo discutido "vários aspetos que podem contribuir para a resolução pacífica do diferendo entre os dois países".

Na terça-feira, o líder angolano transmitiu ao secretário-geral da ONU, António Guterres, preocupação com a situação na relação entre aqueles dois países, “o que justifica a realização, com urgência, da Cimeira de Luanda, entre o mediador Angola” e os respetivos chefes de Estado.

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